Padilha começou a andar no pátio, aproximando-se da casa e fazendo, quando me via, grandes cumprimentos. Afinal chegou ao alpendre e demorou-se um instante. Fingi não perceber esses manejos.
— Emboque, Padilha.
O prazo de um mês que eu tinha marcado para ele retirar-se voara. Padilha entrou, ficou. Deixá-lo. Sempre era uma companhia.
Enquanto eu, carrancudo e cheio de preguiça, olhava as cercas de Bom-Sucesso e pensava nas duas Mendonça, que viviam quase na miséria, Padilha falava. Falava como quem bebeu água de chocalho. Eu não prestava atenção ao que ele dizia. Nada. Sempre era uma voz humana.
Afastou-se logo.
Um dia Azevedo Gondim trouxe boatos de revolução. O sul revoltado, o centro revoltado, o nordeste revoltado.
— É um fim de mundo.
Padilha esfregou as mãos:
— Afinal a postema rebentou, com os diabos!
À noite o chefe político escreveu-me pedindo armas e cabroeira. De madrugada enviei-lhe um caminhão com rifles e homens.
Depois os boatos engrossaram e viraram fatos: batalhões aderindo, regimentos aderindo, colunas organizando-se e deslocando-se rapidamente, bandeiras encarnadas por toda a parte, o governo da república encurralado no Rio.
— Uma invasão de bárbaros! gritava Azevedo Gondim. Estamos perdidos.
Padilha, numa agitação constante, devorava manifestos e roía as unhas. Enfim, quando a onda vermelha inundou o Estado, desapareceu subitamente. João Nogueira elucidou o caso:
— Padilha e padre Silvestre incorporaram-se às tropas revolucionárias e conseguiram galões.
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SÃO BERNARDO GRACILIANO RAMOS
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