24 - Amarga

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Depois da aula, fui para a minha casa, me preparar para ir encontrar com Fernando

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Depois da aula, fui para a minha casa, me preparar para ir encontrar com Fernando. Ou pelo menos tentar.

Não conseguia me imaginar olhando para a cara dele como se ele não tivesse me visto quase nua na noite anterior. Era impossível. Eu ficava mais constrangida ainda em imaginar como ele me olharia depois de ontem.

Eu queria desistir das aulas e evitar mais essa humilhação, mas eu não podia. Eu precisava ter aquelas aulas e tentar fazer meu pai feliz novamente. Eu devia isso para ele e esse pensamento se confirmou quando eu entrei em casa e o encontrei logo de cara.

– Oi, filha – meu pai me olhou por cima de seus óculos.

– Oi, Messi – disse Max sentado ao seu lado no sofá.

– Vai se catar, Maaaax – cantarolei. – Oi pai.

- Mas você não deu um pingo de educação para essa menina mesmo, viu? Valha-me Deus.

Eu e meu pai rimos.

Me aproximei mais dos dois e vi que uma de nossas xícaras velhas estava em cima da mesinha de centro e estava sendo usada como cinzeiro para Max. Ele sempre fumava fora de nossa casa, o que tornava estranho o fato do cinzeiro improvisado estar ali na sala e não em um dos degraus da escada da entrada.

– Faz quarenta dias que você está aqui? – perguntei surpresa observando a grande quantidade de bitucas de cigarros entulhadas na xícara.

– O nome disso é divórcio – disse ele com um tom azedo. – Está acabando comigo.

– Não, o que acaba com você é o cigarro – eu cruzei os braços. – Você vai acabar morrendo, eu já falei.

– Oh! Que ameaçador e terrível é o cigarro! – disse teatralmente e em seguida revirando os olhos. – Detesto essas frases de campanhas contra o tabagismo. Eu já sei que eu vou morrer. Todos nós vamos morrer. Grande novidade... Além do mais, seu bisavô viveu uns cento e tantos anos cheirando tabaco.

Max chegou a conhecer meu bisavô (antes de morrer em uma cama de hospital) e até meus avós paternos (antes de morrerem em um acidente de carro), ao contrário de mim, que na época era apenas um bebê.

– Noventa e dois anos – corrigiu meu pai.

– Está defendendo ele? – perguntei indignada.

– Não. Só estou corrigindo a idade do meu avô.

Suspirei com tédio.

– Eu trocaria essa palavra aqui – Max mudou de assunto, apontando para o computador do meu pai. – Verossímil.

Meu pai passou os dedos sobre seu bigode, enquanto provavelmente lia a frase onde a palavra se encontrava.

Eu detestava aquele bigode e como ele mexia nele. Na verdade, eu não detestava o bigode de meu pai em si, mas todos os bigodes do mundo, mesmo convivendo com aquilo desde que nasci. Sempre pedia para o meu pai tirá-lo, mas ele nunca me dava ouvidos.

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