Capítulo 22

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Não lembro ao certo quanto tempo passou. Ou como chegamos ao hospital. Lembro apenas de ouvir as vozes e pessoas passando como se nada tivesse sentido, era como se eu fosse à expectadora de minha própria vida, como se não estivesse em meu corpo. As vozes pareciam vir de longe eram quase inaudíveis. Eu apenas conseguia lembrar Readen com Greta, meu coração se comprimiu em meu peito novamente e aquilo era tão doloroso. Era como estar no fundo de um poço e nunca mais poder sair. Eu sabia que na vida não existem finais felizes, mas eu queria pelo menos uma vez poder viver meu conto de fadas. Senti minhas costelas doerem e ouvi o médico dizer que minha costela estava fissurada e para que eu não durma pelo golpe em minha cabeça, como se isso fosse possível, creio que esse foi meu único momento lúcido naquela tarde. Eu já perdera a noção do tempo, foi quando de repente me dei conta que estava sentada no sofá de casa abraçando meus joelhos. Era noite, olhei para o relógio na parede, marcava as nove. Cata conversava com Eric pelo telefone e quando desliga, solta um suspiro de alivio, sentando ao meu lado. Eu a encaro por breve instante, até resolver falar:
_ Você está melhor? _ pergunta esta analisando meu rosto.
Primeiramente não entendo sua pergunta, mas logo a dor em minhas costelas me faz lembrar e mexo a cabeça em positivo.
_ Vou preparar um chá de camomila_ diz Cata indo a cozinha.
Meus olhos a acompanham e a sensação vazia em meu peito fala mais alto e resolvo me abrir:
_ Ele me pediu em casamento..._ minha voz era um fio sem descrição.
Esta me fitou com espanto, deixando o que fazia para sentar ao meu lado novamente:
_ Meu Deus, Alice, eu não sabia. _ ela apenas me puxa para um abraço. _ ele foi o primeiro em perceber seu sumiço, na hora soube que a Greta estava por trás de tudo, ela botou toda a cidade contra ele, para cada pessoa que ligava pedindo ajuda as portas se fechavam. _ ela se afasta um pouco para me olhar aos olhos_, amiga, ele teve que fazer isso, eu estava lá vi o desespero dele e sei que não teria feito se tivesse outra escolha.
Por mais que ela dissesse tudo aquilo, eu ainda me sentia no fundo do poço. Levanto do sofá com cautela e vou ao meu quarto, e quando aperto o interruptor para ligar as luzes vejo em cima da minha cama um bilhete.
_ O que é isto? _ pergunto sem obter resposta.
Pego o pedaço de papel reconhecendo a letra, era dele.
“ Alice,
Esta é a primeira carta que escrevo a você e também a última, lamento que seja nestas circunstancias, mas você me conhece, sabe que não poderia deixá-la sem avisá-la sobre o que realmente aconteceu, sei também que estará sentindo-se mal e desolada, e espero com esta carta lhe esclarecer tudo. Desde a morte do meu irmão, tentei me punir por nunca ter podido fazer algo e desta vez ao te ver nas mãos de Greta, tive que fazer algo, pedi ajuda a todos os meus conhecidos dentro e fora da cidade, porém ela já lhes havia colocado em meu contra muito antes. Só posso dizer que eu nunca tinha vivido até te encontrar, todos os momentos que passamos juntos apenas me fizeram ver o quão maravilhosa você é, e eu prefiro sofrer uma vida toda a não tê-la sob mesmo céu que eu. De agora em diante tudo será difícil e pior sem você ao meu lado, mas as boas lembranças que tivemos será o que me fará manter a cabeça no lugar para seguir a diante. Por favor, Alice, não quero que se sinta mal ou pense que não te amo, por que eu te amo e sempre vou amar, você sempre será a mulher que me desafiou e me fez mudar, você me salvou de todas as formas que poderia ter me salvo, acho que se você não tivesse aparecido eu ainda seria aquele homem arrogante, presunçoso e sem coração. Obrigado Alice, por me salvar e mostrar como é bom estar vivo. Sei que é difícil pedir isso, mas siga adiante, o importante para mim é que você seja feliz, é difícil imaginar vê-la com outro alguém, mas sei que cedo ou tarde vai acontecer e você merece o melhor. Acabaremos como no conto da pequena sereia e no caso sou eu a sereia, pois terminarei como espuma do mar por não poder ficar longe de você. Eu lhe rogo, mantenha-se longe de tudo que tiver relação com a corporação Eisenberg. De agora em diante a Greta não irá te fazer mal. Lhe deixo o número de um amigo, seu nome é Carlos Nogueira, ele irá te ajudar quando for necessário. Você é especial Alice, nunca mude sua forma de ser. E continue sempre com essa sua língua afiada que tanto me fascina. Eu te amo. Hoje e sempre.
Seu Sr. R”.

As lágrimas caiam incessantemente. Catarina apareceu em minha porta com uma xícara de chá.
_ Ali, o que aconteceu?
Ela logo viu o pedaço de papel em minhas mãos:
_ Ah amiga.
Cata deixou a xicara em minha mesinha de noite e me abraçou, a apertei com força, os soluços machucavam minha costela.
_ Ela me humilhou Cata, ela me machucou e me jogou nas mãos daquele homem, se eu não tivesse reagido ele teria..._ mal consigo falar_ Por causa dela eu e o James nunca poderemos ficar juntos. Eu quero que a Greta sofra, quero que ela perca tudo o que tem, eu quero vingança.
Catarina suspirou preocupada:
_ Calma Ali, você não é assim.
Afasto-me um pouco dela encarando-a aos olhos:
_ Não pense que estou dizendo isso de cabeça quente, eu nunca deixei que me pisassem e não será agora que deixarei. Tudo o que ela fez a mim, farei que retorne a ela em dobro.
_ Amiga você está me assustando.
Seco minhas lágrimas soltando um riso triste:
_ Não se assuste, não farei nada por agora, mas em breve farei com que ela se arrependa de tudo o que me fez.
Cata enfim sorri:
_ Essa é a Alice que eu conheço.
Minha semana seguiu com o tratamento para minhas costelas, compressas frias e remédios para a dor, entre posições desconfortáveis para dormir. Depois de dois dias a imprensa começava a comentar o possível desaparecimento do renomado empresário James Readen. Havia repórteres esperando na casa de seus pais e na frente de seu condomínio e ninguém sabia de seu paradeiro, todos diziam ser um mistério. Cata e eu acompanhávamos pelos jornais, ela insistia em desligar a teve, mas eu queria ver, quando ele apareceu, fingiu não entender a euforia dos repórteres e estava com Greta. Ambos saíram do carro e o repórter então perguntou:
_ O senhor não tinha noção de que lhe deram como desaparecido?
Este deu um sorriso cínico de lado, eu podia ver que ele atuava e sempre mantinha o braço ao redor da cintura de Greta:
_ Não. Eu apenas pensei em passar uns dias ao lado de minha namorada e todos entram em pânico. _ ele aperta a mandíbula nervoso com o assédio dos repórteres.
Com essas palavras pude ver os olhos da morena se iluminar, havia flashes de câmeras e os jornalistas os rodeavam. Cautelosamente ambos entram novamente no carro, adentrando o condomínio:
_ O senhor assume oficialmente seu namoro com a Srta. Eisenberg?
Este olha impaciente ao homem, soltando as palavras que pareciam terem sido ensaiadas:
_ Se tem dúvidas compareçam a festa que estarei organizando na propriedade de meus pais sábado. _ ele acelera com o carro adentrando o condomínio enquanto os seguranças desta as fecham.
Encarei a teve sem reação até Catarina me acordar de meu devaneio:
_ Já basta de teve por hoje, Ali, sinceramente estou começando a achar que você é masoquista, será que não quer ir à área vip da boate Real? _ ela me segurou pelos ombros, tentando soar engraçada, mas me soltei lentamente, e sorrio a ela. _ Que sorriso sinistro foi esse?
_ Eu sei exatamente por onde começar minha vingança, quando eu acabar não vai restar nada para ela. _ por mais que minha amiga discordasse do meu “revenge” particular, eu sabia o que estava fazendo e atingiria Greta desde seu amago.
No sábado, Eric e Cata tiveram que ir ao jantar que Readen organizou na mansão dos pais, minha amiga ficou relutante em me deixar a sós, mas eu estava bem e dediquei meu tempo a investigar meu inimigo. Por mais limitada que fosse a informação sobre os vínculos de sua empresa, eu correria atrás. Já passavam das três da manhã quando Cata chegou:
_ Você ainda está acordada? _ esta me fitou com espanto vendo-me sentada com seu laptop no sofá.
_ Eu perdi a hora_ minha voz soava sem vida.
_ Não andou bebendo, andou? _ esta senta o meu lado, tentando achar vestígios de álcool.
Reviro os olhos, impaciente:
_ Fala sério, Catarina Batista dos Santos, eu estou tomando meia dúzia de drogas para a dor, nem tenho vontade de ver uma garrafa de vodca na minha frente.
Ela suspira como se tivesse carregando o mundo em suas costas e amenizo meu mau humor, o que acontecia comigo afetava a todos ao meu redor.
_ Você está bem?_ pergunto preocupada.
_ Ele estava lá_ diz esta triste.
Eu começo a rir mais de nervoso que por humor:
_ Claro né, Cata, era a casa dos pais dele.
_ Olha eu sei que você usa seu sarcasmo como auto defesa, nem adiante vir com essa. _ ela exalta a voz, nervosa_, vocês são tão parecidos nesse sentido. _ ela bufa e por um momento penso que ela fosse explodir.
_ Eu estou sofrendo, mas não pretendo ficar chorando pelos cantos e nem pretendo me transformar nela, só quero minha vida de volta. _ quando termino de falar Cata me abraça.
_ Ele pediu a mão dela em casamento, a Sra. Michelle ficou sem reação, já o pai estava em êxtase_ fiquei estática frente aquela notícia_, vi quando a Greta discutiu com ele por eu estar com o Eric, mas logo ela fingiu estar tudo bem, e mesmo de longe notei a apatia nos olhos do Sr. R.
Em minha mente aquele par de esmeraldas ainda se encontravam intactas e a lembrança faz o buraco em meu coração expandir e meu sentido aranha dizia de agora em diante nada seria igual.
Quando comecei na revista Millenium, ocupei ao máximo minha mente, eu e uma jovem chamada Tatiana; iniciamos os testes arduamente, porém o Sr. Juliano nos dava diversos trabalhos, sendo alguns até desnecessários, como pegar o café para ele, tirando o fato que o acompanhávamos a desfiles de lojas de roupa de grife.
Certa tarde, enquanto tomávamos café na sala de Xerox, Tatiana que era morena e bem mais bronzeada que eu, tendo o cabelo levemente cacheado, recostou-se sobre a máquina, sorvendo seu café, disse:
_ Os homens do prédio estão de olho na gente.
Eu apenas ri seco:
_ Se até o fim de semana todos os homens daqui não estiverem apaixonados por nós, não sei julgar a beleza.
_ Nossa, você é sempre assim tão autoconfiante?
_ Confiante não, apenas conheço a natureza masculina, eles são tão óbvios. _ digo rindo.
Tatiana abafou seu riso, bebendo mais de seu café, pensativa agora fala:
_ Queria ser como você, sabe sempre acabo me dando mal em meus relacionamentos.
A ferida em meu peito parece expandir de repente e as lembranças retornam feito um turbilhão:
_ Eu também não tive muita sorte ultimamente. _ ela deve ter percebido a angustia em meus olhos, pois não perguntou mais nada.
Eu chegava toda noite cansada em casa, mas mesmo assim não foi suficiente para me manter distante de meus sonhos com James. E cada noite era sempre igual. Eu acabava acordando sozinha na escuridão da imensidão do meu quarto e a dor em meu peito não tinha comparação, todo meu ser sentia sua falta, de seu sorriso a até os pequenos gestos.
Passando os dias, os testes terminaram e o Sr. Juliano me escolheu como redatora, mas ao ver minha proximidade com Tatiana, a nomeou sua segunda assistente. O trabalho era árduo e me encaixei com facilidade no grupo. A notícia mais comentada no momento era o noivado de James Readen, porem tentei ao máximo ficar longe disso.
Naquela noite, peguei a carta de James e disquei o número que ele me passara, a pessoa me atendeu no segundo toque.
Do outro lado da linha soou uma voz rouca e misteriosa, talvez minha imaginação a fizera soar assim:
_ Carlos Nogueira, boa noite.
_ Oi, eu sou Alice Almeida e o senhor Readen me deu seu número.
_ Ah sim, então você é Alice, o Sr. Readen disse que ligaria.
_ Que bom, ele te avisou, eu gostaria de saber como você poderia me ajudar.
_ Na verdade, não posso falar por telefone, sugiro que venha até meu escritório, lhe passo o endereço. _ anotei em pequeno bloco de papel_, quando chegar diga ao porteiro “estou à procura do rato” e ele te deixará passar.
Achei estranho, quem seria esse homem e porque James diria para eu procurá-lo.
_ Tudo bem.
_ Venha durante o dia, o que acha das duas da tarde? A noite o bairro é perigoso.
Isso me alarmou ainda mais, mas minha curiosidade era maior, e eu precisava me arriscar. Como era sábado trabalhei até o meio dia e aproveitei para ir até o local, peguei um taxi, pois o carro estava com Cata e quando cheguei me surpreendi, havia uma feira na rua, carros e pessoas se misturavam por não poder continuar o taxi me deixou na esquina, desci procurando o endereço até encontrar o edifício de quatro andares, o prédio era velho e cheirava a mofo, um homem gordo e ensebado sentava a porta; carrancudo, eu o encarei receosa:
_ O que quer? _ perguntou este bocejando.
Engoli minha saliva receosa: _ Estou à procura do rato. _ digo entrecortado, se isso fosse plano da Greta eu teria caído como uma mosca na luz.
O homem abriu o portão possibilitando a minha entrada:
_ Quarto andar, quarto número 13, vá pelas escadas o elevador está em manutenção.
Assenti, subindo por estas. Quando cheguei, bati com cautela a porta com a tal numeração.
_ Pode entrar! _ gritou o homem em seu interior.
Abri esta, e vi um homem sentado atrás de uma escrivaninha velha, ele devia ter uns quarenta anos, seu cabelo preto mostrava sinais de idade pelos generosos fios brancos, e tinha uma barba ao estilo J.J Jameson, este escrevia acirradamente em uma agenda e logo me olha, primeiro confuso e logo sorri:
_ Alice Almeida, não é._ Assinto tentando sorrir, mas não consigo_ Sente-se_ diz este me mostrando uma poltrona velha de couro na frente de sua mesa.
Sento, encarando-o:
_ No que o senhor trabalha? O Sr. Readen não me especificou quando disse para lhe pedir ajuda.
_ Aquele babaca, sempre tão misterioso não é._ diz este relaxado e acomodando-se em seu lugar _ sou investigador particular e advogado nas horas vagas, sem contar que ultimamente mexo na área de empréstimos, mas os folgados idiotas não querem pagar suas contas_ ele diz a última parte cerrando os dentes.
Ai meu Deus... No que o James me meteu?
_ Não se assuste, moça, se o Readen disse para vir, pode ter certeza que está em boas mãos. Aliás_ ele me aponta seu dedo indicador, enquanto abria sua gaveta com a mão livre_, ele lhe deixou este envelope.
_ Envelope? _ pergunto enquanto enrugo o cenho.
Este me passa um envelope grande e amarelo, retiro de dentro deste uma folha para só então me dar conta do que se tratava, eram nomes, uma lista enorme e sorri, James sabia que eu iria querer vingança e deu um passo adiante para mim, aquela era a lista oficial de todos os integrantes da seita secreta.
_ Ele deixou apenas isto contigo? _ o fito, agora animada.
Carlos retribuiu-me com um sorriso estático, pegando mais algo de sua gaveta:
_ Há esta chave, ele disse que você saberia quando usa-la. _ o fitei confusa_, eu também não entendi, mas já que ele sabe de tudo, não questionei. _ este me passa a chave e a guardo em minha bolsa.
_ O senhor mencionou ser um investigador?
_ Sim, por mais que não creia sou um dos melhores da cidade e este disfarce_ ele demonstra seu local de trabalho_ é o que me ajuda.
Permito-me sorrir: _ Eu quero que você investigue uma pessoa para mim, quero saber de tudo sobre ela_ só então paro, lembrando que todos que Readen conhece estão envolvidos na seita. Ele me encara esperando que continue_ o senhor conhece a Greta Eisenberg?
_ Sim, uma mulher muito bonita, porém desagradável_ diz este pondo ênfase na última frase_ é ela quem você quer que investigue?
Assinto com a cabeça: _ Como conheceu James Readen?
_ Eu tenho uma dívida com aquele desgraçado_ ele começa a rir deve ser alguma piada particular_, ele me salvou de uma situação muito complicada e além do mais, graças a ele conheci minha esposa_ este sorri e não pude negar-me a acompanhá-lo. _ Soube que ela e o Readen estão noivos_ Carlos analisou meu rosto com cuidado_, você era a namorada dele não é.
_ Sim, quero informações detalhadas e intimas da Greta, isso não é só uma questão pessoal ou uma simples vingança, ela não tem limites e eu não tenho provas para puni-la, por isso preciso da sua ajuda, alguém tem que pará-la e esse alguém serei eu.
Este sorri de lado, parecia ter gostado de minhas palavras:
_ Mocinha, gostei de você.
Depois desse dia, o tempo passou como vento forte, voraz e cruel. Carlos conseguia poucas informações, mas garantiu que tinha uma fonte que não lhe falharia. No trabalho tudo ia bem e com muitas matérias para editar. Novembro. Dezembro. E o dia de natal chegou. Catarina e eu fomos a Guarulhos visitar minha família, enquanto Eric passaria com Readen e seus pais e Greta.
Na rua de casa, as pessoas se reuniam fazendo churrasco na calçada e o pagode rolava solto. Minha mãe, Ana e Amanda preparavam a salada como acompanhamento. Ana e o marido dela, Paulo, davam-se muito bem, ele cantarolava e dançava com ela na calçada e ambos pareciam tão felizes, no entanto Amanda flertava com todos os vizinhos jovens. Meu pai estava feliz e sua perna já estava bem melhor, a cada momento ele passava uma latinha de cerveja para minha amiga e eu. Faltava pouco para meia noite, estava sentada na pequena varanda que dava para a rua. Cata não saia do meu lado, apenas suspirou alto, dizendo:
_ Sua família é bem alegre.
_ Ah é que ainda não estão bêbados, depois da meia noite todo mundo começa a brigar_ solto comicamente. Ela me empurra de leve com o ombro, rindo de mim.
Minha mãe passou por nós agitada: _ Meninas, o que fazem aqui sentadas? Vão agora lá para a rua dançar.
Faço uma careta, tentando responder com naturalidade:
_ Obrigada mãe, mas estamos cansadas demais.
_ Ah vocês que perdem_ diz ela chacoalhando as mãos no ar, com certeza a cerveja já estava deixando-a alegrinha.
Quando a meia noite chegou, o abraço de minha amiga me reconfortou, apesar de estar rodeada por pessoas, nunca me senti tão sozinha em toda minha vida, eu só queria um abraço e justamente esse era o que eu não teria. Olhei para o lado vendo meu pai e minha mãe demorando no abraço, olho para Ana com cara de “O que está acontecendo? ”, ela também mexe os ombros sem entender. Minha família me recebeu durante aqueles dias, voltei a meu antigo quarto e por um momento quis ficar, mas lembrei que minha vida estava em São Paulo e eu jamais fugiria de meus problemas.
O mês de janeiro passou voando, e simplesmente do nada o diretor executivo de Sr. Juliano, Miguel Novaes, começou a me dar certa atenção que chegava a me alarmar. Ele era alto, cabelos pretos espetados na frente, seus olhos eram castanhos. Todo o dia ele me deixava um copo de café do Starbucks, dizia que precisava mais do que o próprio. Miguel era carismático e se dava bem com todos da revista, principalmente as mulheres que suspiravam à sua presença, porém este alegava nunca ter ficado com ninguém do prédio.
Naquele dia, Sr. Juliano me chamara em sua sala desesperado, mesmo com receio, fui ao seu encontro. Bati na porta esperando sua permissão e logo entrei:
_ O Sr. Me chamou? _ entro vagarosamente, avistando-o esbaforido com uns papeis e olhando freneticamente para a tela de seu computador.
_ Sim_ diz ele batendo na mesa com a mão e paro de imediato_. Ah. Me desculpe por isso, vicio em cafeína é pior que qualquer outra droga_ ele sorri de nervoso e logo continua_ a Sueli pegou uma virose, me ligou esta manhã avisando.
_ Terrível_ digo pensando nos maus bocados que ela estaria passando.
_ E bem_ ele entrelaça os dedos apoiando os cotovelos em sua escrivaninha_, você é a única jornalista formada e com experiência que tenho.
_ O que? Como assim com experiência?
_ Você acha mesmo que te contratei somente pelo fato de ser uma ótima redatora? Claro que vi sua entrevista com o James Readen na revista Vips_ lembrei daquele fatídico dia e meu coração apertou.
_ Já faz tanto tempo que nem lembrava_ digo tentando soar casual e sentando a sua frente.
_ Então, amanhã começa a semana da tecnologia na USP e a SP entertainment tem um novo investidor misterioso e pelo o que sei ele estará presente na conferência, você precisa descobrir de quem se trata.
_ O senhor não tem nenhuma pista de quem seja?
_ Não, por isso preciso que você descubra, e vá sozinha não quero que a atrapalhem.
Respiro fundo, seria muita responsabilidade, afirmo com a cabeça, seria bom para ganhar experiência.
Chovia muito e Cata ficara com o carro. Já terminava meu resumo do dia, quando Miguel aproxima-se de minha mesa, sentando na beirada desta. O encaro fingindo não entender até este falar:
_ Como vai Srta. Rabugenta. _ reviro os olhos fuzilando-o, ele apenas aumenta seu sorriso_, sei que dirá um não, mas pelo menos vou tentar_ Miguel respira fundo e por um momento vejo sua fachada decair para uma sem armaduras e logo sorriu timidamente_, você gostaria de me acompanhar amanhã a um happy hour, garanto que irá gostar.
Olhei para este não conseguindo segurar o riso:
_ Miguel... Você já tem minha resposta então porque pergunta?
_ A esperança é a última que morrer não é._ diz este sem jeito, afastando-se de minha mesa e indo para o elevador.
Cinco e meia, já estava escuro e a chuva parecia que não iria parar, fiquei na parada de ônibus ao lado da revista, esperando este chegar, quando um carro esportivo vermelho parou em minha frente, o vidro se abriu e era Miguel com cara de preocupado:
_ Eu não vou deixar você se molhar e pegar um resfriado, entra ai.
Olhei para os lados, ir ou não ir eis a questão, e entro de uma vez no carro:
_ Eu vou molhar seu carpete_ digo apertando minha bolsa contra meu peito de frio.
Ele liga o ar quente; sorrindo gentilmente e o carro se movimenta, coloco minhas mãos próximas ao aquecedor, minhas roupas estavam húmidas pela chuva:
_ Você é diferente das outras mulheres do prédio_ diz este fazendo-me virar minha atenção a ele, que dirigia com os olhos fixos na rua.
_ Porque diz isso?
_ Sei lá_ ele sorri_, as outras mulheres ao ver que há um homem solteiro caem matando_ não pude segurar meu riso desta vez e ele continua_, você ao contrário, fica em seu canto sem se importar com os homens ao seu redor.
_ Tenho coisas mais importantes para pensar.
_ Como assim? Por acaso está morta? _ solta este sarcasticamente_ Você é jovem, bonita e inteligente, e eu..._ ah meu Deus, que ele não diga o que estou pensando que vai dizer_, eu acho que alguém lhe feriu.
Ufa. Respiro aliviada e arrumo uma mecha do meu cabelo atrás da orelha:
_ Se você acha que com esse papo compreensivo vai me conquistar...
E ele me interrompe:
_ Ei! Eu não disse isso, admito que considero você muito atraente e que te chamei para sair, mas não pelos motivos que pensa.
_ Não? Então porquê? _ o fito desafiadoramente e ele ri sem graça.
Ele suspira: _ Está bem, eu admito, você é atraente e quando você me evita é um desafio_ lembro de Readen e o que ele me disse a um tempo atrás_, mas eu sei que tem alguma coisa que você esconde, porque eu também sou assim_ o encaro sem entender_, eu estava noivo e a trai com uma antiga secretária do Juliano, ela me pegou no flagra.
_ Nossa_ solto frente a sua confissão.
_ Você não vai acreditar, mas eu a amava.
Tento digerir suas palavras e este ri ao ver minha careta:
_ A mulher começou a se esfregar em mim, diga-me que homem resiste. _ fala histérico apertando as mãos no volante.
_ Eu entendo_ digo balançando a cabeça, fico pensativa e logo resolvo dizer_, eu amo alguém_ Miguel me olha de imediato_, mas não podemos ficar juntos, somos de mundo diferentes e não somente isso, há tantas coisas que nos separam.
Analiso seu rosto, ele parecia pensar, o carro dobra a esquina de casa e ele fala:
_ Lute por ele, faça o que não fiz.
_ Sério?
Ele mexe a cabeça em positivo:
_ Sim, não deixe que o amor passe por você sem que perceba, agarre-o com todas suas forças. _ ele me olhou de uma forma diferente, eu diria que com piedade e determinação.
_ Vou ver o que posso fazer.
_ Sabe que tem um amigo e quando quiser podemos sair para almoçar ou jantar_ diz este aumentado seu sorriso, na hora paramos na frente de meu prédio.
E depois de tantas confissões e conselhos, digo:
_ Eu adoraria almoçar ou jantar com você qualquer dia desses.
Digo enquanto saio do carro e correndo para dentro do condomínio, vejo que Miguel acena para mim ao longe, Sr. Rodolfo me fitava desconfiado. Apenas o encaro, levantando minhas sobrancelhas enquanto subo as escadas de serviço. Quando abro a porta de casa, Cata me esperava sentada no sofá, enquanto mordia uma maçã.
_ Chegou cedo_ solto casual.
_ Com quem você veio, eu vi você sair de um carro_ ela levanta a sobrancelha e logo morde a maçã se insinuando para mim.
A fitei fingindo surpresa por sua reação, mas esta continua:
_ É o tal Miguel né_ diz esta aproximando-se de mim que botava minha bolsa molhada sob o balcão da cozinha.
Joguei meus sapatos para um canto da sala, evitando-a:
_ Você sente atração por ele, não sente. _ ela senta ao meu lado quando me jogo no sofá.
Rio levando as mãos à cabeça:
_ Ai Cata, você não muda mesmo né_ a olho de lado e esta ainda sorria_, ele é um gato, mas..._ deixo as palavras no ar e ela capta.
_ Você ainda ama o Sr. R._ completa ela.
As palavras não saiam, mas minha amiga já sabia a resposta. Mais uma noite antes de dormir, reli a carta de Readen, como se buscasse alguma mensagem oculta, mas nada encontro.
Acordo na manhã seguinte, com a luz cinzenta entrando em meu quarto, mais uma manhã sem sol em São Paulo. Me arrumei para a conferencia que seria no salão de eventos da USP. Peguei minha saia preta uma camisa listrada e um blazer cinza. Cata me olhava desde a cozinha ainda sonolenta enquanto tomava sua xicara de café fumegante.
_ E porque o Sr. Juliano te disse para ir sozinha? _ pergunta esta olhando-me enquanto eu entrava e saia do banheiro, sai do meu quarto, parando no meio da sala enquanto colocava meus brincos (sim os que James tinha me dado, agora eram meus brincos da sorte).
_ Ele mencionou algo sobre que sozinha posso me infiltrar melhor, ele acha que sou a Sydney Bristow do Alias_ digo revirando os olhos_ e ai como estou? _ giro para que ela analise meu visual.
_ Ainda com o look Lois Lane, tá na cara que você é jornalista.
_ Droga! _ bravejo enquanto pego minha bolsa_, mas vou mesmo assim.
Corri para meu carro, e cheguei quinze minutos atrasada devido ao transito. A conferencia ia bem, entrei como visitante para não levantar suspeitas e fiquei de olho em todos os presentes para entrevista. O salão de convenções estava lotado, mas nenhum dos presentes parecia esconder algo, e lembrei que se quisesse esconder informações não estaria naquele local. Discretamente sai para fora, fingindo tomar ar e vi uma limusine estacionar na lateral da universidade. Haviam vários seguranças por isso não consegui ver de quem se tratava. Entrei na universidade para onde dava aquela entrada que era a biblioteca do local, cautelosamente segui pelos corredores vazios até chegar perto deste, que estava cheio de seguranças, só podia ser o investidor misterioso.
_ Esta área é restrita_ disse um dos seguranças me barrando.
Olhei para todos os lados e havia três seguranças me encarando com cara de poucos amigos, encarei o que me barrava:
_ Olha, você não pode esconder da imprensa, eu sei que nessa biblioteca se encontra o investidor misterioso da SP entertainment, porque ele quer se esconder? Vai me diz? Garanto que sairá beneficiado de tudo isso.
_ Não cedo a chantagens _ diz este sempre sério sem perder sua compostura.
_ AH longe de mim chantageá-lo, sei que é um homem respeitável e eu também sou, apenas quero saber a verdade.
Nisso ouço a porta atrás de mim abrir:
_ Linares o que está acontecendo?
Quando ouço aquela voz meu coração para pôr um segundo, não pode ser. Não depois de tantos meses...
Viro-me cautelosamente, deparando com aquele par de olhos castanho esverdeados, seu semblante muda ao me ver, e tudo o que eu queria era pular em seus braços e dizer que nada mudou, mas eu não podia afinal tudo tinha mudado...
_ Sr. R... _ minha voz saiu falha e admirei seu rosto perfeito e sem barba por um minuto.
_ Srta. Almeida_ como sempre sua voz soara firme e seus olhos escureceram imediatamente analisando-me dos pés à cabeça. Ah como este homem me afetava, eu não queria demonstrar, já fazia tanto tempo, mordi o lábio receosa pela situação em que me encontrava.
E após alguns minutos tensos, ouço sua voz rouca pronunciar:
_ Deixem-na passar, cederei uma entrevista Srta. Almeida.
Meu coração acelerou imediatamente, mal acreditando no que ouvira, isso não podia estar acontecendo, ele disse que nunca mais se aproximaria de mim, mas meu coração saltitava de felicidade por mais arriscado que fosse. Eu poderia morrer naquele momento, mas morreria feliz.


With Eyes Wide Open (De Olhos Bem Abertos)Onde histórias criam vida. Descubra agora