Capítulo 34

14 1 0
                                    

Cheguei a casa e dirigi-me logo para o meu quarto, sem dirigir uma única palavra à minha mãe. Não queria ter que lhe dar qualquer tipo de explicações. Se o meu tio ligar, que ligue. Aí explico o que tenho a explicar, agora não quero nada para além de estar sozinha com o meu filho. Fui brincar um pouco com ele até o sono chegar. Deitei-o no berço e, depois, deitei-me na cama. Precisava de relaxar e de descomprimir do que tinha acontecido há alguns minutos atrás. Ainda não tinha aceite o facto de o Ashton me ter beijado, sabendo de tudo. Mesmo tendo sido por impulso, não me entra na cabeça. Nem sei explicar, precisamente, o que é que isto me parece. Queria, mas não consigo. Parece algo completamente inexplicável. Eu via-o como amigo, até ele me beijar. Parece que aquele ato me confundiu toda. Dá a impressão de que virou o meu mundo de pernas para o ar, mais do que ele já estava. Só quero desaparecer por uns tempos e voltar quando tudo estiver normal, numa altura em que o meu irmão e Luke estiverem em casa, sãos e salvos. Adormeci até que alguém começou a bater à porta do meu quarto num modo frenético, o que me incomodou bastante. Assustei-me, dando um salto na cama.

-Entre.- ordenei num tom sonolento. Espreguicei-me e sentei-me na cama. Esperei que entrassem. Era o meu pai.

-Ora seja muito bem vindo! Quem é vivo sempre aparece!- piquei-o.- Pensei que tinhas dado de frosques depois de tudo o que se passou. Nunca mais ligaste para saber como é que íamos. Que raça de pai, marido e avô és? Porque sim, querendo ou não, ainda continuas casado com a mãe porque nunca morreste.- chamei-o à realidade.- Saíste da minha vida uma vez com uma mentira gravíssima e ias sair a segunda, de mansinho, mais uma vez? Sem dizeres nada nem dares justificações?

-Não te preciso de dar justificações, Eveline.- disse, sentando-se na cadeira que se encontrava em frente da minha secretária.

-Ora aí é que te enganas! Precisas de me dar justificações, e muitas! Primeiro finges que morres, depois vais para a Holanda e metes-te com aquelas duas búlgaras de meia tigela; quando chegas, a mãe é raptada e a lista continua.

-Eu fingi que morri para vos proteger, ou ainda não entendeste isso? Se se apercebessem que eu estava vivo, iam atrás de mim e faziam-me a vida negra. Vocês estariam, como é óbvio, incluídos no cartório e eu não queria isso!

-Mas tu só fizeste pior, ou ainda não entendeste isso, hã? Graças a isso, tive de andar em psicólogos durante anos, durante anos mal pude conviver com pessoas porque tinha medo, tinha receio de que elas me fizessem mal por causa de ti! Tudo isso por tua causa! Eu tive anos de caca! Até aos 12 anos que não vivi sossegada, com medo de tudo. Durante oito anos, a minha vida foi uma porcaria, mesmo com o apoio da mãe e do Keaton. O Keaton também teve de andar em psicólogos. A mãe entrou numa depressão que cheguei a pensar que ela não aguentava mais. E vens agora dizer que foi tudo para o nosso bem? Tens a certeza disso? Sabes pelo que nós passámos depois da tua suposta morte? Depois de tudo isso? Tivemos de refazer as nossas vidas, tivemos de aprender a recomeçar do zero, sem ti. Eu e o Keaton crescemos demasiado rápido para as nossas idades. Fomos a obrigados a isso para que pudéssemos ajudar a mãe. Mesmo com toda a gente nesta casa, mesmo com a ajuda de amigos e família, foi complicado, nos primeiros anos, viver sem ti. Sempre foi! Contudo, aprendemos a viver com a dor e a saudade. Aprendemos a controlá-las. Achas que foi fácil isso tudo? A cada dia que passa, sentíamos cada vez mais a tua saudade. Ainda me lembro do teu funeral! Imensas pessoas marcaram presença. Foi uma cerimónia linda e memorável, até mesmo para a ocasião que era. Ainda me lembro de um senhor entregar a bandeira americana à mãe, de a ver chorar, de ele nos dar as condolências e de me pegar ao colo e abraçar. Chorei no ombro dele. No final, deu um abraço ao Keaton. Ele era um dos teus melhores amigos. Fizeste com que ele pensasse que tinhas morrido. Infelizmente, dez anos depois ele faleceu com cancro. Custou-nos porque ele foi uma das pessoas que mais nos ajudou durante esses anos todos. Quando ele adoeceu, eu e o Keaton, todos os fins de semana, íamos visitá-lo, levando-lhe sempre alguma coisa. Foi das mortes que mais me custou.- desabafei com ele. 

-Por que razão é que pensei que vos ia ajudar com a minha morte?- perguntou.

-Queres mesmo saber? Por mais que te vá magoar, vou ser o mais sincera e transparente possível, independentemente de te magoar ou não, porque tu já nos magoaste...e muito! Bem, tu não pensaste muito em nós. Se tivesses pensado, tinhas acabado com aquela porcaria toda, tinhas voltado para Washington e proteger-nos-ias da melhor maneira que conseguisses! E o que é que fizeste? Puseste-te em primeiro lugar e à primeira oportunidade, deste o fora, fingindo a tua morte. Agora diz-me: onde é que tu pensaste em nós?- falei-lhe, encarando-o nos olhos. Queria ouvir, da sua boca, a justificação que me tinha para dar para isto. Esperei um pouco, mas não obtive qualquer tipo de resposta vinda da parte dele.- Como eu pensava. Podes sair pelo mesmo sítio de onde entraste. Como se costuma dizer, a porta é serventia da casa!

E assim o fez. Saiu sem dizer uma palavra. Ele sabia que eu tinha razão. Puxei os joelhos até ao meu peito, fazendo com que as minhas pernas ficassem dobradas, escondi a cabeça nas pernas e comecei a chorar. A chorar de raiva e de dor. A chorar por tudo e por nada. 

N/A: Well, well, well! O que acharam deste capítulo? Opiniões? Acham que a Eveline tem razão? Keep reading!! :D

War Fighters- Temporada 2Onde histórias criam vida. Descubra agora