Segunda, voltei à editora, triunfante, aquele era meu lar, em um prédio simples e velho. O trabalho fluiu naturalmente durante a semana. O assunto R&R quase já não era mencionado, o que me deixava aliviada. O Sr Alcântara era uma pessoa respeitável, tinha uma esposa com quem era casado há vinte anos e dois filhos mais velhos que eu. No primeiro sábado do mês, Felipe foi a minha casa, seus olhos esbanjavam otimismo:
_ E aí. Do que você quer falar?_ ele sorria esperançoso.
Catarina ligeiramente pegou sua jaqueta e disse que precisava ir à padaria. Coisa que ela nunca fazia, mas era uma boa desculpa. O deixei entrar, e este se sentou no sofá. Sentei a sua frente, estranhamente enervada:
_ Bem, aqui estamos_ disse minha voz falhando no final.
Seus olhos eram tão cheios de emoção, que eu me sentia mal só de pensar que iria magoa-lo novamente, mas eu tinha que ser sincera com ele:
_ E o que você tem a me dizer?_ seu sorriso era tão infantil e meigo.
_ Eu pensei no que você me disse._ ele sorriu ainda mais_, e cheguei à conclusão que não posso_ minha voz falhou novamente.
O sorriso se desfez e seus olhos cravaram no chão:
_ Eu posso te dar mais tempo, Alice.
_ Não se trata disso, eu gosto de você, mas infelizmente não como você quer e merece._ tentei encara-lo, mas seus olhos estavam no chão.
_ Você sabe que nunca vou desistir, né_ ele sussurrou.
Mexi a cabeça em negativa:
_ Ah... Felipe.
Ele se levantou bruscamente:
_ Mas ainda somos amigos, pelo menos você sabe o que sinto e que não vou desistir._ seu olhar agora era firme, apenas afirmei e este saiu rapidamente de meu apartamento, me deixando com minha consciência que insistia em se encher de culpa.
Durante a segunda semana do mês fiz vários resumos, a editora tinha cinco lançamentos para esse mês e todos sob minha supervisão.
Aquela manhã após terminar meus resumos peguei os prospectos de futuras edições e na pressa não vi que vinha alguém do outro corredor e esbarramos uma na outra, espalhando folhas para todos os lados.
_ Me desculpe_ dizemos ao mesmo tempo.
E levo um susto ao reconhecer aquela jovem ruiva:
_ Linda? O que você está fazendo aqui?
_ Srta. Almeida!_ esta sorri enquanto me ajudava a pegar os papeis.
_ Me chame de Alice, por favor.
_ Tudo bem, Alice_ reparo num pacote em suas mãos_ o Sr. Readen me enviou para fazer uma entrega ao Sr Alcântara.
E lembro-me de algo:
_ Mas ele não está viajando?
_Está, mas me ligou de Lisboa para dizer que era importante entregar este pacote ao seu chefe.
Reparei em um dos envelopes em sua mão, direcionado a uma instituição do combate ao câncer.
_ Legal né_ disse esta ao notar meu olhar_, a empresa ajuda o hospital do câncer e a instituição Maria Elena para recuperação de jovens com dependência química.
_ É um ato muito nobre_ solto em dúvida, afinal caridade não parecia ser o segundo nome de Readen.
_ O Sr. Readen teve um irmão que veio a falecer de câncer ainda muito jovem e desde então ele faz de tudo para ajudar.
_ Pensei que ele fosse filho único.
_ Todos pensam isso, é que ele não fala sobre isso, eu apenas soube por que sou sua secretária pessoal e levo o cheque todo mês para entregar nos locais.
A acompanhei até a sala de Alcântara, e após tudo estar entregue, pensei por um momento no mistério do Sr. R, aqueles olhos castanhos atravessam minha mente os pingos de verde destacavam- se, ele era controlador porque não pode controlar a doença do irmão, deve ter sido difícil para ele lidar com isso sendo tão novo.
Sábado, dia 28 de agosto. Desde que acordamos Catarina e eu organizamos a casa, onde seriam feitos os salgados, bebidas e Felipe ficou de ser nosso dj e barman. Este, no entanto ainda andava esperançoso apesar de eu ter lhe dito que não poderia mais estar com ninguém.
O apartamento ficou espaçoso com os sofás na parede, trancamos os quartos deixando apenas cozinha, sala e banheiro liberados. Às oito da noite as pessoas começaram a aparecer, no total seriam vinte de apenas bons amigos da faculdade, já fazia dois anos desde que terminamos faculdade e começamos esta tradição.
Os salgados estavam quase terminando e as pessoas bebiam muito, alguns levavam suas bebidas, Felipe levou duas garrafas de vodca e preparou uns drinks diferentes. Foi quando a campainha soou, fui à porta esperando algum colega ou o zelador, mas aqueles olhos castanhos esverdeados me surpreendem:
_ Sr. R._ meus olhos quase saíram de orbita ao vê-lo.
_ Boa noite Srta. Almeida_ este me mostra uma garrafa de scotch, seu meio sorriso estampado em seu rosto recém barbeado_, não vai me convidar para entrar.
_ Ah sim, entre._ aceno sem jeito para ele.
O fitei confusa, enquanto adentrava meu apartamento, ele parecia relaxado, com seu cabelo desalinhado, vestindo uma camisa preta manga comprida e jeans básico. De imediato a atenção da pequena festa vira- se para ele, as mulheres ficam sem reação e os homens furiosos por verem suas namoradas e esposas fascinadas por outro homem que não fossem eles, nisso lembrei-me de Felipe, ele continuava na cozinha com as bebidas, sua expressão resumida em desgosto e antipatia.
_ Sr. R_ cantarolou minha amiga_, que bom que encontrou espaço em sua agenda para nós.
_ Eu não falharia com tão belas damas_ disse este cordialmente.
Olhei para a garrafa nas mãos de Readen e digo:
_ Vou pegar os copos e já volto.
Caminho até a cozinha e Felipe cospe as palavras como se fosse um crime:
_ O que ele está fazendo aqui?
_ A Catarina o convidou. Algum problema?_ o encaro imitando o olhar inquisidor de Readen, enquanto pego os copos da prateleira, com isso ele se acalma.
_ Não, nenhum.
_ Que bom, pois a Cata o quer aqui então nem eu posso me opor a isso.
Percebi que Sr R nos olhava, não parecia por curiosidade, mas por desaprovação. Levei os copos com dois, cubos de gelo em cada uma, este sorveu o liquido que parecia queimar sob o gelo.
_ Gosta de bebidas fortes, Sr. R?_ pergunto curiosa.
_ As vezes_ responde este sempre enigmático._ você sabe beber?
_ Sim, aprendi com o melhor, meu pai, ele disse que não queria que ninguém se aproveitasse de mim durante uma bebedeira, então desde cedo bebia com ele.
_ Ele parece ser um homem inteligente.
_ E ele é.
Readen serve o outro copo para mim, e resolvo acompanha-lo já que Catarina bebia o drink de vodca que Felipe lhe fez.
Relembrávamos nossas travessuras na universidade, Catarina como esteticista fez uma máscara de pepino e colocou na cara de uma colega que era alérgica, ou quando eu e Felipe fomos pegos fumando um baseado, na época éramos amigos, só nos envolvemos depois da faculdade. Felipe pôs algumas músicas da época e justamente quando tocou a mista de dance com romântica. Readen que estava sentado ao lado de Catarina levanta, caminhando em minha direção e parando em minha frente:
_ Poderia conceder-me esta dança?
O olhei surpresa:
_ Pensei que o senhor não dançasse.
Este sorriu de lado mostrando seus dentes perfeitos:
_ Bem, estou abrindo uma exceção para você.
Passei-lhe minha mão, a eletricidade novamente passou entre nós. Caminhamos até o meio da sala onde os outros dançavam. O encarei, seus olhos misteriosos, porém tranquilos. Este apertou minha mão e sem libera-la começamos a dançar, este apenas me conduzia com facilidade me levando de um lado para o outro de repente este me puxa para seu peito e me segura pela cintura, meu coração acelera com a proximidade e a eletricidade se intensifica. Este sussurra em meu ouvido:
_ Acho que seu namorado está me matando com os olhos.
_ O que?_ lanço um olhar furtivo para Felipe, que nos encarava com desprezo._ ele não é meu namorado.
Este ergue a sobrancelha:
_ Então vocês não voltaram?_ seus olhos ficaram mais para o verde nesse momento.
_ Não, o que o faz pensar isso._ ele ainda me prendia a seu peito, seu perfume era incrivelmente sedutor, se fosse Catarina em meu lugar já estaria entregue a ele.
_ Pela forma que ele te olhou quando cheguei_ diz este, liberando- me vagarosamente.
_ Enganou- se Sr. R._ levanto a sobrancelha enquanto suas mãos ainda estavam em meu cotovelo.
_ Mas, ele ainda te quer._ este afirma seu rosto continha alguma emoção estranha para mim.
_ Já deixei bem claro a ele, por mais que não entenda que para mim seremos apenas bons amigos.
Este ri, liberando- me totalmente:
_ Acho que se eu fosse ele também não entenderia.
Readen voltou ao grupo com Catarina que era só sorriso a ele. Estava distraída tentando entender as palavras desse homem, mas a única conclusão a que chegava era que eu nunca o entenderia e eu sempre sairia de nossas conversas com uma nuvem de dúvida pairando sob minha cabeça.
Já passava da meia noite e poucos convidados ainda permaneciam, apenas restavam, Felipe, Mariana que foi minha colega de jornalismo e esta conversava fascinada com Readen, aposto que se este lhe dissesse para irem juntos ela não se negaria.
Fui à cozinha arrumar a bagunça, e Cata se pôs ao meu lado:
_ Amiga, eu não sei de onde você tirou a ideia de que o Sr. R é um arrogante.
_ Eu tenho meus motivos_ disse enquanto jogava alguns copos de plástico no lixo.
_ Ele é muito simpático e tem um quê de mistério._ ela suspira e isso me faz rir.
Catarina vira- se para mim então decidida:
_ Você não percebeu ainda, não é.
_ O que? _ reviro meus olhos, ela me irritava às vezes.
_ Olhe para ele_ indica Sr. R que conversava com Felipe e Mariana_, você acha mesmo que ele veio aqui por minha causa?
O fitei por breve instante, ele olha para mim com um sorriso enigmático, logo voltando para sua calorosa conversa. Encarei Cata, pasma:
_ Catarina Batista dos Santos não seja absurda.
_ Ele dançou com você, eu vi a química e aquele atrito entre vocês._ lembrei-me da eletricidade e balancei a cabeça.
_ Pare de imaginar coisas que não existem, eu o desprezo e não há nada que me faça mudar de ideia.
Um limpar de garganta nos chamou a atenção, me virei levando um susto era Readen parado bem a nossa frente. Há quanto tempo ele esteve aí? Teria ouvido o que disse?
_ Senhoritas._ disse este sua expressão indecifrável.
_ Sr. R._ Cata foi a primeira em reagir.
_ Já está tarde, tenho que me retirar.
_ Sim, claro_ completou minha amiga, eu não sabia onde meter minha cara_, o senhor deve ter muito trabalho para amanhã e obrigada por ter vindo a nossa humilde festa.
_ Foi um prazer. _ este me lança um olhar apenas o saúdo com a cabeça.
O acompanhamos até a porta, Mariana fazia beicinho pela ida de Readen, Felipe parecia mais tranquilo. E eu ainda não conseguia abrir a boca.
_ Boa noite senhoritas_ completou Readen.
E Catarina me empurrou dizendo:
_ A Alice vai te acompanhar até a portaria._ e logo fechou a porta atrás de mim. Olhei para o Sr R sem saber o que fazer.
_ Vou acompanha-lo_ foi o único que saiu de minha boca.
Este apenas apertou os lábios em uma linha sem expressão. Como o elevador do prédio estava quebrado, fomos pelas escadas.
_ Me diverti muito esta noite_ disse ele quebrando o silencio.
O fitei de lado, afiando minha língua:
_ Não preferia estar com a morena do bar ou a mulher misteriosa?
_ Não, elas não são divertidas_ abafo um riso e este me olha de lado_, e também para quê amor se tenho tanto ódio a meu alcance_ ele ri referindo- se a mim.
_ Então o senhor admite a existência delas.
_ Eu nunca as neguei_ ele tinha razão._ como disse na entrevista, gosto de ser reservado, não gosto de me envolver, pois sempre influenciam nos negócios, e não posso botar minha empresa em risco por uma mulher qualquer.
_ Nossa! Você se refere a elas dessa forma.
_ Srta Almeida, vivo em um mundo superficial, aquelas mulheres não gostam de mim pelos meus lindos olhos_ diz este brincando, pelo visto tinha senso de humor_ há muito interesse por trás de tudo isso, e nunca passei mais de uma noite com elas.
Parei de andar, segurando- me no corrimão, não esperava tal confissão:
_ Porque está me contando isso?
Este pareceu surpreso e parou para encarar- me:
_ Não tenho porque mentir, e você não é superficial como elas, e nem tenta me agradar, você me desafia e de certa forma, isso a torna especial.
Meu rosto esquentou de repente:
_ Não se envergonhe Srta. Almeida, foi um elogio, você deve se acostumar a recebê-los.
Chegamos à recepção, o porteiro dormia ao som de Amado Batista. Olhei para Readen:
_ Boa noite..._ murmurei.
_Boa noite._ este pegou minha mão beijando-a, a eletricidade voltou com seu toque_ e obrigado pela noite maravilhosa.
Este afastou-se entrando em seu corola preto. Por um momento me senti confusa, Catarina não poderia estar certa, ele apenas queria ser gentil. Subi as escadas lembrando o que ele me havia dito, “um mundo superficial”, para mim soava solitário.
Abri a porta do meu apartamento, deparando- me com um Felipe exasperado à minha espera:
_ Ei!_ este gritou_ o que aconteceu?
Olhei para Catarina, e ela estava nervosa:
_ Felipe, já está tarde, você bebeu muito e não há mais nada para se dizer.
Mariana segura ele pelo ombro:_ Vamos dividir o taxi.
E os dois se retiram, Felipe parecia mal, mas não lembro de tê-lo visto beber durante a festa. Quando a porta se fecha, Catarina virou-se para mim:
_ Ele acha que você e o Readen estão transando.
_ O que?_ encaro ela pasma.
_ Eu falei a ele que vocês não tinham nada haver.
Joguei-me no sofá:
_ Eu acho que ele nunca vai entender.
_ Talvez você deva se afastar um pouco.
Tiro minha cara do travesseiro, olhando para minha amiga:
_ Diga-me quando foi que eu não tentei me afastar? Foi você quem trouxe ele de volta todas às vezes.
_ Me desculpe._ ela senta ao meu lado_, é que eu não gosto de te ver sozinha.
_ É como diz o ditado "antes só do que mal acompanhada".
Catarina se pôs a rir de mim, e afundei em meus pensamentos, lembrando das coisas que Readen disse. Ele parecia sincero, mas porque teria dito aquelas coisas, os homens que conheço geralmente mentem ao invés de dizer a verdade. Suspirei chamando a atenção de Cata que aumenta seu sorriso, quando percebo que eu sou o motivo de suas risadas jogo o travesseiro nela, aquele dia entraria para a história com certeza.................
Oi gente sei que demorei a postar, mas serei mais constante a partir de hoje, domingo tem mais capítulos!!!! Comentem digam o que estão achando, adoro ouvir a opinião de todos!!!!
❤❤❤❤❤
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With Eyes Wide Open (De Olhos Bem Abertos)
ChickLitMeu nome é Alice Almeida, tenho 25 anos, sou uma jornalista recém formada e justamente a editora para que trabalho me resigna a ir na renomada R&R enterprise, onde conheci James Readen, o orgulhoso, arrogante e misterioso homem que mudou completamen...