Capítulo 5 - Fazendeirozinho arrogante. Doutorazinha petulante.

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Os dois permaneceram se olhando, se estudando, como dois adversários num campo de batalha.

- Quando o senhor descobrir onde deixou sua educação, aí o senhor pode voltar e conversaremos. Até lá, faça o favor de se retirar. - disse Inês.

- O que?! - disse Victoriano. - Além de querer me fazer esperar, ainda me bota pra fora da sala como se eu fosse um cachorro?!

- Não. Um cachorro ainda é mais educado que o senhor. Agora saia! - alterou-se Inês.

Do lado de fora, Margarida e os outros escutavam toda a confusão.

- Meu Deus! - disse uma senhora. - Mas de onde essa Doutora saiu!... Falar assim com o senhor Santos. - disse espantada.

- Ela é da cidade! - disse Macarena. - Gente da cidade é assim mesmo.

- Não seria melhor você entrar? - pergunta putra senhora.

- Tá de brincadeira?! - disse Macarena. - Nem morta eu entro aí com esses dois brigando desse jeito!

Dentro da sala o clima estava tenso.

- Logo se vê que não tem um pingo de modos! - disse Inês. - Nunca lhe ensinaram que se deve tirar o chapéu na frente de uma dama?

Victoriano estava tão alterado que havia esquecido desse detalhe ao entrar na sala. Mas ele não ficaria por baixo.

- Bom... Eu tiraria, se houvesse alguma presente.

Inês ficou bufando.

- Nunca lhe ensinaram que uma mulher não deve levantar a voz para um homem? - disse Victoriano com desdém.

- De onde eu venho, mulher nenhuma abaixa a cabeça pra homem. - disse Victória com impafia.

- Quer dizer que o Dr. Contreras saiu de licença pra deixar... Você - disse como se Inês fosse insignificante. - no lugar dele?! Dá pra ver que ele já estava ficando mesmo senil!

- A que se refere?! Acha que não sou capaz de realizar o meu trabalho porque sou mulher?! - disse Inês indignada.

- A Doutora veio de onde? - pergunta Victoriano.

- Pra quê quer saber?

- É assim que vai responder a todos os outros que lhe perguntarem a mesma coisa?

- Vim da capital. - respondeu Inês.

- Ah! Da capital!... Aposto que passou a vida cuidando de cãezinhos e gatinhos cheios de frescura que pertenciam a madames mais frescurentas ainda! - disse Victoriano com um sorriso de deboche.

- O senhor não me conhece e nem o meu trabalho! - disse Inês.

- E nem faço questão! Saí da minha fazenda pra conhecer o novo veterinário da cidade, mas vejo que perdi o meu tempo aqui. Passar bem, Doutora Huerta! - disse ele saindo e batendo a porta.

- Mas que fazendeirozinho arrogante! - disse Inês. - Era só o que faltava!

Victoriano passa por todos como se fosse um vendaval. Entra em sua caminhonete.

- Quem ela pensa que é me tratar daquele jeito?! Doutorazinha petulante!... Não demonstrou nenhum respeito por mim! Onde já se viu?!

***

O expediente terminara cedo. Inês foi para a pensão acompanhada por Margarida. Rosa as recebe.

- Prima! Como vai? - Rosa cumprimenta.

- Tudo bem, Rosinha. Resolvi acompanhar a Doutora até aqui e aproveitar pra tomar aquele cafezinho! - disse Margarida.

- E você Inês? Como foi o seu primeiro dia de trabalho aqui em El Paso?

- Bastante agitado! - disse Inês entregando a galinha para Rosa.

- E essa galinha?!

- Uma senhora me deu em troca de eu ter ajudado o cachorrinho dela.

- Ah, sim. As pessoas fazem muito disso por aqui. - disse Rosa sorrindo. - E então como a quer? Assada, cozida, guisada...?

- Como assim? Está falando de matar a galinha?! Não! Não pode! - disse Inês pegando a galinha de volta.

- Ué? Mas por quê não? - Rosa ficou confusa.

- A senhora que eu ajudei me deu ela em consideração. Disse que era a melhor do seus galinheiro, e que botava muitos ovos. Eu disse que cuidaria bem dela.

- Poedeira de ovos, né?... Tá bom então. - disse Rosa pegando a galinha de volta. - Vou pedir que o Jacinto arrume um galo pra mim. Assim, vou poder até ter uma renda extra vendendo ovos. - disse Rosa sorrindo.

- Ótimo! Obrigada Rosa. Agora eu vou subir e tomar um banho. Se me dão licença. - disse Inês subindo.

Rosa se vira para a prima.

- Muito bem, qual é a fofoca, Margarida?

- Nossa, prima!... Assim você até me ofende! - disse Margarida. - Parece que só venho aqui trazendo fofocas!

- Não se faça de inocente, Margarida. Todos sabem que você adora uma fofoca. - disse Rosa. - Conta logo.

- Tá bom, eu vou te contar.

Enquanto isso, em seu quarto. Inês remexia em sua mala procurando uma roupa até que encontra algo que pensou que já tinha jogado fora faz tempo. Um pingente que Henrique lhe dera há muito tempo. Quando começaram a namorar.

#Flashback Inês on#


- Eu tenho um presente pra você, Inês. - disse Henrique.

- O que é, meu amor? - ela fica curiosa.

- Feche os seus olhos.

Ela fecha e logo em seguida, Henrique pega o pingente e coloca em seu pescoço.

- Pronto. Pode abrir.

- Henrique!... Que lindo! - disse Inês encantada com o presente.

- Esse vai ser o símbolo do nosso amor. Inês, eu te amo.

- E eu a você, Henrique!

Os dois se beijam.


#Flashback Inês off#

- Ah, Henrique!... - suspirou Inês. - Nós tinhamos um amor tão bonito. Um casamento feliz, um futuro.... Por que você teve que estragar tudo? Por quê?... Eu te amava tanto! - disse Inês enxugando algumas lágrimas que caíam.

De volta a cozinha.

Rosa estava de boca aberta.

- Jura que ela fez isso, mesmo?

- Juro prima! - disse Margarida. - Olha, eu não sei de onde essa doutora saiu, mas ela foi capaz de desafiar Victoriano Santos!

- Sem dúvida, a Inês é uma mulher diferente das outras com quem o senhor Santos está acostumado a lidar. - disse Rosa.

***

Na fazenda Santos.

Victoriano chegou "com um quente e dois fervendo".

- Boa tarde, patrão. - cumprimentou Benito.

- O dia não começou bem, Benito. Por que acha que a tarde vai ser melhor? - responde Victoriano secamente.

- A Consuelo me disse que o senhor foi conhecer o novo veterinário na cidade. Ele é bom mesmo? - pergunta Benito inocentemente.


Lembrar do seu embate com Inês tirava Victoriano do sério.

- Primeiro, não é um doutor e sim uma doutora. Segundo, se é boa ou não, eu não sei e nem me interessa, eu não vou precisar dos serviços dela. E terceiro, eu não quero falar sobre isso! Será que eu fui claro, Benito? - disse Victoriano em tom autoritário.

- Sim, senhor. - disse Benito abaixando a cabeça em sinal de respeito.

Victoriano entra em casa.

- Credo!... Eu nunca vi o patrão mexido desse jeito!... O que será que aconteceu? - disse Benito.

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