EPÍLOGO

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Dizem por aí que o último ano do Ensino Médio é inesquecível.

Mas para os protagonistas dessa história, inesquecível talvez não seja a palavra mais adequada. Talvez inesquecível não consiga traduzir todas as emoções que os oito jovens viveram durante as duas últimas semanas de suas vidas escolares.

Sentados em uma cadeira de praia, rodeado por suas famílias, eles jogavam baralho e bebiam vinho.

"Aqueles eram bons tempos... na nossa época os jovens eram contestadores, eram cheios de vida!", Fabrízio comentou, bagunçando o cabelo do neto mais velho, que estava emburrado mexendo no celular; ele queria ser jovem, queria encher a cara e fazer o maior número de besteiras possíveis que conseguisse no menor espaço de tempo, mas, ao invés disso, estava preso em uma reunião chata da banda do avô, que havia feito muito sucesso quando eles ainda eram jovens, mas agora, já velhos, a única coisa que eles podiam fazer era relembrar os anos dourados.

Camila, a mais velha das herdeiras, mandou o filho de 15 anos parar de estragar a reunião do avô com os seus dramas pessoais, mas Fabrízio apenas riu e disse que não se importava; ainda se recordava como era ser jovem e de como parecia que iria morrer se perdesse a festa da semana. Pediu a filha que tivesse paciência, mas sabia o quanto era difícil... ele também passou pela fase de adolescente rebelde da própria Camila e teve de aprender, aos 32 anos e no auge da sua carreira, a ser paciente e a educar a filha.

Raquel saiu de dentro da casa de praia com outra garrafa de vinho. Estavam todos nos seus sessenta anos, mas ainda gostavam muito de beber, como era de se esperar. A ruiva se sentou ao lado do marido e fez um carinho de leve em seu cabelo já branco, e Camila observou os pais com certa inveja; estava tendo problemas com o marido e gostaria de saber como o casal havia ultrapassado todos os problemas de uma vida conjunta. O que ela não sabia era que eles haviam passado pelos mesmos problemas, e que durante muitas fases da vida haviam pensado em separação. Mas ali estavam eles, jogando baralho e rindo com os amigos de longa data... a vida os havia ensinado que desistir frente a primeira dificuldade não era o certo a se fazer, e que coisas boas aconteciam a quem sabiam esperar.

Ao lado de Raquel, Luíza segurava no colo a sua primeira neta, filha de sua única filha com Eduardo. Os dois foram o último casal a ter filhos e optaram por uma só, assim como Fabrízio e Raquel. Quando a filha completou um ano, eles começaram a ter problemas. Luíza sentia-se infeliz por nunca ter investido na sua carreira como atriz, já que acabou dedicando a sua vida à Eduardo e à filha. Do outro lado, Eduardo não se sentia mais feliz com a mulher - ela reclamava o tempo todo de como o marido havia estragado os seus planos. Os dois se separaram de maneira tensa, entre brigas e acusações, e optaram pela guarda compartilhada da filha. A The Corleones lançou o terceiro CD da carreira, o de maior sucesso, e Luíza voltou para o teatro. Os dois só foram voltar a conversar quando a turnê do disco acabou e Luíza estreou em sua primeira grande peça. Aquele foi um dos momentos favoritos da vida dos dois; se Luíza fechasse os olhos, podia sentir-se como se sentiu no dia em que os dois voltaram... ela agradecia à plateia em êxtase quando viu Eduardo se levantar no meio da multidão. Com o coração na boca, a morena voltou para o backstage, trocou-se e estava prestes a ir embora, crente de que o ex-marido não estava mais ali, quando Penélope, a filha do casal, exclamou sentada na penteadeira: "mamãe, o papai está aqui com flores vermelhas!" Eles não se largaram mais desde então, e a primeira neta fazia com que todos os problemas que tiverem de superar para estarem juntos tivessem valido a pena.

Impressionantemente, o único casal que não se separou ao longo de todos aquelas anos havia sido Bruno e Rebecca. Os dois namoraram durante oito anos após o show que lançou a The Corleones e, aos 25 anos, Bruno pediu Rebecca em casamento. Todos se surpreenderam, já que eles eram o casal problema da adolescência, e se surpreendiam até hoje por ver o quão sólida era aquela relação, mesmo depois de todos os perrengues; uma filha e dois filhos. Um problema de gravidez na adolescência com a filha mais velha - Raquel e Fabrízio ajudaram muito o casal durante essa época -, um problema com drogas do filho mais novo e muitos anos depois, e a família estava junta e feliz, e a sua neta mais velha, de 13 anos, olhava o neto de Fabrízio e corava.

Daniel segurava a mão de Ana enquanto ria de uma história que Bruno contava. Eles eram o casal com o menor tempo de casamento, já que, além de ser aceita em todas as Universidades públicas brasileiras, Ana foi aceita com bolsa integral em Oxford, logo após perder a virgindade com Daniel, e decidiu ir para a Inglaterra. Eles passaram quase seis anos separados, conversando apenas esporadicamente e encontrando-se nas férias como amigos. Durante todo aquele tempo, o guitarrista namorou modelos e mais modelos, e Ana assistia a tudo de camarote, aprendendo a controlar a sua raiva e a sua mania de perseguição. Quando ela voltou para São Paulo, era uma mulher diferente, muito mais madura e centrada, e pensou que toda a sua história com Daniel estivesse perdida, por isso, nem se manifestou a respeito. Mas, surpreendentemente, a primeira coisa que Daniel fez ao descobrir que a maluca por quem ainda era apaixonado havia voltado foi largar a sua última modelo e ir bater na porta da loira. Anos depois, eles tiveram gêmeos, que agora estavam com suas esposas na festa, um casal com um bebê de colo e o outro com uma menina de 3 anos, que corria para todos os lados com os seus cachinhos loiros ao vento.

Os oito estavam ali, relembrando o último ano do colégio, um ano feliz, cheio de esperanças de uma nova vida, no qual eles, cheios de espinhas e amor para dar, fizeram promessas silenciosas a si mesmos de que finalmente as coisas iriam melhorar. Prometeram estudar para o vestibular - assim como haviam prometido estudar nos anos anteriores - e, por mais ou menos duas semanas, realmente levaram a escola a sério.

Mas então, diferente do esperado, o ano passou como um cometa! As provas começaram e eles perceberam que nada havia mudado. Tudo continuava a mesma merda de sempre: as suas vidas não faziam sentido, eles não haviam descoberto o dilema do "ser ou não ser", ainda não sabiam que carreira queriam seguir, suas caras ainda estavam cheias de espinhas, os amigos pareciam se divertir bem mais do que eles e a frustração foi consequência. Eles começaram a atrair coisas ruins, a trair uns aos outros, a ignorar sentimentos, a fazer mais idiotices do que nunca e, de repente, suas vidas estavam atoladas num lamaçal de mentiras e decepções.

Mas, após as duas semanas mais caóticas de toda as suas vidas, as coisas entraram nos eixos. Eles perseguiram seus sonhos, amadureceram e se tornaram pessoas melhores. Além disso, nunca se esqueceram dos amigos, os mesmos que os traíram na adolescência e com os quais eles haviam passado pelos momentos mais insanos juntos. Porque esses mesmos amigos estavam juntos no mesmo barco da insanidade da adolescência, e eles não podiam simplesmente riscá-los de suas vidas após um erro - ou vários erros seguidos.

Afinal, o Ensino Médio é realmente a época mais conturbada da vida de uma pessoa, e geralmente o que ela faz durante esse tempo?

Enlouquece.

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