16 - Vem, ônibus!

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No sábado seguinte ensinei Fernando o caminho que ele teria de fazer todos os dias até a estação de metrô

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No sábado seguinte ensinei Fernando o caminho que ele teria de fazer todos os dias até a estação de metrô. Depois o ensinei como andar dentro das estações e fazer baldeação para o trem. Fernando não achou muito ruim andar no novo metrô da linha verde, só pareceu um pouco confuso com tudo aquilo. Pois é, ele nunca tinha usado o transporte público. Parecia que eu teria de ensinar mais coisas do que apenas futebol àquele garoto.

– Se você se perder, me liga – eu disse certa vez.

Eu não havia contado nada a Gabriel e Pedro sobre eu ter conseguido convencer Fernando sobre as aulas. Ele me fez jurar que eu não contaria para ninguém, então quando as proles da família Fernandes me perguntavam sobre a minha persuasão para com o filho do treinador, a resposta era "não consegui nada" e mais uma história de que eu iria pensar em outra ideia para animar meu pai. Mas confesso que não acreditava que esse segredo fosse durar muito tempo, afinal, nós éramos os três mosqueteiros. Contávamos tudo um para o outro.

Dois dias depois, Fernando Amargo e eu marcamos de ir juntos até o clube que eu escolhi para termos as aulas, para nos cadastrarmos.

Depois das aulas, fizemos todo o nosso caminho até a linha turquesa. Fernando vinha através da linha verde, e eu da vermelha – para que ninguém nos visse juntos e blábláblá. Fiquei surpresa por ele não ter se perdido logo na primeira vez que ele andava sozinho de metrô.

Conversamos poucas coisas até chegarmos à estação São Caetano, mas deu tempo para descobrir que Fernando só tinha Alice de irmã, que estava no último ano do colegial, que repetiu a oitava série (por isso já era maior de idade) e que...

- Não, não sou adotado.

O que me levou a precisar criar outras teorias para o fato de Fernando não chamar Jonathan de pai.

Logo que saímos do trem, fomos para a estação de ônibus (que é a mesma da de trem). Havia pessoas com uniformes de escola e caras cansadas por provavelmente terem acordado tão cedo quanto eu para conseguir chegar a tempo ao colégio.

O ônibus não demorou muito para chegar à estação, o que foi ótimo. Pedi para que Fernando fizesse o sinal, enquanto eu tirava o dinheiro da passagem de dentro da minha. Para a minha surpresa, descobri que Fernando nunca tinha andado de ônibus também, pois não sabia nem dar sinal para o coletivo parar. Ele fazia "vem" com a mão, esperando que o ônibus viesse em sua direção e parasse a sua frente, quando ele deveria apenas esticar o braço e o dedo indicador. Revirei os olhos com impaciência, abaixando a mão de Fernando e fazendo o sinal certo.

Não era um dos modelos com assentos estofados que eu falei para Fernando enquanto ainda estávamos no trem. Era um dos modelos comuns, com assentos duros, janelas sujas, e motor roncador (sem falar que estava lotado).

Quando Fernando viu aquilo, arregalou os olhos em surpresa – ou seria melhor dizer "medo"?

– Eu não vou entrar nisso.

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