DESENCONTROS

32 - Ninguém é santo.

  Eu precisava encerrar, de uma vez por todas, minha história com João Miguel.

  João Miguel foi e sempre será uma parte importante na minha vida. Ele foi meu primeiro amor, com ele vivi momentos inesquecíveis. Amei como jamais imaginei amar alguém. E todo começo tem um fim. E tudo que é bom, acaba.

   Tomamos caminhos diferentes. Por opção minha, não vou negar. Agora, é como se não nos conhecêssemos mais. Dois estranhos buscando qualquer semelhança de nós antigos, que possamos nos agarrar. Desesperados por aquelas pessoas que, talvez, nem existem mas.

   Eu mudei. João Miguel também mudou. Fomos felizes, mas hoje a decepção é visível. Ele me magoou e eu o decepcionei, e mesmo que eu reconheça isso, não me sinto menos raivosa. Vê-lo me fez perceber o quanto eu ainda estou zangada com ele. O quanto tudo aquilo que ouvi, no ateliê, ainda dilacerava meu coração.

   Pensei que Vincent tivesse sarado- o, mas ele só havia feito apenas um curativo o qual João Miguel puxou sem dó e piedade.

- Você não atendeu as minhas ligações. Não respondeu a nenhuma das minhas mensagens e, ao chegar aqui descubro que você também barrou minha entrada no hotel.

- Pensei que fosse ficar óbvio pra você.

- Eu só quero que você me escute. Me deixe explicar  o que aconteceu.

- Não, João!  Eu vou te explicar o que aconteceu. Você queria uma noite. Uma vingança ou sei lá o quê!

- Acha que queria me vingar de você!? - pude notar o horror em seus olhos.

- Você conseguiu. Afinal, você consegue tudo! Então voltou correndo pra sua namorada perfeita como se nada tivesse acontecido.

- Não foi bem assim! Não foi eu quem saiu correndo do meu apartamento antes do amanhecer. Eu esperava encontra-la ao meu lado…

- Pra poder ter o prazer de me chutar pessoalmente!?

- Eu nunca faria isso com você!

- Será mesmo? Por que parece que foi isso que você fez!

  João me olhou ofendido. O queixo drincado indicava insatisfação. Andou ao meu redor como se buscasse paciência.

- Você está distorcendo as coisas, por que foi você que foi embora! Simplesmente me deu as costas como se nada importasse pra você! Como se eu fosse algo insignificante na sua vida! Como se tudo que a gente viveu e sonhou fosse um nada! Então não me acuse de ter ido embora por que quem desistiu de tudo aqui, foi você!

  Eu sabia de que ele estava falando. Não era do agora e isso me magoou. Preferi deixar toda aquela discussão de lado. Eu não iria discutir com João uma coisa sem solução.

- Vai embora!

- É só isso que você sabe fazer, Millah, me mandar ir embora. - Senti sua mágoa como se fosse a minha. - O que eu fiz pra você?

- Nada. - Minha voz saiu engasgada.

- Então por que me deixou? Por que desistiu de nós? 

  Encarei ele.

- É sobre isso mesmo que você quer falar? Sobre três anos atrás?

- Sim, Millah. Acho que já está na hora de você tirar as vendas dos meus olhos.

- Nunca te deixei as cegas. Você sabia que meu sonho era trabalhar na Lá Moda. Sempre soube que eu faria de tudo para realizá-lo.
 
Ele confirmava com a cabeça, lentamente, enquanto me olhava com fúria.