Um suspiro suave á minha direita denuncia que Blair está dormindo. Ela se deitou ao meu lado na cama enquanto eu jogava uma partida online de videogame, mas acabou pegando no sono. Estico meus dedos e acaricio suas mechas, tão macias. É uma das poucas chances que tenho de vê-la sem sua guarda armada. Normalmente ela está tão na defensiva, que assim relaxada, sua feição até muda. Observo-a alguns segundos, mas sou tirado dos meus pensamentos com o toque do maldito telefone. Atendo rapidamente, por dois motivos: não quero que Blair acorde e também por causa da pessoa que está me ligando.
- Tia Vera? – eu sussurro e vou em direção as janelas, para que Blair não acorde. Meu português está enferrujado, mas ainda dá pra me comunicar com ela. – Está tudo bem?
Eu acho um pouco estranha sua ligação, afinal, ela havia me ligado ontem à noite antes da festa. Ela me ligava poucas vezes no mês, apenas em ocasiões especiais ou quando estava com muita saudade. Eu sempre paguei suas contas de telefone e algumas outras. Eu jamais me esquecerei que ela foi a mãe que eu não tive durante anos da minha vida.
- Oi meu anjo, estou bem, estou bem. – ela diz com seu habitual jeito simples e para. Seu suspiro ao fundo me faz pensar que talvez seja mentira.
- Bem mesmo? – eu passo a mão pela fronte e suspiro – Tia, se você estiver precisando de alguma coisa... Me fala. Você sabe que não precisa fazer rodeios comigo.
A simples ideia dela passando qualquer necessidade me faz ter arrepios.
- Não é nada disso filho... – ela pensa um pouco e então, depois de uma pequena pausa, ela finalmente diz – Seu pai... seu pai entrou em contato com o orfanato.
Eu paro, sem entender.
- Como assim tia? – dou risada e falo em seguida – Será que ele pensa em adotar outro filho a essa altura do campeonato? O Chris precisa entender que ele não é mais tão novo assim... – eu gargalho, mas ela continua séria do outro lado da linha.
- Meu filho...
- Se bem que eu ia gostar muito de ter um irmão – eu continuo tagarelando, mas ela não me dá espaço para meus devaneios. No fundo, ela sabe que eu estou apenas tentando fugir do óbvio.
- Diego... – ela finalmente me chama pelo meu nome e eu estaco. Depois para por alguns segundos e como se fosse tomada por coragem, diz o que no fundo eu já sei – Seu pai biológico entrou em contato com o orfanato.
E então, eu sinto meu mundo rodar. Apesar de já imaginar, ouvir a frase sair de sua boca me atingiu muito mais forte do que meras suposições.
- Diego?
Eu afasto o telefone do ouvido e vou em direção ás janelas, em buscar de ar. Abro as cortinas e esqueço que Blair está dormindo e praticamente me jogo para a sacada, sentindo o vento fresco tocar meu rosto.
Ele ainda está vivo.
- Diego? Diego, você está ai? – ela aumenta o tom de voz – Fala comigo filho!
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Hard I REPOSTAGEM I
Chick-Lit*** A infância de Diego Muniz não foi nada fácil. Bem, pelo menos, não o que ele lembra dela. Abandonado pelo próprio pai em um orfanato após a morte de sua mãe, o garoto de olhos verdes e assustados só voltou a conhecer o amor familiar quando foi...