Depois que fizemos amor, ficamos deitados em silêncio por um longo tempo, apenas com o peso das palavras que dissemos um para o outro entre nós. Nossos corpos estão entrelaçados; sua cabeça está apoiada em meu peito e seu calor se espalha sobre mim, me envolvendo por inteiro. Inclino-me de lado e beijo sua testa; ela solta um sorriso tímido, mas absurdamente feliz.
Eu nunca me permiti olhar para ela dessa forma que estou olhando agora, tão calma e aberta. Olhar para ela agora é ter a certeza de que ela faz parte da minha vida de agora em diante, e ninguém vai poder mudar isso. Apesar de ser uma coisa louca, eu posso dizer de forma inequívoca, que mesmo com toda a tristeza que estou sentindo agora, mesmo com todo o sofrimento que passei durante minha vida, estou feliz que o destino tenha me trazido até aqui. A este exato momento.
Estar com ela foi a única forma de eu me sentir em paz. De me sentir em casa. De me sentir inteiro.
- Você quer conversar agora? - ela ergue seu rosto para mim e pergunta com delicadeza. Era palpável que ela não queria me pressionar, apenas saber no que poderia ajudar.
Minha respiração transforma-se em um longo suspiro.
- Eu descobri coisas muito ruins hoje - eu solto, sem saber como começar direito. - Coisas sobre o meu passado. E eu sinceramente não estou conseguindo processar isso dentro de mim, Blair.
Ela se aninha mais - É algo com que eu possa ajudar?
Sorrio. Se existe alguém que pode fazer isso, esse alguém com certeza é ela.
- Você nem imagina o quanto.
- Então me fale - ela se ajeita, ficando sentada ao meu lado. Me ajeito também e abaixo a cabeça, selecionando as palavras.
- Quanto você sabe sobre mim, Blair? - eu questiono e ela nem hesita.
- Como assim? - ela junta as sobrancelhas.
- Sobre minha vida, eu quero dizer. Sou um cara relativamente conhecido. Minha vida é pública.
Ela pensa alguns segundos.
- Apenas o que tem na internet - ela dá de ombros. - Um pouco sobre sua adoção, mas nada além disso. Não há muita coisa lá, você sabe, além das suas conquistas - posso estar enganado, mas essa ultima observação sai um pouco amarga de sua boca, e por mais que não seja o momento, não consigo não me sentir feliz com isso.
Eu jogo minha cabeça para trás e começo.
- Eu fui deixado na porta do orfanato pelo meu pai biológico quando minha mãe faleceu - eu mal começo a falar e sua mão já está sobre a minha - Ela foi assaltada quando voltava do trabalho e levou um tiro. Ele me deixou lá com a promessa que voltaria logo, mas nunca voltou... E eu esperei isso todos os malditos dias da minha vida naquele lugar.
- Ai Nick, eu sinto muito - seu olhar de compaixão encontra o meu e eu balanço a cabeça.
- Isso, de certa forma, eu já havia superado. Claro que era difícil para eu entender que ela havia sido morta e mais difícil ainda eram as perguntas que rondavam minha cabeça sobre ele... Por que ele nunca havia voltado, basicamente. Eu criei teorias de que ele havia morrido, ou perdido a memória, ou sei lá o que...Coisas absurdas para me convencer de que ele ainda me amava. É difícil aceitar que se é descartável, sabe? Naquele dia que você me viu chorar na sacada, eu recebi um telefonema da única pessoa com quem eu mantenho contato no Brasil, a Tia Vera. Era ela quem cuidava de mim no orfanato, e eu amo ela como uma mãe Blair... Ela é... sem palavras, incrível.
- Que bom que você tem alguém assim - ela aperta minha mão e sorri.
- Sim. Mas naquele dia ela me ligou e disse que ele havia entrado em contato com o orfanato, me procurando... Aquilo foi um tiro para mim, Blair. Ele estava vivo. Ele ainda se lembrava de mim. Então por que ele nunca voltou? Nem que fosse para dar uma explicação? Saber que ele estava vivo foi pior do que imaginar que ele havia morrido.
- Talvez ele tenha algum motivo bem forte... Ou... - ela começa a falar, mas eu a corto.
- Eu descobri hoje os motivos dele, Blair. - junto todo o ar que consigo e completo - Ele matou minha mãe.
- Oh meu Deus! - suas mãos voam para sua boca e ela prende a respiração - Não é possível. Você tem certeza disso Nick?
Balanço a cabeça em afirmativo.
- Sim. Ele me deixou lá para tentar fugir, mas foi pego. Ficou preso todos esses anos e agora quer me encontrar - antes que eu sequer perceba, as lágrimas se acumulam novamente em meus olhos e minha voz fica embargada - Eu nunca quero cruzar o caminho desse monstro, Blair. Se um dia isso acontecer, ele vai pagar a vida dela com a dele.
Diante de seu silêncio estarrecido, eu continuo:
- Eu tenho saudade dela, Blair. Não só de tudo o que eu vivi com ela, não só dos carinhos... Eu tenho saudade principalmente do que eu não vivi com ela. Do que eu não pude viver... Eu tenho saudade do que ficou pelo caminho... Ela nunca vai poder te conhecer, nunca vai poder conhecer meus filhos... Nunca nada poderá ser feito por que ele não deixou. Por que ele me tirou a chance. Isso é tão fodido!
- Nick... - ela começa falar, mas para. Acho que sabe que nesse momento, nenhuma palavra irá me consolar. Então ela faz algo que sempre me acalma.
Ela me abraça.
Essa mulher é a porra da minha morfina.
Minhas lágrimas começam a escorrer desordenadamente - Droga, eu não queria chorar. Não mais. Por hoje chega. - eu tento dizer, mas ela puxa meu rosto e me olha dentro dos olhos.Em seguida, beija meu rosto, em cima de cada lágrima e eu fecho os olhos, aproveitando aquilo como se fosse uma cura.
Por que era uma cura.
Era a cura mais poderosa do mundo.
- Nick, é impossível não chorar em uma situação como essa. Aliás, você precisa chorar. Você perdeu coisas insubstituíveis: sua mãe, a sua infância... Tudo isso foi roubado de você da forma mais covarde. Você não é a porra do super homem, então, por favor, chore. Eu vou estar aqui para enxugar todas as suas lágrimas.
E de repente, ouvi-la dizer que estaria lá por mim desencadeou um mar de sensações em mim. Eu a abracei e chorei como nunca havia chorado na vida, enquanto ela ainda falava coisas no meu ouvido.
- Isso, chore. Chore. Agora só o tempo vai te ajudar a superar tudo isso.
Em meio ás lágrimas, eu consigo dizer - Eu quero matá-lo, Blair. A minha maior vontade é tomar um avião em direção ao Brasil e sangrar ele feito um porco, como ele fez com a minha mãe. Ela era perfeita... A pessoa mais pura, mais amável, mais dedicada... Ele tirou todo o meu mundo de mim.
Ela me olha nos olhos e apóia as duas mãos em torno do meu rosto.
- Você não vai fazer isso, Nick. Você vai seguir em frente, por que você teve o que poucas pessoas na vida têm: o direito a uma segunda chance. Não deixa outra pessoa definir quem você é, ou o que você sente. O monstro é ele, não você. - quando eu volto a chorar, ela faz algo que simplesmente me tira o fôlego. Ela me beija novamente e continua a dizer - Não você, meu amor.
Ela me chamou de amor.
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Hard I REPOSTAGEM I
Chick-Lit*** A infância de Diego Muniz não foi nada fácil. Bem, pelo menos, não o que ele lembra dela. Abandonado pelo próprio pai em um orfanato após a morte de sua mãe, o garoto de olhos verdes e assustados só voltou a conhecer o amor familiar quando foi...