Memórias

29.3K 2.8K 486
                                    


Por mais que eu queira, essa porra é algo que eu não consigo esquecer

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Por mais que eu queira, essa porra é algo que eu não consigo esquecer. Algo que me atormenta todas ás vezes em que coloco a cabeça no travesseiro e tento dormir. Por mais que eu tenha deixado aquela vida para trás, ela não me deixou. Ela ainda sobrevive em minhas memórias, se agarra em meus medos, corrói minha alma. Simplesmente fode com meu raciocínio.

Nick Hard cresceu, mas Diego Muniz nunca deixou de ser uma criança com medo.

Haverá centenas de dias sobre minha vida que eu não vou me lembrar, mas esse, definitivamente é um dia que eu nunca vou me esquecer.

Eu tinha 06 anos quando tudo aconteceu. Passei o dia todo na creche do bairro como de costume. Brinquei com as outras crianças, comi meu lanche, e olha só que ironia: naquele dia, fabricamos os presentes de dia dos pais. Minha mãe me pegava todos os dias pontualmente na saída de seu trabalho. Nós caminhávamos algumas quadras até chegarmos a nossa casa. Uma casa humilde, de madeira, com poucos cômodos. Mas eu era feliz lá. Ainda sinto o cheiro da comida dela, se eu fechar bem os olhos e me concentrar.

Ela tinha um longo cabelo preto e olhos verdes como os meus. Era delicada, doce e muito amorosa. Eu esperava o dia todo pelo momento em que finalmente eu poderia ficar com ela.

Mas certo dia eu esperei e ela não veio. As tias da creche começaram a reclamar por que eu era a única criança que ainda estava lá, e todas elas queriam ir embora. Foi a primeira de muitas vezes em que me senti um estorvo. Quando duas horas depois meu pai finalmente chegou para me buscar no lugar da minha mãe, eu soube que havia algo errado em seu olhar.

E foi assim. Em um dia eu era uma criança feliz e no outro, meu mundo já não existia mais.

Minha mãe havia sido assaltada no ponto de ônibus. Levaram seu pouco dinheiro e sua vida. Eu jamais veria novamente seus olhos verdes. Jamais comeria sua comida novamente. Jamais seria eu mesmo de novo.

Após a morte dela meu pai adoeceu. Ele simplesmente não aceitava que minha mãe não voltaria. Parou de comer, de trabalhar. Não me levava para a escola e só bebia. Até que um dia, ele tomou uma decisão. Com os olhos cheios de lágrimas, me levou até a porta de um lar para crianças em nossa cidade. Fez uma pequena malinha com as escassas coisas que eu possuía e, após me dar um abraço apertado e um beijo na testa, virou as costas e foi embora, mas não sem antes me fazer uma promessa:

- Eu volto viu filho? O pai só precisa de um tempo... Arrumar um emprego... Essas coisas. Mas você é inteligente, vai entender, não vai?. Eu volto. Eu prometo para você que eu volto. Eu te amo.

E eu acreditei. Meu pai jamais mentiria para mim.

Eu acreditei.

E esperei.

Esperei.

Esperei.

Ele jamais voltou.

Hard    I REPOSTAGEM IOnde histórias criam vida. Descubra agora