10.

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"Everyone knows I'm in over my head!"


Todos


Daniel estava sentado em uma poltrona de madeira real, revestida com veludo vermelho sangue, só usando uma toga branca. Rebecca dançava de roupas íntimas na sua frente, enquanto Ana massageava as suas costas com óleos e cremes. Enquanto a loira lhe sussurrava coisas sensuais, a morena o provocava com o corpo; Daniel estava em êxtase. Bolhas de sabão voavam por todos os lados e uma música conhecida tocava nos modernos aparelhos de som que rodeavam a sala. "You and me, baby, are not but animals, so let's do it like they do in the Discovery Channel!"

Depois de alguns minutos com o mesmo refrão insistente, Daniel percebeu que algo estava errado. Rebecca já não dançava mais, e Ana olhava assustada para ele. O guitarrista viu tudo ao seu redor derreter e, quando pensou que morreria, abriu os olhos e tragou a maior quantidade de ar possível. O seu celular vibrava sem parar no aparador ao lado da cama, tocando a mesma música do sonho.

Sonho. Foi só um sonho, ele pensou, arfando. Tateou às cegas em cima do móvel até conseguir segurar o aparelho entre os dedos.

- Alô – ele resmungou.

- Daniel, ensaio em meia hora aqui em casa – Bruno avisou, animado.

Com certeza o loiro já havia acordado, tomado banho, tomado café, acordado Eduardo e assistido a um pouco de televisão. Ele não precisa trabalhar mesmo, pode se dar ao luxo de acordar cedo em um domingo...

- Uhum – foi a única coisa que ele conseguiu responder.

Daniel ainda enrolou um bom tempo nas cobertas, rolando de um lado para o outro, tentando voltar a dormir. Quando percebeu que não conseguiria mais, jogou longe o edredom com os pés e foi amaldiçoando Bruno até o chuveiro.

O moreno tomou um banho rápido, arrumou-se e comeu torrada com ovos, tudo em menos de 20 minutos. Aliás, qualquer coisa que ele fizesse no espaço ridículo que constituía o seu apartamento seria como se estivesse na velocidade da luz.

Saiu no hall do andar ainda sonolento, observando a porta do apartamento de Ana. Lembrou-se da despedida meio confusa do dia anterior, depois da conversa íntima que tiveram, mas nada que o deixasse constrangido; se tinha de contar aquela história para alguém, que fosse para uma desconhecida que não o julgaria.

Daniel desceu pelo elevador, cumprimentou o porteiro, e foi até o final da rua esperar o ônibus. Seria perfeito se conseguisse pegar um 2A, mas o único disponível naquele horário seria o 22, então Daniel o esperou por dois minutos e subiu no veículo lotado de velhinhas alegres e jovens carrancudos.

Chegou na na rua do apartamento de Bruno e Eduardo e saltou do transporte. Andou por alguns minutos com as mãos nos bolsos e parou em frente a um pequeno prédio de tijolos vermelhos.
Apertou o interfone e a porta se abriu com um estalo.

O guitarrista subiu de escadas – o prédio era tão pequeno que nem elevador tinha – e chegou um tanto quanto esbaforido no apartamento que Bruno chamava de lar e Eduardo chamava de "todo dia tem uma cueca diferente na geladeira".

- Porra, Daniel, que demora! – Bruno exclamou assim que avistou o seu colega de banda. Eduardo estava sentado no sofá, trocando os canais da TV rapidamente, e Fabrízio afinava o baixo distraído. – Cadê a sua guitarra?

- Não quis trazer no ônibus, vou usar o seu violão – Daniel largou a mochila que usava no chão e tirou os tênis. – Por que estamos tendo esse ensaio em um domingo de manhã?

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