Capítulo 35

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Levantei-me da cama e peguei numa fotografia de família. Saí do quarto e fechei a porta. O que ia fazer poderia acordar o Andy. Aproximei-me do corrimão da escada e mandei a moldura com toda a força possível para o andar de baixo, onde o vidro se partiu em mil pedacinhos. Fui até lá abaixo, peguei na fotografia e fui até à cozinha. Aí, peguei num fósforo, acendi-o e queimei a fotografia no lava-loiça.
Respirei fundo assim que a foto ficou toda queimada. Parece que, ao ver aquela foto a ser queimada, algumas das minhas memórias foram com ela. Memórias de uma família que já não vou ter graças ao meu pai. O homem que arruinou isto tudo. Como é que ele julga que eu o vou perdoar? Simplesmente não consigo. É demasiado!

1 hora depois

Alguém tocou à campainha. Fui abrir. Era Ashton. Não queria falar com ele, muito menos vê-lo à minha frente. Ia para fechar a porta, mas pôs o seu pé entre esta e a ombreira, travando a minha ação. Respirei fundo e acabei por deixá-lo entrar. De uma maneira ou de outra, acabaríamos por ter que nos falar. Independentemente da minha vontade ou da sua.

-Espero que seja rápido.- disse num tom um pouco seco enquanto nos dirigíamos para a sala de estar.

-Duvido que seja. Para além de termos muitas coisas para falar, tenho que te dar uma notícia que foi transmitida ao teu tio. Tem a ver com o teu irmão e com o Luke.- respondeu-me, sentando-se no sofá.

-Sou toda ouvidos.- incentivei-o, mostrando todo o meu interesse nessa notícia. Fosse boa ou má, queria saber o que é que se passava com eles.

-Bem, eles foram destacados para outra missão. O teu tio não deu a localização da missão. Coisas dele.

-Mas porquê eles?- questionei confusa.

-Segundo o que foi transmitido ao meu tio, eles são dois dos melhores, logo, foram destacados para esta missão. E só vão voltar daqui a cinco meses. Esta missão é mais pequena.

-Mesmo assim é muito tempo.- desabafei- Espero que não lhes aconteça nada de mal.

-Pois... Desculpa por aquilo do outro dia. Não foi por mal, foi mais por um impulso. Não quis, de forma alguma, deixar-te naquele estado. É que ver-te assim, sem puder fazer nada, fez-me tomar aquela ação descabida.

-Acho que também te devo um pedido de desculpas por ter saído daquela maneira. Não só a ti, como aos teus pais. Fui deveras incorreta, não haja dúvidas, mas, naquele momento, a única coisa que realmente cria era sair dali.

-E o Andy?

-Está lá em cima a dormir, espero eu, porque, antes de chegares, partir uma moldura e queimei uma fotografia. É por isso que paira este cheiro a queimado no ar. E antes que faças alguma pergunta, o culpado é o meu pai. Ele veio cá a casa para se desculpar e, não aguentando mais, disse-lhe algumas verdades. Não me importo se gostou ou não, o que me interessa é qu, finalmente, disse-lhe aquilo que sentia e que pensava sem medos. Se me custou? Claro que sim! Mesmo depois de tudo o que ele fez a esta família, ele continua a ser meu pai!

-Não és a única a guardar rancores do pai. A minha mãe morreu quando eu tinha cinco anos e o meu pai era um alcoólico e, com isso, a proteção de menores mandou-me para adoção. E é aí que os teus tios entram. Nunca mais vi o meu pai. Provavelmente já pode ter morrido com o excesso de álcool. Quando não tinha dinheiro para isso, eu e a minha mãe pagavamos por tabela. Muitas das vezes, ela levava a dobrar para que eu não passasse por isso. Agradeço-lhe imenso isso. Agradeço-lhe o facto de ter sido pai e mãe, apesar de tudo. Ela foi, sem dúvida alguma, o meu maior ídolo em pequeno até que, infelizmente, o cancro levou a dele a melhor e fez com que ela falecesse.

Há sempre coisas que me surpreendem. Eu sabia que ele era adotado, mas nunca imaginei que fossem estas as razões. É o destino.

-Pelo menos, tiveste alguém que se preocupou contigo e te quis adotar. Deram-te uma vida que o teu pai não te podia dar.

-Eu sei...- concordou com uma voz triste que me partiu o coração.

-Vá, vou ver do Andy. Depois, vamos dar uma volta os três. Quero mostrar-te uma coisa.

Minutos depois, já o Andy preparado, saímos de casa, rumo ao nosso jardim. Queria levá-los a um sítio a que o meu irmão me costumava levar sempre que me sentia deslocada do mundo ou algo do género. Era uma casa que, com a ajuda do melhor amigo do nosso pai, aquele senhor que acabou por falacer, foi construída para nós. Por vezes vamos lá para matar saudades. É uma casa na árvore que me é muito especial. Com uma ginástica gigante, conseguimos subir os três.

-Eu e o meu irmão costumávamos vir para aqui nas más alturas. As melhores alturas para aqui estar eram o pôr do sol e quando céu estava estrelado. Nas noites de verão trazíamos almofadas e alguma coisa para nos taparmos. Era usual adormecemos aqui. Até comida, livros e BD trazíamos. Era o nosso cantinho secreto.

-Acho que vou começar a vir para aqui. É um sítio calmo ao pé de um sítio agitado.

-Por isso é que eu gosto tanto dele e, por isso, é que o meu irmão pediu que construíssem aqui.

War Fighters- Temporada 2Onde histórias criam vida. Descubra agora