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A infância de Diego Muniz não foi nada fácil. Bem, pelo menos, não o que ele lembra dela. Abandonado pelo próprio pai em um orfanato após a morte de sua mãe, o garoto de olhos verdes e assustados só voltou a conhecer o amor familiar quando foi...
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Desde que eu nasci o mundo vem me provando que não existem certezas na vida. Nada é certo, na verdade. A única certeza é a incerteza do amanhã. Sua vida pode estar do jeito que você a planejou e de repente, não mais do que de repente, tudo o que você acredita desmorona bem na sua frente como um castelo de cartas de baralho. Difícil para caralho de construir, fácil para caralho de derrubar.
É assim que eu me sinto quando estou perto dessa mulher. É como se ela tivesse qualquer coisa que me segurasse em volta de seu dedo, e ela nem faz esforço para isso. Ela simplesmente existe e isso já é o suficiente para foder com a minha cabeça.
- Então quer dizer que você levou essa garota para morar com você? - meu pai se inclina para frente, apoiando os dois braços no joelho, exatamente como eu estou. Ele sempre fez isso quando queria ficar na mesma posição que eu. Ele nunca falou comigo de pé se eu estivesse sentado; era como um código, que me fazia sempre ver que estávamos em pé de igualdade. Ele sempre deixou bem claro que não era superior á mim.
- Ela e a irmãzinha dela, na verdade. - passo as duas mãos pelo rosto, confuso. - Eu sei como é ser criança e ficar vendo as merdas acontecerem na sua frente. Não desejo isso pra ninguém.
- Você acha que foi uma decisão correta, Nick? - ele me pergunta e vai até o pequeno bar em sua sala. Era sempre assim: eu me envolvia em alguma coisa e corria pra casa dele pedir ajuda.
- O que eu poderia fazer pai? Deixá-las lá? E se ele voltasse? - eu olho para ele em súplica, como se pedisse sua aprovação. Como ele sempre me entendia, ele apenas sorriu e me estendeu um copo de uísque.
- Claro que não, filho. Você fez o que era certo. Eu não te criei para negligenciar quem você pode ajudar. - ele se senta ao meu lado e ficamos alguns minutos sem falar nada, apenas com o silêncio como companheiro.
Na maioria das vezes, era sempre assim. Eu só precisava estar ao lado dele e sentir a confiança que ele sempre me passava. Meu pai é silencioso, bondoso e inteligente como uma águia. É um amontoado de músculos e tatuagens que pode muito bem assustar qualquer um, mas dentro dele bate um coração mole e cheio de caridade. Nós somos tão parecidos - mesmo fisicamente - que até eu me surpreendo quando lembro que não temos o mesmo sangue.
Ele me ensinou a sobreviver em um mundo que não era meu. Ensinou o modo que eu deveria agir para me adaptar ás circunstâncias contrárias e prosperar no esporte que eu escolhi seguir. Por causa dele, eu fiquei mais esperto, mais forte, mas também mais desconfiado. Aprendi a ser tudo o que ele era, multiplicado por mil.
- Você gosta dela? - meu pai pergunta como quem não quer nada.
- Como assim, "gosto dela" pai? - eu olho para ele sem entender.
- Gostar Nick, gostar gostando... Você gosta da garota?
Eu me irrito de repente.
- Claro que não pai... - levanto e ando pela sala - Quer dizer, eu a ajudei por que querendo ou não, eu sou seu empregador. Não poderia deixá-la por aí correndo riscos.
