O Ricardo chegara para o workshop no hotel. Por lá circulavam vários homens de terno e gravata e mulheres de vestido e salto alto que o fizeram sentir-se estranho, pois vestia uma camisa social cinza e elegante, calça jeans escura e um sapato social preto. Quanto ao seu cabelo... lambido para trás, mas mesmo assim aqueles homens estavam muito mais elegantes que ele e isso o fez sentir-se alguém sem importância em meio a tantos companheiros de profissão de diferentes países do Mercosul. Caminhou pelo saguão e pegou uma taça de vinho de um garçom que passava servindo aos convidados do evento. Segurou a taça com firmeza em sua mão direita ainda na presença do garçom, aproximou-a de seu nariz para apreciar ao aroma antes de sentir seu sabor através de seu paladar apuradíssimo para vinhos. Fez um gesto com o polegar de sua mão esquerda indicando que o aroma o agradara e então deu um gole.
– Hmm. Saboroso, mas meu paladar não o reconhece. É importado?
– Sí, señor. Este es el vino Narbona Puerto Carmelo Tannat de Uruguay.
– Saboroso. Se realmente é de origem uruguaia, então é bem provável que os próprios organizadores que vivem e trabalham em Montevidéu o tenham selecionado para esta solenidade. O que acha?
– Provable, señor.
– Obrigado por me servir. Tenha uma ótima tarde! – Disse ele ao garçom que logo afastou-se para servir vinho a outros convidados.
O nosso chefe nem imaginava que dentre as pessoas ali presentes, alguns não integravam a nenhuma cúpula de marcado internacional. Além da presença de um ou outro agente federal paraguaio que vestiam-se como os demais ali presentes, parte do grupo de Amado Pereira, El Pelo estava por lá e planejavam passar despercebidos na retirada de outros tipos de entorpecentes daquele local onde em um dos quartos hospedavam-se dois encarregados de produzir aquela droga que inventaram e que acreditavam em seu potencial de vendas. Estavam hospedados ali por conta de algumas presenças do alto escalão do governo que estariam interessados naquela droga.
Alguns garçons passavam para lá e para cá servindo petiscos aos convidados. O Ricardo saiu do saguão e foi para a calçada ascender a um cigarro. Um dos garçons recebeu uma bandeja de um dos capangas de El Pelo e foi instruído a levar para fora e servi-los aos homens de cinza que estavam lá. Na bandeja continha alguns falsos bolinhos que na verdade, por dentro continham sua mais nova droga, o Elemento Z, a droga recém inventada por eles, uma mistura de fragmentos de caule de flores exóticas e alguns pós entorpecentes com uma substância retirada de plantas do pantanal. Aquela droga inovadora seria capaz de causar alucinações, enjoo e sonolência no início de seu consumo até que o organismo do usuário se acostumasse com seus efeitos e pudessem apenas relaxar enquanto durassem. Além dos bolinhos de Elemento Z, havia um no qual haviam recheado com um pequeno chip onde armazenaram informações sobre suas áreas de influência na tríplice fronteira e também longe de lá, como na capital paraguaia e em alguns bairros de Buenos Aires e La Plata, e também informações de onde gostariam de chegar, como a região metropolitana de São Paulo, por exemplo, além de alguns dados relevantes sobre os gigantes do narcotráfico os quais gostariam de deixar para trás. Aqueles bolinhos deveriam seguir para as mãos de El Pelo que em seguida os daria diversos destinos pelas Américas, com exceção do chip, claro. Este ficaria consigo para analisar seus negócios e os dos lobos do narcotráfico.
O garçom dirigiu-se para fora. Perto do Ricardo estavam dois homens vestidos em ternos cinzas. Um deles era paraguaio, alto, forte e careca. Usava um chapéu Panamá simples daqueles que só quem tem estilo usa. O conjunto da obra o fazia lembrar um bailarino do Michael Jackson em Billie Jean. O outro era brasileiro, era bem baixinho e parrudo, tinha cara de caminhoneiro durão e tinha apenas o bigode, mas seu cavanhaque já estava nascendo por todo o queixo e o pescoço. Este ao invés de chapéu, usava óculos escuros.
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Rumo ao Paraguai
HumorUm feriado prolongado era tudo o que precisavam para caírem na estrada tendo como destino outro país. São profissionais de um escritório qualquer. Edu um apaixonado por paçocas e Martín, o Gordão, um admirador de bons pratos. A dupla se une a seus...