44 - Provas e Jogos

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O colégio do FHS ficava dentro do campus da UFHS, que além de ter centenas de quiosques que vendiam coisas inúteis com preços absurdos, também era dotado de muitas áreas verdes

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O colégio do FHS ficava dentro do campus da UFHS, que além de ter centenas de quiosques que vendiam coisas inúteis com preços absurdos, também era dotado de muitas áreas verdes. Acredito que existia uma classe de funcionários do colégio e da universidade contratados única e exclusivamente para varrer as flores de ipê e outras folhas de outras árvores que caiam no chão, arrancadas de seus galhos pelos ventos gélidos das manhãs cinzas de São Paulo.

Já era primavera, e com ela apareciam várias espécies de pássaros que tiravam néctar das flores que tinham espalhadas pelo Francisco Henrique Sampaio, deixando todo o ambiente mais bonito. Pelas janelas de cada sala de aula, esses pequenos animaizinhos podiam ser vistos trabalhando sem parar durante toda manhã, cantando enquanto os professores cuspiam mais de 875 mil informações por segundo nas nossas cabeças.

Naquela manhã, eu observava pela janela, com a cabeça encostada nas mãos, os tais pássaros trabalhando e cantando enquanto parte da minha turma aguardava a professora de química em silêncio, fazendo com que canto dos animais parecesse ser mais alto do que de fato era, mais inteligível do que na realidade seria.

"Olha lá a Amanda, aquela fod+%$#...". Eu tinha certeza que era isso o que as aves cantavam sobre mim enquanto apontavam para o meu rosto com as suas asinhas estúpidas.

- Bom dia, turma – Carla, a professora de química, disse quanto finalmente entrou na sala. – Desculpem o atraso.

Você já ficou de recuperação de química mesmo depois de estudar durante 85 reencarnações? É a pior sensação do mundo. Não que eu seja do tipo nerd que ama estudar (na verdade eu só me empenhava nos estudos porque tanto o meu antigo clube quanto o time do FHS exigiam que eu tirasse notas acima de 8) ou que nunca tenha pegado recuperação. Na maior parte da minha vida escolar eu sempre participei das recuperações (por conta do lance de sempre ter média 8 nas matérias e coisa e tal), mas se havia um ano pior para quase reprovar em alguma coisa, esse ano era aquele.

Carla tirou o pincel atômico da bolsa e começou a escrever no quadro branco:

Prova de recuperação – Química

24 de outubro de 2011

Sim, outubro havia chegado. O mês tão esperado que marcaria o inicio campeonato interescolar do qual Fernando Amargo participaria sendo um dos atacantes do time do FHS. Campeonato esse que começava exatamente no dia 24 de outubro, na parte da manhã, enquanto eu tinha de ficar ali trancada na sala de aula tendo de fazer prova de química, sem poder sair para ir ver o jogo.

Absurdo.

Quando Carla depositou a folha de questões em cima da minha carteira, tive de me segurar para não amassá-la e jogá-la pela janela para os pássaros lá fora poderem comê-la.

Quando Carla depositou a folha de questões em cima da minha carteira, tive de me segurar para não amassá-la e jogá-la pela janela para os pássaros lá fora poderem comê-la

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- Só pode ser brincadeira – eu disse olhando o papel que Gabriel me entregara com a lista dos horários e dias dos primeiros jogos do campeonato. – Como todos os jogos do FHS estão marcados exatamente nos mesmos dias e horários que eu tenho prova?

- Jonathan.

- Meu Deus ele tem mais de 40 anos. O que inferno ele tem contra mim?

Gabriel deu de ombros, parecendo realmente preocupado.

Aquilo estava longe de ser uma implicância qualquer. Jonathan Amargo só podia ser doente.

- Como foi a prova? – Gabriel perguntou.

Como deixar o clima mais leve, segundo Gabriel Fernandes: pergunte a sua amiga como ela foi na prova de recuperação da matéria que ela tem mais dificuldade.

- Não sei – respondi.

E realmente não sabia nem pouco me importava. Eu não dependia de uma média 8 naquele ano para nada. Estava mais preocupada com o campeonato e com o memorial.

Gabriel balançou a cabeça afirmativamente, sem saber mais o que dizer mais. Ficamos em silêncio por alguns instantes, enquanto eu mexia no meu celular compulsivamente na espera de alguma SMS de Fernando ou Pedro, e Gabriel tirava as migalhas do lanche que caíram em sua camiseta e as jogava na escada em que estávamos sentados, passando o tempo do intervalo.

- Atenção alunos do FHS – os alto-falantes do prédio começaram a ressonar. – Compareçam depois do intervalo ao auditório do colégio para ouvir as palavras do diretor. A presença obrigatória e quem não comparecer receberá falta. Atenção alunos do...

- Mais essa agora? – Gabriel sussurrou enquanto a voz ainda ressonava pelas paredes do prédio.

Como só restavam mais cinco minutos de intervalo, decidimos ir direto para o auditório e ver o que estava acontecendo. Esses avisos nos alto-falantes do colégio nunca anunciavam coisa boa, igualzinho ao plantão da Globo.

Gabriel e eu saímos do pátio rumo ao local intimado. Fomos um dos primeiros a chegar, mas escolhemos sentar em alguma das últimas fileiras, para evitar ficar cara a cara com o diretor enquanto ele falava suas milhões de baboseiras que ninguém queira saber.

Aos poucos, todos os outros alunos do colégio foram chegando e ocupando as cadeiras forradas do auditório. Em poucos minutos o local estava lotado e a cacofonia de conversas paralelas já era insuportável.

Só não era mais insuportável do que a ausência de notícias sobre o primeiro jogo do FHS.

- Bom dia a todos – disse o diretor de repente (eu nem reparei o momento em que ele subiu no palco), fazendo com que todos se calassem e o auditório fosse tomado pelo mais denso silêncio. – Gostaria de dizer algumas palavras a vocês, meus queridos alunos, que durante tanto tempo eu tive o prazer de...

E a sequência do discurso foi um blábláblá formal que eu fiz questão de ignorar, enquanto mexia no celular, como se isso fizesse com que notícias brotassem nele a cada vez que eu desbloqueasse a tela.

- Amanda, você ouviu isso? – Gabriel me cutucou com o cotovelo de repente.

Ergui minha cabeça, tentando entender a expressão incrédula de Gabriel e o burburinho crescente entre os alunos e professores ali presentes.

- O diretor foi demitido – Gabriel complementou e no mesmo instante meu celular vibrou entre as minhas mãos.

Ganhamos o primeiro jogo, Dinha! 4 x 2 para nós XD

E em seguida uma mensagem de Fernando:

A partir de hj, me chame de Garrincha. 4 x 2 pra gnt e 1 gol meu.

 4 x 2 pra gnt e 1 gol meu

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