Destranco a porta da sala e ao acender a luz, o ambiente se ilumina. Meus olhos deslizam para o andar superior, e jogando minha bolsa de qualquer maneira no sofá, eu subo as escadas praticamente me arrastando. O sentimento de derrota por ter lutado tanto e chegado à lugar algum havia tomado meu corpo de tal forma, que eu apenas queria esquecer que aqueles dias existiram. Eu sinceramente não tenho certeza sobre o que é pior enfrentar: aquela maldita tristeza que Nick carregava nos olhos desde que descobriu a morte da Hanna ou a neutralidade com que ele estava me tratando, completamente distante, o que fazia meu coração ficar pequeno dentro do peito.
Na verdade, meu coração parecia insuficiente para todas as emoções que haviam dentro dele.
Quando eu entro no quarto, ele ainda está como deixamos desde a última vez em que estivemos aqui. As garrafas estão por todos os lados do cômodo, ainda como foi deixado quando saímos às pressas. Com lágrima nos olhos, recolho uma por uma, jogando-as no lixo. Depois retiro toda a roupa de cama com raiva e as levo para a lavandeira. Parecia que tudo tinha o cheiro dela.
O cheiro deles juntos.
Passo as mãos pelos braços em uma tentativa de me esquentar, mas eu sei que na verdade, esse tremor vem de dentro. Sem Nick nesse quarto, está mais frio aqui do que lá fora.
Como se eu estivesse dentro de um filme em câmera lenta, retirei minhas roupas e enchi a banheira com água quente; depois mergulhei o corpo todo na água reconfortante. Em dois dias, essa era a primeira sensação boa que eu estava tendo, mas ainda sim não me fazia sentir muito melhor. Pelo menos, não o tanto que eu esperava.
Encostei minha cabeça na banheira e fechei os olhos, pensando em tudo o que aconteceu nas últimas 48 horas. O nó na minha garganta insistia em não passar e sem lutar mais, eu deixei as lágrimas rolarem novamente. Eu estava sozinha. Estava sozinha e esgotada.
Eu precisava chorar.
Eu jamais desejei a morte dela. Na verdade, quando eu soube que ela estava morta, eu senti um enorme buraco no peito, por que aquilo só provava uma coisa: para ter chegado a tal ponto, ela realmente precisava de ajuda. Eu não gostava dela, eu não sou hipócrita, mas ela era um ser humano. Ser humano algum merece carregar tanto dentro de si a ponto de tomar medidas como ela tomou. Só que a questão é: eu posso não estar sendo justa, mas olhando tudo como aconteceu - e como está ainda acontecendo - eu sinto que Nick escolheu um lado. Foi como se apesar de tudo, a Hanna ainda fosse sua primeira opção. Como se a história que eles tiveram juntos no passado fosse mais importante do que a história que temos agora e pensar nisso está me matando.
A verdade é uma só: essa mulher sempre estaria entre nós, viva ou morta, ela sempre estaria entre nós.
Eu odiava essa indefinição de sentimentos dentro de mim. Eu sabia lidar com a raiva, mas eu não sabia lidar com a mágoa. E nesse momento, os dois sentimentos se encontravam dentro de mim, se misturando, se fundindo... E me deixando doente.
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Hard I REPOSTAGEM I
Literatura Feminina*** A infância de Diego Muniz não foi nada fácil. Bem, pelo menos, não o que ele lembra dela. Abandonado pelo próprio pai em um orfanato após a morte de sua mãe, o garoto de olhos verdes e assustados só voltou a conhecer o amor familiar quando foi...