Surpresa!

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3 ANOS DEPOIS.

Era uma Quinta-feira. Eu saí da Y&R e fui para um bar me encontrar com Suzan e Ruth. Ruth era uma outra amiga da faculdade. Costumávamos ser mais próximas, mas Ruth não era de ter um grupinho de amigos. Ela falava com todo mundo, conhecia todo mundo e namorou praticamente todos os caras da faculdade. Era uma louca de pedra, mas tinha um coração gigante. Era muito tranquila e sempre estava disposta a ajudar. Sempre que podíamos eu e Suzan encontrávamos com ela para bater papo e colocar as novidades em dia.

-Anna, você está tão linda! – disse Ruth me abraçando
-Olha quem fala! – respondi
-Suzan, você então, por favor, está cada vez melhor! – brincou Ruth
-Ruth, você é maravilhosa e tem o dobro da nossa altura, então... - exagerou Suzan
-E aí meninas? Como estão as coisas? – Ruth perguntou empolgada
-Eu estou trabalhando como louca e Brian também... - respondeu Suzan
-Bom, eu também estou trabalhando muito e Thomas, vocês sabem né, trabalho é o sobrenome dele! – brinquei
-Thomas continua assim? – perguntou Ruth
-Continua e piorou! Ele realmente se dedica muito ao trabalho, mas acaba sobrando um tempinho para mim... - pisquei
-Hum... e ele? Continua bom de cama? – Ruth perguntou rindo
-Eu espero que isso ele nunca mude! – respondi dando um gole no vinho
-Wow!!! – Suzan e Ruth falaram juntas o que me fez corar automáticamente
-Quanto tempo estão juntos? – Ruth perguntou
-Amanhã completaremos oito anos juntos! – respondi com orgulho
-Meu Deus! Oito anos é uma vida!!! – disse Ruth
-Nem me fale... - completou Suzan revirando os olhos

Eu sabia que naquela época Suzan e Brian não estavam muito bem, mas eu sempre dizia a ela que se eles se amavam eles tinham que fazer de tudo para dar certo, afinal, eles também estavam juntos por oito anos.

-E vocês vão comemorar Anna? – perguntou Ruth curiosa
-Acho que sim, mas na verdade eu e Thomas não marcamos nada. Depois de oito anos essas comemorações se resumem a filme e pipoca no sofá! – brinquei
-Ai que lindo! Eu bem que queria alguém para comer pipoca... - disse Ruth triste

Ruth começou a nos contar dos seus romances relámpagos e nós rímos muito. Ela era muito engraçada e fazia qualquer decepção amorosa parecer uma comédia.

**

No dia seguinte, eu lembro que Thomas me acordou com flores. Rosas vermelhas, as minhas preferidas. Eu nunca vou esquecer aquela manhã de Sexta-feira. Ele me acordou muito cedo só para me dar as flores, me levar café na cama e me mostrar que tinha reservado um restaurante e um hotel para passarmos a noite.

Eu mal consegui trabalhar naquele dia de tão ansiosa que fiquei e quando cheguei da agencia, já arrumei uma pequena mala para nós dois e esperei ele chegar para colocar no carro.

Ele chegou pontualmente e fomos para o nosso jantar. Foi a primeira vez que ele mencionou a palavra casamento.

-Estamos tanto tempo juntos Anna... - ele disse acariciando as minhas mãos
-Passou rápido! Mas eu sinto como se tivesse conhecido você ontem! Eu ainda sinto calafrios quando você chega em casa do trabalho, fico feliz quando me liga de tarde só para dizer que me ama e fico sorrindo pelos cantos quando me manda mensagem... - confessei
-Eu ainda sinto tudo isso também e é por isso que acho que devemos pensar nos próximos passos...

Quando ele disse isso meu estômago revirou. Era o que eu mais sonhava! Eu nunca falei nada porque não queria parecer uma namorada louca por casamento e grudenta. Eu sempre pedia nas minhas orações que essa vontade partisse dele. E partiu. Eu transbordava de felicidade.

Naquele dia eu fiquei esperando uma aliança, mas ele não deu. Apenas conversamos sobre o assunto, o que me deixou mais feliz do que qualquer outro presente que ele poderia me dar.

Fomos para o hotel. Transamos praticamente a noite toda. Era impressionante como ele não se cansava e era impressionante também como eu sempre tive orgasmos com ele. Durante oito anos, todas as vezes que transamos eu tive um orgasmo. Eu nunca fingi, nunca precisei. Mesmo quando eu não estava com muita vontade eu conseguia gozar. Era incrível o que ele conseguia fazer comigo.

**

Na semana seguinte eu completaría vinte e cinco anos, mas estava desolada porque a Y&R pediu para eu viajar a trabalho no final de semana do meu aniversario.

Eu estava arrasada porque eu nunca passei meu aniversario longe do Thomas. Ele dizia para eu ficar calma que tudo ia se resolver, que era meu trabalho, enfim, ele nunca colocaría a culpa na empresa, afinal, ele era o super funcionario exemplar da BBO. Por isso que já tinha sido promovido a Gerente de Projetos.

Eu fui viajar, mas implorei ao meu chefe para voltar na noite do meu aniversario. Ele concordou e eu voltei para Nova Iorque.

Antes de ir para o apartamento eu passei em uma padaria e comprei um mini bolo. Thomas amava os bolos de lá. Aproveitei para passar no supermercado para comprar umas cervejas e uns petiscos. Nós adorávamos petiscar enquanto conversávamos sobre tudo. Era meu aniversario, mas quem ia ganhar a surpresa era ele!

Durante o caminho recebi o telefonema de Deborah, a mãe de Thomas. Ela me disse coisas lindas e disse que queria logo que nós casássemos e lhe desse netos. Eu só ria porque com vinte e cinco anos eu realmente não pensava em filhos. Fui para casa com os olhos lacrimejados. Deborah sempre conseguia fazer isso comigo.

Meu pais também me ligaram e eu só conseguia rir com minha mãe gritando dizendo que me amava e que era para eu voltar para a California para ficar perto deles.

**

Naquele dia eu subi para o apartamento abarrotada de coisas. Era bolsa, notebook, bolo, cervejas e salgadinhos. Minha mão doía por causa do peso das sacolas, mas eu estava feliz.

Abri a porta devagar, porque eu queria ver a cara de Thomas ao me ver. Ele ainda não tinha me ligado para falar os parabéns, mas até aí eu jamais desconfiaría que algo de errado estava acontecendo.

Quando abri a porta não o vi, mas as luzes estavam acesas. Fui devagar até a cozinha, coloquei as sacolas no chão e vi uma garrafa de vinho na pia. A garrafa estava vazia.

-Estranho... ele nunca bebe sozinho... - falei em voz alta

Tirei o meu casaco e os sapatos. Foi então que eu ouvi vozes. Eu nunca na minha vida vou esquecer aquelas risadas. Nunca vou esquecer o barulho que a cama fazia. E nunca vou esquecer o silêncio que veio de repente.

Meu coração acelerou, sentí uma leve tontura, mas eu não queria acreditar. Talvez fosse a televisão.

-É a televisão... - falei de novo em voz alta

Abri a porta do quarto de uma vez. Lembro que as minhas pernas entortaram e eu quase caí. Lembro que Thomas saiu da cama desesperado e totalmente nú. Lembro que Suzan dizia rápido e ofegante:

-Meu Deus Anna! Anna, por favor, podemos explicar o que aconteceu! – ela dizia tentando se cobrir com o lençol, mas eu já tinha visto que ela também estava nua

Larguei a maçaneta da porta e continuei como uma estátua olhando para os dois. Thomas andava de um lado para o outro enrolado em um dos lençois que compramos na viagem que fizemos para Paris. Eram os lençois que eu tinha colocado para o meu aniversario.

Suzan ainda gritava desesperada e eu em alguns momentos fechava os olhos de tão incomodada que eu estava com aquele falatório sem sentido. Eu não lembro muito bem o que ela dizia. Lembro que diante de mim estavam meu namorado de oito anos e minha melhor amiga de oito anos.

-Anna... - Thomas disse parado na minha frente

Eu o olhei já com os olhos marejados. Por algum motivo eu não conseguia chorar ou gritar.

-Anna, quero conversar, falar o que aconteceu... - ele disse

Olhei para Suzan mais uma vez que chorava desesperadamente. Naquele momento pensei em Brian. Ele não merecia aquilo, eu não merecia aquilo.

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