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"'Cause every little thing is gonna be alright!"


Todos


Terça-feira amanheceu ensolarada e um pouco gelada. Naquela época do ano, era bem difícil um dia gelado como aqueles, mas nem aquilo animou Rebecca, que se vestia com total apatia. Ela colocou uma calça jeans skinny, botas de cano baixo e uma regata verde militar. Prendeu o cabelo sem qualquer cuidado e não passou maquiagem.

Ela agachou e fez carinho na cabeça de filhote de Napoleão, que ainda estava muito chateado com a dona por tê-lo trancado no banheiro no dia anterior, mas logo ele voltou a sua mágoa para um par de meias velhas, que mordia com total devoção.

Até o meu cachorro me despreza, ela pensou com certa ironia mórbida. Então fritou alguns ovos e comeu com as únicas torradas velhas que tinha no apartamento. Preciso passar no mercado na volta. Ou implorar para que a minha mãe volte logo.

Rebecca colocou ração na cumbuca de Napoleão e saiu de casa, trancando a porta. Só levava uma caneta na bolsa, o suficiente para fazer uma bela prova chutada. Ela desceu até o subsolo, entrou em seu velho Ford K e saiu da garagem. Já na rua, colocou um CD gravado só com músicas do Queen no player e acendeu um cigarro. Cantarolando Radio Gaga, pensou que o seu dia talvez pudesse melhorar. E então os primeiros pingos de chuva começaram a acertar o vidro da frente do carro.

Eu não tenho sorte mesmo...


XXX


Luíza chegou bem cedo à escola, carregando consigo algumas anotações de inglês. Sentou-se sob a sombra de uma árvore comprida e leu alguns parágrafos, mas as informações simplesmente não eram processadas. Sempre que os seus olhos começavam a dançar pelas letras, o pensamento voava até os gélidos olhos azuis de Eduardo, que a fitaram com desprezo no dia anterior.

A morena colocou as anotações de lado e suspirou. Era boa em inglês, fazia aulas desde de pequena, não precisava mais estudar, mas queria se distrair.

Não precisou pensar muito; grossos pingos de chuva começaram a acertar a sua meia-calça fina, e ela teve que sair correndo pelo pátio para poder se abrigar no refeitório. Lá dentro, alguns alunos estudavam, suas cabeças apoiadas nas mãos e os olhares nervosos correndo as várias páginas de seus respectivos resumos.

Luíza encaminhou-se até o caixa e comprou um café grande. Depois, sentou-se na mesa mais afastada, cruzou os braços e deitou-se sobre eles.

Mais uma vez ela sentia água, mas desta vez eram suas próprias lágrimas que molhavam a blusa. Chorou em silêncio por pouco tempo, pois logo sentiu duas mãos acariciarem o seu cabelo. Ela levantou só os olhos e encontrou Rebecca sentada ao seu lado, com cara de acabada e um sorriso cúmplice.

- Vamos sair daqui? - Rebecca perguntou, e Luíza concordou com a cabeça.

As duas enfrentaram juntas alguns metros de chuva e pararam embaixo de um pequeno quiosque no meio do pátio, onde alguns alunos brancos demais costumavam passar os seus intervalos nos dias ensolarados.

Elas se sentaram lado a lado no banco de madeira, e Rebecca segurou a mão de Luíza.

- Por que você está chorando? - ela quis saber, acariciando o pulso da amiga com o dedão.

- Eu terminei com eles - Luíza deu de ombros, não se importando com as lágrimas que escorriam novamente pelo rosto. - Ah, Becca... eu estou cansada de chorar! Eu não sei mais o que fazer, e então você parou de falar comigo, e eu fiquei totalmente perdida...

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