9 - Desmosqueteiro

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A última aula já havia terminado, então fomos para a quadra aberta de esportes do colégio

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A última aula já havia terminado, então fomos para a quadra aberta de esportes do colégio. Quase todos os dias os jogadores do FHS e outros garotos iam depois da aula para lá para jogar futebol. Pedro e eu sempre estávamos nesses jogos. Gabriel ia às vezes e mais "às vezes" ainda participava.

– Não acredito que você só me contou tudo isso agora – falou Pedro balançando a cabeça negativamente.

Ele disse isso em tom de brincadeira, mas eu sabia que no fundo ele estava um pouco chateado.

Nós três éramos conhecidos como "os três mosqueteiros" pela a nossa família. Nós compartilhávamos tudo um com o outro, e essa havia sido a primeira delas em que um de nós foi excluído.

– Desculpa, é que eu nem sabia direito no que ia dar – me defendi, me sentindo culpada. – Estava com medo de falar e desafiar o Universo. De algo der errado pelo simples fato de eu ter dito algo.

– Tudo bem, eu te perdoo – disse com humor e sinceridade.

Se seguiu um silêncio entre nós três, sentados nos degraus empoeirados na arquibancada de cimento.

– Mas então isso era tudo o que tinha na VHS? – perguntou Gabriel voltando ao assunto principal.

– Sim.

– O que você vai fazer agora?

– Não sei – eu disse com sinceridade. – Não imagino quais motivos meu pai teria para esconder a VHS de mim.

– Talvez ele não saiba que ainda tenha alguma coisa a respeito de sua mãe. Vocês moram naquela casa desde que sua mãe morreu... Thomas pode não ter mexido mais naquelas caixas desde então.

– Então por que ele trancou o porão? – Gabriel interrompeu.

– Pensei a mesma coisa – concordei ao mesmo tempo em que calçava minha chuteira esquerda. – Vocês tinham de ver meu pai naquele vídeo – disse começando a puxar os cadarços com força. – Era outra pessoa. Ele parecia tão mais feliz. Se comparar com agora, dá para dizer que ele... – não tive coragem de completar a frase.

– Está triste? – Pedro disse, se questionando se aquele era mesmo o complemento certo para a minha frase.

Concordei com a cabeça enquanto calçava a outra chuteira.

Afirmar que meu pai se tornou uma pessoa mais triste depois que minha mãe morreu era a mesma coisa que dizer que ele se tornou uma pessoa mais triste depois que eu nasci. Não queria pensar nisso. Na verdade, eu não queria pensar na simples possibilidade da vida do meu pai ter sido triste por qualquer motivo que seja e eu ter passado anos sem perceber isso. Estava tão focada na minha carreira como atleta que não consegui parar para prestar atenção nos sentimentos do meu próprio pai, que dividia o mesmo teto comigo.

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