39 - Açude

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Quando finalmente chegamos ao açude, a filha de Clarice saltou de seu colo e foi correndo em direção à água

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Quando finalmente chegamos ao açude, a filha de Clarice saltou de seu colo e foi correndo em direção à água. Fiquei olhando para ela e depois dei uma boa olhada no lugar em geral.

Ali havia o açude, graminhas na beira da água (que como geógrafa eu deveria saber o nome), árvores bem altas, e em uma parte que não tinha grama (ou algo que parecia grama e ocupava quase todo aquele lugar), tinham duas balizas improvisadas, provavelmente feita por crianças para jogarem futebol ali.

Olhei para Fernando e ele sorriu para mim ao ver as duas balizas também – até ali o futebol nos perseguia – mas seu sorriso desapareceu quando ele percebeu que ali também tinha cavalos.

Novamente a música do faroeste tocou em minha cabeça.

– Mas que coisa... Linda! – exclamou Fernando tentando parecer um geógrafo amante da natureza.

Logo meu mais novo namorado falso ganhou a confiança da mulher e não demorou muito para que ela começasse a contar que havia se mudado há muitos anos para a Bahia, mas ela não contou os motivos da mudança e nem eu tive coragem de perguntar e ter a possibilidade de ouvir uma grande mentira (ou a verdade mesmo).

Ela não parecia ser uma mulher amargurada, ou com problemas psicológicos, então imaginei que minha abordagem com ela seria tranquila. Quis que Antenor estivesse ali para eu ter a mesma impressão, porém ele não estava. Quando questionei sobre o marido, Clarice me respondeu que ele estava em Salvador, fazendo as compras da semana para a lanchonete deles.

– Filha, vem mais para a beirada! – ela interrompeu a conversa de repente, se aproximando da água para alertar a filha.

– E ele passa o dia inteiro fora? – perguntei, a seguindo. – Traba...? – mas antes que eu pudesse terminar de fazer a minha pergunta, quando cheguei perto da margem da água, escorreguei e caí de bunda me molhando inteira.

Pude ouvir a gargalhada de Fernando se aproximando de mim.

Ótimo. Estava caída num açude no interior da Bahia, há quilômetros da minha casa, sem sinal de telefonia móvel, embaixo de um calor infernal, cheia de cavalos ao meu redor e tendo de ser simpática com a mulher do homem que roubara todas as coisas da minha mãe.

– Ai, meu Deus! Você está bem? – perguntou Clarice.

– Estou – respondi ainda sem tentar me levantar da beira do rio.

Até a filha de Clarice parecia preocupada com a minha queda. Ótimo.

De repente vi a mão de Fernando se estendendo na minha direção para me ajudar a me levantar, enquanto ele ainda gargalhava. Ria tanto que até chorava. O encarei séria, molhada e com dor. Minha baiana interior já estava se identificando com o cenário e estava pronta para começar a rodar, mas eu a contive. Ao invés disso (de rodar a baiana e tudo mais), segurei sua mão e com toda a força que eu tinha, o puxei para baixo, fazendo-o cair ao meu lado.

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