Entro assoviando alegremente uma música que tocava no carro. A danada grudou igual chiclete na minha cabeça e agora não sai mais. Eu havia deixado Nick na casa do pai e vindo embora com seu carro. Como os dois moravam no mesmo condomínio, Nick me garantiu que não teria problemas em vir a pé. Segundo ele, ele estava mesmo precisando de uma caminhada. Quando eu fecho a porta e me viro, sinto todo o sangue do meu corpo se esvair. No tapete da sala de Nick, Becca assiste animadamente a um filme com ninguém mais ninguém menos do que Hanna.
O que essa maluca estava fazendo com a minha irmã?
- Oi B. - Becca levanta rapidamente e vem em minha direção, toda contente. Hanna olha para trás e me dá um sorrisinho irônico, carregado de maldade.
Exalando lentamente, eu me inclino para beijar Becca.
-Essa é a Hanna. Ela disse que é amiga do Nick - Becca sorri alegremente e eu não sei como reagir. Eu não posso fazer escândalo na frente dela, por mais que essa seja minha vontade. Aliás, na minha lista de vontades que envolvem a tal Hanna, esfregar sua cara no asfalto quente é a primeira opção.
- Eu conheço a Hanna, Becca. Agora vai para o seu quarto, eu preciso falar com ela. - olho em direção a Hanna, que ainda sorri. A cara de pau dessa mulher é algo sem igual.
- Mas o filme ainda tá na metade, B. - Becca reclama.
- Becca, me obedece. Depois eu termino de assistir com você.
Ela bufa, mas concorda. Becca nunca me desobedecia. Ela se vira e dá a volta no sofá, em seguida dá um beijo em Hanna - Eu já volto Hanna.
- Tudo bem gatinha - Hanna retribui o beijo e Becca enfim some pelas escadas, totalmente feliz e alheia a situação. A inocência dela era algo alarmante. Observo-a subir, e quando ela finalmente vira no corredor, eu me volto com raiva para Hanna.
- O que porra você está fazendo aqui? - eu cruzo os meus braços e a enfrento de frente.
- Achei que fosse óbvio, miss fisioterapia. Estava assistindo um filme - ela dá de ombros.
- Não se faz de sonsa, Hanna. - eu aperto os olhos e ela ri, totalmente irônica.
- Eu estava esperando o Nick. Você que eu não estaria esperando né? - ela revira os olhos - Ai a sua irmãzinha resolveu me fazer companhia. Aliás, ela é uma gracinha. É tão linda quanto você.
- Quem deixou você entrar aqui?
- Eu não preciso que ninguém me deixe entrar, Blair. - meu nome sai amargo em sua boca - Eu tenho a chave da casa, assim como você. É comum as vadias do Nick terem uma cópia.
Eu não sei se rio ou se choro.
- Você tem algum problema, não tem não? - eu resolvo devolver na ironia. - O modo como ele te tratou naquela festa. O modo como ele atende seus telefonemas... Você não se cansa? Cadê seu amor próprio?
E de repente, quando eu acho que ela não pode ser mais maluca, ela começa a gargalhar.
- O que? Você acha que com você será diferente? - ela se aproxima um pouco mais de mim - Acorda, suburbana! Quando ele se cansar, com alguma sorte você será como eu... mais um brinquedinho de foda de Nick Hard. E a essa altura você já estará tão dependente dele, que vai aceitar tudo o que ele faz como eu aceito. É esse o efeito Nick Hard, acostume-se.
Por um momento, eu sinto meu mundo rodar. E se ela tivesse razão? E se eu fosse apenas o brinquedinho novo? Eu fecho meus olhos brevemente e então a resposta vem tão rápida quanto um foguete. Não, eu não sou apenas isso para ele. Ele pode não me amar, mas jamais me vê apenas como sexo. Tudo o que Nick Hard vem fazendo por mim até agora jamais seria feito se eu fosse apenas uma foda garantida. Ele me tirou do perigo, acolheu a mim e minha irmã, me deu um emprego, está tentando salvar meu irmão.
Ele já fez mais por mim do que qualquer outra pessoa nessa terra.
Essa vadia só está blefando para tentar me assustar. A única pergunta é: eu sou forte suficiente para aguentar essa bagagem emocional? Essa mulher já deixou claro que vai ser um problema para mim e agora é a hora de decidir se vale a pena ou não.
Ergo meus olhos para ela e em seu rosto eu vejo a dúvida. Ela quer saber se me atingiu. Ela quer saber o quanto me atingiu, na verdade.
Se ela quer que seja assim, então assim será. Eu posso jogar com as mesmas armas que ela.
- A diferença é que eu sou um brinquedinho que dirige o carro dele e dorme em sua cama todas as noites, enroscada em seu peito. Ele não me fode e vai embora como faz com você - meu sorriso lentamente se forma enquanto o dela morre rapidamente. Eu nem sei se ele realmente fazia isso, mas eu precisava jogar palavras que a atingissem - Aliás, eu moro aqui - me aproximo um pouco mais, ficando bem perto de seu rosto - Se você é tão boa quanto diz, me tire daqui. Se livre de mim Hanna. Tá tão assustada com a suburbana por quê?
Quando ela não conseguiu responder nada, eu continuei.
- Por que se você tem tanta certeza assim de que ele é seu, você vai ter que me tirar daqui - todo o meu humor havia desaparecido nessa frase e a ironia já não estava mais presente. Aquela era uma verdade que Hanna teria que engolir - Eu não vou me afastar dele só por que você quer.
- Ele ainda me procura. Se você acha que ele está sendo fiel, você está tão enganada... - um sorriso de satisfação toma seus lábios, mas eu não me deixo abalar - Eu sempre vou ser o refúgio dele Blair, sempre - ela fala as ultimas palavras lentamente, de olhos fechados, como se estivesse saboreando cada palavra. Jesus, a mulher é louca de pedra mesmo.
E a principal razão que faz com que eu não me importe com suas palavras, é o fato de eu saber que elas são vazias. Nick não tem procurado ela. Ele passa a maior parte do dia comigo no centro de treinamento e a maior parte da noite em casa comigo e Becca ou às vezes, com seu pai, que mora aqui perto. Eu tenho certeza de que ela está blefando.
- É o que dizem Hanna: o cachorro pode ter ração premium em casa, mas ele sempre vai mexer no lixo - se ela sabe usar palavras vazias, eu também sei. - Só que uma hora ele cansa e vê que não tem nada de bom lá. Nenhum resto mais. Aí ela volta pra casa e pra ração, que é o que sustenta ele. - eu pisco para ela enquanto vejo seu queixo cair.
Em uma coisa a patricinha estava coberta de razão: eu era uma suburbana sim, e isso me deu mais munição do que qualquer outra coisa. Crescer na periferia me ensinou que não se pode acreditar em tudo o que lhe dizem, mas principalmente, crescer na periferia me ensinou que se eu queria muito algo, eu teria que batalhar por isso.
Nada do que ela disser para mim será páreo a resposta que eu terei para ela.
- E se eu te ver perto da minha irmã de novo, eu arranco seus olhos com a minha unha, vagabunda - eu praticamente cuspo as palavras antes de me virar para a escada e começar a subir - Bate a porta quando sair, Hanna. Cansei de discutir com você. Agora eu vou esperar meu homem enquanto tomo um relaxante banho de banheira.
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Hard I REPOSTAGEM I
Chick-Lit*** A infância de Diego Muniz não foi nada fácil. Bem, pelo menos, não o que ele lembra dela. Abandonado pelo próprio pai em um orfanato após a morte de sua mãe, o garoto de olhos verdes e assustados só voltou a conhecer o amor familiar quando foi...