8- A verdade nua e crua.

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- Então é verdade. Você voltou mesmo.

Não foi uma pergunta e muito menos o que se passava em minha cabeça. Eu esperava muitos palavrões, xingamentos e acertos de contas.

Não me levem a mau. Eu não estou ficando louca e nem querendo que isso aconteça. É só que é mais do que eu esperava. É totalmente diferente do que eu imaginava.

Quando sai do Rio, não troquei nenhuma só palavra com João. Eu sabia, ele estava com raiva, com ódio de mim. Achou que tivesse perdido metade de sua vida com uma garota egoísta que só pensava em si e no seu sonho idiota.

Ele foi rude, agressivo. Mas não o culpo. Ele só estava ferido, magoado.

Por três anos, me mantive longe de um possível encontro com João. Por três anos fiquei ensaiando o que falaria pra ele caso a gente se esbarra-se. Mas eu tinha medo e nunca me limitei nem sequer a um telefonema.

A vontade de vê -lo era grande, mas o medo de encara-lo era maior.
Eu não me sentia pronta, até agora.

Vê -lo assim tão de perto. Um simples movimento de mão e eu posso toca-lo.
Meu Deus, como ele ainda permanecia tão lindo, tão perfeito.

O que você esperava? Que ele estivesse acabado pelo anos de sofrimento que você o causou?

Não! Claro que não! Nunca quis magoa-lo. Nunca!

Eu só queria que ele fosse feliz. Eu só queria que ele me entendesse. Eu só queria ser feliz.

- Você não achou que eu fosse ficar na Italia pra sempre, achou?

Não foi uma resposta muito inteligente, reconheço isso. Eu deveria ter ficado calada em vez de ficar falando besteira.

Mas ele sorriu. Sim, João Miguel sorriu, isso é bom, não é?

- Meio que parecia que sim. Quase não acreditei quando me disseram que você estaria aqui.

Ai, aquelas palavras mais uma vez, não. " Então é verdade" e "Não acreditei". O que o faz pensar que eu não voltaria mais ao Rio? A forma a qual eu fui embora, será?

Oh João, não me Olha assim. O que ele pretende com esse olhar? Me matar de iluxão? É uma mistura de paixão com ilusão. Nem sei se essa combinação existe. Só sei que me parte o coração vê -lo tão perto e não poder fazer nada.

- Esses anos na Italia te fizeram muito bem.

- Obrigada. Você também parece ótimo.

- É. Tanta coisa mudou depois que você...

João não concluiu a frase, não sei o por que, seu rosto ficou inexpressivo, focado diretamente em meus olhos.
Tão fixados que me senti quase transparente.

- Parece loucura, mas várias vezes pensei ter te visto na rua, mas nunca era você.

Uma corrente elétrica invadiu meu corpo. Passeou por toda sua extensão e se alojou em meu peito. Pois foi exatamente ali onde senti o aperto maior. Onde a dor pareceu insuportável.

João havia confessado uma ilusão que havia acontecido comigo por várias vezes durante meus primeiros meses na Italia. Eu o via em toda parte. Em vários lugares diferente. Em cada canto daquela cidade. Cheguei a pensar que ele teria ido ao meu encontro, mas depois eu achei que estivesse enlouquecendo.

Minha sorte foi ter encontrado Sara, que me ouvia atentamente. Ela levou a conclusão que os motivos de minhas visões era por eu me sentir culpada pelo fim de meu relacionamento com João.

E não era, agora eu sei que não era. Era João pensando em mim. O que fazia com que eu também pensasse nele, então ambos nós víamos ou imaginava que via.

DESENCONTROSOnde histórias criam vida. Descubra agora