– Como foi a aula? – perguntou Gabriel no dia seguinte logo quando chegamos à escola.
– Difícil – eu disse cansada. – Tocar violão é horrível.
– Vai aprender rápido, você vai ver. E espero que ele aprenda rápido também o que você tem para ensinar, ou Pedro vai pegar trauma de futebol. Jonathan está pior do que a mãe na TPM.
Quando Gabriel e eu conversávamos, em vez de ele chamar Fernanda de "minha mãe" ele só a chamava de "mãe", como irmãos geralmente fazem. Era como se ele dissesse "estou tirando o pronome possessivo daqui, porque eu não me importo de dividir minha mãe com você, já que você não tem mais a sua".
– Por mim que morra – Gabriel arregalou os olhos com surpresa. – Não Pedro, e sim Jonathan – expliquei.
A conversa foi interrompida por um aceno de Jéssica para mim.
Já havia virado rotina. Conversávamos muito pela internet, mas na escola só nos cumprimentávamos com acenos.
– Você podia ser amiga dela.
– Como assim?
– Jéssica é tipo o meu sonho de consumo... Já reparou nas coxas dela quando ela usa aquele uniforme de animadora de torcida?
– Não! – disse fazendo uma careta. – E você é meu namorando, esqueceu?
– Veja pelo lado bom, você vai ter um bom motivo para terminar comigo depois – eu soltei uma risada. – Traída pela melhor amiga – Gabriel disse teatralmente. – Melhor motivo que esse não existe. Ah... Lá vem a sua futura-ex-melhor-amiga.
Olhei em direção a Jéssica novamente, e vi que ela realmente estava se aproximando de onde estávamos. Será que ela iria mesmo ter coragem de falar comigo em público? Ela estava começando a se aproximar dos populares malas agora, e falar comigo não era uma das coisas que os populares faziam.
– Oi, Amanda! – cumprimentou e depois se dirigiu a Gabriel. – Posso falar com sua namorada por um segundo?
Eu não sei qual foi o verdadeiro motivo do meu queixo ter se deslocado em direção ao chão: Jéssica ter realmente falado comigo em frente aos seus quase amigos; a cara que Gabriel fez ao ouvir a frase "sua namorada"; ou fato de Jéssica saber que Gabriel tinha uma "namorada" e essa era eu.
Será que Pedro estava espalhando a notícia para nos sacanear? Ele também já sabia de toda a verdade sobre meu trato com Fernando e blábláblá, e que aquele namoro com o irmão dele era uma farsa. Tive de contar a verdade a ele também, pois eu não estava mais aguentando o bombardeamento de apelidos constrangedores para namorados que Pedro fazia. Ele também prometeu guardar segredo sobre as aulas, e eu confiava nele de verdade... Mas esqueci de fazê-lo jurar segredo sobre o meu "namoro".
Droga.
– Tudo bem. Até mais, Tchutchuquinha.
Gabriel dissera que agora que namorávamos, precisávamos de apelidos fofos. Tchutchuquinha não era "fofo" segundo a minha definição, porém deveria ser segundo a definição de Gabriel, porque agora ele só me chamava assim.
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NOVEMBRO
Teen FictionAmanda Horstmann foi expulsa do time de futebol da escola (sua maior paixão) e, entre esse acontecimento, descobre que sua falecida mãe compôs uma música para seu pai quando ainda era viva. Motivada por essa descoberta, decide aprender a tocar a mús...