- Ei, gatinha. - eu me abaixo em direção ao seu ouvido e sussurro - Acorda. Ela apenas se ajeita melhor no sofá, mas não abre os olhos. Agacho-me então, ficando de frente para seu rosto. Os primeiros raios de sol invadem a sala, denunciando que o dia está nascendo. Meu pai foi o último a sair da festa, e enquanto eu conversava com ele, me despedindo, Blair simplesmente deitou no meu sofá e adormeceu. O cabelo dela está uma bagunça, seu pé está totalmente sujo - ela tirou as sandálias no meio da festa e dançou como uma louca - sua maquiagem está borrada e ela está muito cansada.
Mas ainda sim, ela era fodidamente perfeita.
Ela era um mistério para mim. Ás vezes, o olhar triste em seu rosto me pegava de surpresa, fazendo eu me questionar em que momento da vida ela foi realmente quebrada. Não sei se foi quando os pais morreram, ou quando o irmão surtou, ou quando ela teve que dar conta de tudo sozinha como uma adulta, mas eu sei que em algum momento ela foi quebrada.
Assim como eu.
Somos um casal de quebrados, nadando contra toda a má sorte que nos impuseram.
Mas quando ela sorria, porra, eu sentia que o sorriso dela era capaz de iluminar um quarteirão inteiro. Era perturbador á ponto de me querer ser o único capaz de nunca deixar esse sorriso ir embora.
Quando Hanna falou os absurdos que falou para ela, eu soube que eu precisava fazer qualquer coisa. Eu precisava consertar tudo. Mas ai ela mostrou para mim o que vem fazendo desde que ficou sozinha no mundo; Blair é capaz de passar por cima de muita coisa para seguir em frente.
E sozinha.
Nós saímos do banheiro, e ignorando todos os olhares mortais que Hanna nos lançou, ela voltou para a festa. Bebeu, dançou como se não houvesse amanhã, ganhou a simpatia do meu pai, deu bolo na minha boca, fez amizade com os convidados. E nesse momento eu percebi que eu havia ganhado o melhor presente de aniversário.
- Ei, vamos para a cama - eu disse, mas ela não deu nem sinal. Então passei um braço por baixo de suas costas e outro por baixo de sua bunda, levantando-a. Ela apenas gemeu qualquer coisa sem sentido e se aninhou em meu peito, descansando ali. Sua respiração ultrapassava o pano da minha camisa, esquentando minha pele. Sorri com essa visão, por que sinceramente, era linda.
Subi as escadas com cuidado e quando cheguei em meu quarto, a depositei em minha cama. Depois tirei seus brincos e a cobri. Me deitei a seu lado em seguida, e só então ela lentamente abriu os olhos.
- Nick? - ela me chamou, cobrindo os olhos para ofuscar a luz do quarto.
- Oi - eu respondi e sorri para ela - Estou aqui.
Ela se remexeu por vários segundos, então tirou o vestido preto pela cabeça em um esforço incrível. A visão do seu corpo nu me acendeu, mas eu sabia que não deveria fazer nenhum movimento em direção à ela. Ela estava meio bêbada e vulnerável pelo sono, então eu seria um filho da puta se me aproveitasse disso.
Seus olhos lentamente viajaram do meu corpo à meus lábios e ela sorriu fracamente.
- Eu quero uma coisa.
- O que?
- Eu quero dormir com sua camiseta cinza... A que eu usei hoje cedo. - e então seus olhos se fecharam novamente, lutando para resistirem ao sono.
Busquei no banheiro a camiseta que ainda estava jogada em cima da pia, onde ela deixou na hora do banho.
- Aqui - ajudei-a a colocar a camiseta e então ela fez algo que eu não esperava. Ela apoiou a cabeça em meu peito e passou o braço por minha barriga, me abraçando. Eu simplesmente congelei na hora, mas relaxei logo em seguida. Apoiei minha mão em suas costas e beijei sua testa.
- Você é uma incógnita. - eu disse baixinho.
- Estou com sono demais para lembrar o que isso significa - ela sussurrou e eu ri.
-Dorme gatinha.
- Boa noite, Diego - ela respondeu e então, pela primeira vez, esse nome não me pareceu tão ruim.
Quando eu acordei, Blair ainda estava aninhada á mim da mesma forma. Sua respiração estava calma e seu corpo totalmente relaxado junto ao meu. Sua perna estava em cima da minha, transmitindo calor. Reparei por alguns segundos no som que ela fazia ao respirar e sorri.
Era assustador como eu poderia me acostumar com isso.
Porque algo havia mudado na noite passada e eu sabia disso. Havia passado de sexo sem amarras para algo infinitamente maior. Cada movimento nosso, cada palavra, cada toque, cada beijo naquele banheiro nos levou a outro patamar. Nunca ninguém fez eu me sentir assim.
Meus olhos vagueiam de volta para seu rosto e param em sua boca. Eu ainda posso sentir seus lábios em mim, lembrando sem parar de como o sexo com ela é incrível.
Meu celular vibra no criado mudo e eu o alcanço. Dobro a mão em volta dele para que a luz não acorde Blair e então leio a mensagem.
* "Nós precisamos conversar".
Por mais raiva que eu estivesse de Hanna, sim, era uma verdade. Precisávamos conversar e resolver essa questão de uma vez. Ela não poderia mais agir da maneira como agiu na noite passada e eu também precisava fazê-la entender que enquanto Blair estivesse em minha vida, nada aconteceria entre nós de novo.
Antes que eu respondesse qualquer coisa, uma nova mensagem chegou.
* "Eu sei que eu fiz merda. Me perdoe".
* "Você sempre faz merda. Passo ai de noite".
E completo:
* "Não me mande mais mensagens".
Jogo o celular no criado mudo de volta e volto a me aninhar em Blair. Estava cedo demais para acordar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Hard I REPOSTAGEM I
Literatura Feminina*** A infância de Diego Muniz não foi nada fácil. Bem, pelo menos, não o que ele lembra dela. Abandonado pelo próprio pai em um orfanato após a morte de sua mãe, o garoto de olhos verdes e assustados só voltou a conhecer o amor familiar quando foi...