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"All we need is love and beer!"


Daniel e Ana



Quarta-feira arrastou-se sem maiores preocupações. Luíza conseguiu o papel de Alice e todos os outros queimaram os poucos neurônios que ainda não haviam morrido com as drogas em suas respectivas provas.

Ao final do dia, eles voltaram para as suas casas e passaram o resto das horas livres estudando/no Facebook/chorando as mágoas no chuveiro/cuidando da filha.

O dia seguinte amanheceu quente e chuvoso, e foi motivo de muitos resmungos para sair da cama. Mas, pelo menos, os nossos protagonistas tinham algo para os alegrar: iriam fazer a penúltima prova como alunos do Ensino Médio de suas vidas!

Daniel acordou com aquela sensação de que tudo estava dando errado em sua vida. Havia conversado com os pais no dia anterior e agora eles já sabiam que ele não tinha mais emprego. "Se você não achar outro emprego em menos de um mês vai voltar para Sorocaba, Daniel!" sua mãe esbravejou. "Você sabe que nós não temos dinheiro! Não podemos bancar um marmanjo como você a essa altura do campeonato! Ou você dá um jeito nisso ou desiste dessa loucura de "música", que não vai te levar a nada!"

Aquelas ameaças o estavam deixando louco de preocupação. Não que voltar para Sorocaba fosse tão ruim assim - ele adorava a cidade e a sua família que morava lá -, mas voltar para uma cidadezinha pacata de interior depois de tanto tempo em meio as loucuras da cidade que nunca dorme não era algo que ele almejava.

Além disso, ele nunca desistiria da música. Era a sua paixão, e dentre todas as outras que ele havia perdido, ele não deixaria essa passar.

Ana acordou ansiosa. Faria a prova da matéria que mais odiava, mas precisava ir bem. História. Maldita história! Por que tão complicada, tão inútil, tão... normal!?

Além disso, ela recebeu mais uma das ligações padrão de seus pais logo pela manhã. Amenidades, perguntas genéricas, desejos de boa sorte, julgamentos subentendidos e tchau. Era sempre assim, e seria sempre assim. Pelo menos enquanto ela não passasse na USP.

Ela se arrumou e ouviu o chuveiro de Daniel ser ligado. Então sentou-se no sofá e fechou os olhos. Ele cantava Blackbird dos Beatles, uma de suas músicas favoritas.

Blackbird singing in the tree all night... Take this broken wings and learn to fly! All your life... You were only waiting for this moment to arive! Blackbird fly... Blackbird fly...

Maldito Daniel Jones!


XXX


Raquel dormiu mais uma vez na casa dos avós. O berço de Camila estava ao lado da sua cama, e ela adormeceu observando a pequena garotinha. Teve sonhos conturbados onde Fabrízio descobria de vários jeitos diferentes sobre a filha, e, em todos eles, ele agia com hostilidade e indiferença. Apesar do frio da madrugada, ela acordou suando com o choro baixinho da bebê.

Depois de alimentá-la, trocá-la e colocá-la de volta no berço, ela foi se arrumar. Ligou para os pais e avisou que estava tudo bem. Sua mãe, feliz pela filha ter finalmente assumido suas funções de mãe, depois de um ano fingindo que nada havia acontecido, conversou muito com Raquel, e a ruiva foi sincera: estava com medo, muito medo, mas não desistiria. A sua mãe também perguntou sobre Fabrízio, e Raquel prometeu que contaria a ele; só não sabia quando.

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