- Pai? – eu dou dois toques na porta do escritório e meu pai para o que está fazendo. Deposita o livro na mesa de madeira e abaixa os óculos, para olhar direto em meus olhos. Ele está com um pijama cinza e eu não consigo evitar sorrir. Nossos gostos são tão parecidos que chega a ser assustador. – Te atrapalho?
- Claro que não – ele sorri mas logo sua expressão muda – O que você está fazendo aqui em casa tão tarde? Está tudo bem? – a preocupação genuína toca em seus olhos. Ela sempre esteve lá, em todos os momentos que eu precisei. Chris Hard me defendeu do mundo, mas também me criou para ele. Nem que eu viva cem malditos anos eu serei capaz de agradecer o suficiente.
- Eu vim te pedir uma coisa – me sento na cadeira a frente dele e me ajeito, meio incomodado. Eu sei que o que vou pedir para ele não é fácil, mas acho que já está na hora e é meu direito.
- Claro filho, pode falar.
Eu penso alguns segundos, então levanto o rosto e olho em seus olhos. Apenas algumas palavras e eu terei nas mãos o que vai me fazer decidir o restante da minha vida.
- Eu preciso dos papéis da minha adoção. – eu tomo coragem e completo – Tudo pai. Tudo o que veio comigo naquele dia. Eu sei que você guarda aqui.
Meu pai pensa alguns segundos.
- Por que você quer isso?
- Por que eu preciso saber se respostas são importantes ou não. – quando meu pai faz cara de quem realmente não entendeu nenhuma palavra do que falei, eu continuo explicando – A Tia Vera disse que meu pai verdadeiro entrou em contato com o orfanato... E pai, algumas coisas são muito confusas para mim nessa história toda. Eu não tenho memórias dele, entende? Só da minha mãe... e é muito confuso ele ter sumido e reaparecido assim, depois de 20 anos.
Meu pai descansa o dedo indicador na boca e roda em sua cadeira de couro, hesitante.
- Você quer que eu te entregue isso sem falar nada ou você quer saber o que eu acho?
- Eu sempre quero saber o que você acha, pai. Que pergunta. – eu suspiro, esgotado.
Ele apenas balança a cabeça.
- Pois bem, eu acho que você deve se manter longe desse homem, Nick. Eu sei que você já é um adulto... Você tem 27 anos. Ele já não pode te machucar mais. Mas memórias meu filho... são como feridas recém abertas: quanto mais você mexer, mais vai doer.
- Eu quero me livrar disso que eu venho guardando há tanto tempo... É a única coisa que falta para eu seguir em frente. Eu preciso me separar dele para enfim ser eu mesmo, pai.
Ele pensa por um tempo, mas logo suspira e concorda.
- Se é o que você quer... Mas tem uma condição: enquanto você ler os papéis, eu vou ficar aqui no escritório com você tudo bem? Eu acho que você vai ter algumas perguntas no fim.
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Hard I REPOSTAGEM I
Chick-Lit*** A infância de Diego Muniz não foi nada fácil. Bem, pelo menos, não o que ele lembra dela. Abandonado pelo próprio pai em um orfanato após a morte de sua mãe, o garoto de olhos verdes e assustados só voltou a conhecer o amor familiar quando foi...