Psicólogo

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Quando vi no visor que era Brian, estremeci. Eu tinha pena de mim mesma, mas tinha mais pena ainda de Brian. Ele era como Thomas, ou seja, sempre muito amigo, gentil, cavalheiro e fazia tudo por Suzan. Eu estava sofrendo em saber que além de Thomas e Suzan terem destruído a minha vida, destruíram a  vida dele também.

-Alô?
-Anna! Tudo bem?
-Brian! Tudo e você?

Será que ele já sabia o que tinha acontecido? Será que aquela vaca da Suzan disse o que fez? Como eu não sabia, precisava parecer indiferente.

-Não muito.

Pelo jeito que ele respondeu eu já imaginei que sabia.

-Eu não sei o que dizer Brian...
-Anna, podemos nos ver semana que vem? Queria conversar e saber como você está.
-Claro que sim! Eu estou morando em um apart-hotel, perto da 55.
-Quando eu chegar de viagem eu ligo para você e combinamos.
-Soube que está de férias!
-Como soube disso?
-Agora eu trabalho na mesma agencia que você!
-Sério? Poxa Anna que legal! Bom, já temos muito para falar então...
-Espero você me ligar!

Assim que desligamos sentí um alívio na alma em saber que Brian não estava isolado em um canto chorando. Também não era de se esperar que um homem daquele tamanho ficasse choramingando por uma traidora.

Já eu era diferente. Os meus dias estavam cada vez piores e eu só pensava naquele cretino do Thomas. Era impossível apagar oito anos assim, do nada. Era impossível esquece-lo de repente. Eu ainda era apaixonada por ele. Ainda tinha o cheiro dele nas minhas roupas e eu tinha muita coisa que foi presente dele.

Ele sempre gostava de me dar vestidos e saias. Dizia que eu tinha pernas lindas e grossas e que eu ficava linda assim, mas desde que fosse para usar com ele. Ele sempre pedia para eu ir para o trabalho de calça, porque assim os homens não ficariam babando no meu corpo.

Imbecil! Cretino! Idiota! Ele falava tudo isso e ao mesmo tempo transava com a minha melhor amiga quando eu não estava. Lembro que comecei a pensar onde eles se encontravam. Como? Quando? Será que era na hora do almoço? Os meus dias estavam se convertendo em apenas "pensar em Thomas" e eu não podía seguir com isso.

**

Na semana seguinte Brian me ligou conforme o combinado. Eu pedi para ele ir até o meu apartamento, porque eu estava um trapo e não queria nem um pouco sair de casa.

-Oi... - Brian disse quando abri a porta

O semblante dele era triste, mas estava firme e forte como sempre.

-Oi... - falei e o abracei

Comecei a chorar, claro. Eu não era tão forte assim. Ficamos abraçados por um tempo e percebi que ele também chorou, mas discretamente.

-Entra... - falei indicando a sala

Brian entrou em silêncio, sentou no sofá e colocou as mãos na cabeça. Eu o acompanhei e sentei ao lado dele.

-Sinto muito Anna, sinto muito por você. Aqueles...

Ele ia continuar, mas parou. Talvez por respeito. Brian nunca foi de falar palavrão.

-Brian, porque? Porque eles fizeram isso? Porque?

Comecei a chorar de novo.

-Anna, eu já não estava mais com a Suzan...

Ele revelou e eu me espantei.

-Terminamos na semana do seu aniversario, mas soube que o caso deles não era recente...

Eu gelei. Lembrar de tudo aquilo me fazia mal.

-Eu estou muito mais decepcionada do que triste. Uns dias antes Thomas dizia que me amava e até falou em casamento!

Brian me olhou com pena.

-Anna, eu estou tão surpreso e tão decepcionado quanto você! Eu sei que ele falou com você sobre casamento...
-Sabe? Como?
-Ele tinha comprado uma aliança para lhe dar Anna...

Óh meu Deus! Levantei do sofá em um pulo e comecei a chorar ainda mais. Brian se levantou e me abraçou.

-Porque? Porque ele queria casar comigo se estava me traíndo?

Eu gritava.

-Ele disse que amava você e que queria dar os próximos passos, mas que tinha algo que o impedia de fazer logo o pedido, mas nunca tivemos tempo para conversar mais! Você sabe que o Thomas é viciado em trabalho!
-Ele não me amava...
-Ele já amou Anna e muito. Mas agora, depois de tudo isso, eu tenho as minhas dúvidas se ainda amava...
-Eu não tenho nenhuma dúvida! – falei enxugando as lágrimas

Lembro que eu e Brian conversamos muito sobre aqueles dois imbecis e por último falamos sobre o nosso trabalho. Eu expliquei a ele que fiz muitas entrevistas até parar na mesma agencia que ele e que estava feliz em poder trabalhar com alguém de confiança.

-Anna, você sabe que o que precisar estarei por perto, não sabe?. Se precisar conversar, se precisar sair, enfim...
-Obrigada Brian, eu digo o mesmo a você...
-Ah! Eu já ia me esquecendo. Tome...

Brian me deu um cartão.

-Psicólogo? – perguntei
-Ele é ótimo e eu estou fazendo algumas consultas com ele. Vai lhe fazer bem Anna.

Olhei de novo para o cartão. Não seria uma má idéia fazer um tratamento para não enlouquecer de vez.

-Anna, o que você faria se o visse de novo?

Brian perguntou de repente e eu pestanejei antes de responder.

-Não sei.

Fui sincera. Eu realmente não sabia.

-Eu preciso ir. Se cuida! Nos vemos na agencia...

Brian se foi e vê-lo me fez sofrer ainda mais. Tudo ainda me lembrava Thomas. Nós quatro sempre estávamos juntos, para tudo. E para Brian ainda era mais difícil, porque não era apenas uma amizade de oito anos, era uma amizade de infância! Brian, como ninguém conhecia Thomas e pelo jeito estava muito surpreso com que o amigo foi capaz de fazer.

Lembro que Brian disse que Thomas sempre foi muito influenciável e que temia que Suzan fez o que fez para conseguir o que queria. Depois de eu perguntar muito, ele confessou que Suzan disse a ele que, de certa forma, sempre foi apaixonada por Thomas e que sentia inveja de mim.

Lembro que ele disse também que ela confessou que ficou louca quando soube que Thomas tinha comprado uma aliança para mim e foi a partir disso que ela se jogou nos braços dele.

Não sei porque ela confessou tudo isso, talvez para justificar o que não tinha justificativa, mas para mim já não importava mais. Eu estava disposta a começar uma nova vida, sem Thomas, sem Suzan. E foi exatamente o que fiz.

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