Capítulo 17

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Devo ter dormido o dia inteiro. Lembro-me de abrir meus olhos algumas vezes e ver a luz entrar em meu quarto, o buraco em meu peito parecia ter tomado conta de mim, eu já não sentia meu corpo, até respirar era doloroso. Porque eu estava assim? Cata com certeza me deu algum calmante, apenas acordei para comer uma sopa que ela me preparou, meus olhos estavam inchados e doloridos. Já era noite. Eu perdera a noção do tempo, olhei Cata que estava sentada ao meu lado na cama:
_ Que dia é hoje.
_ Segunda.
_ O que. Eu dormi todo esse tempo_ eu estava afônica.
_ Você esteve acordada algumas vezes, mas te dei um calmante. Liguei para o Sr. Alcântara para avisar que você estava doente e não poderia ir trabalhar.
O Jorge... e as lembranças voltam.
_ Eu nunca mais vou chorar_ digo a minha amiga, firmemente e ela apenas assente, nisso meu celular começa a tocar, pego objeto vendo o nome escrito na tela "Sr. R", a raiva me consome e sem pensar duas vezes joguei meu celular pela janela.
Cata me olhava pasma, só então percebo o que fiz:
_ Droga! Meu celular.
_ Não se preocupe, compramos outro._ diz ela ainda me olhando assustada._, acho que chegou a hora da gente ver uns filmes românticos e tomar sorvete.
Viro-me para ela seriamente:
_ Eu não estou na foça.
_ Alice essa é uma fase importante para superar, o que aconteceu entre você e o Ja...
_ Não diga esse nome!_ grito minha cabeça doía.
_ Tudo bem, aquele que não deve ser mencionado.
_ Eu quero uma bebida_ ela me olha torto.
_ Temos água.
_ Algo mais forte._ insisto.
_ Eu farei chá.
Reviro os olhos, nervosa, abro meu guarda roupa e me deparo com aquele vestido, as lembranças vinham como um flash e o buraco no meu peito parecia ganhar vida novamente. Pego este, abro minha caixa de joias onde estavam os brincos, e tiro a foto do meu espelho:
_ O que você vai fazer?_ pergunta Cata preocupada.
_ Veja._ vou à cozinha e jogo tudo no lixo.
Cata tampa a boca com as mãos, ela ainda tinha aquele olhar.
_ A última semana não existiu_ o buraco em meu peito se abriu mais_ ele está morto para mim.
De manhã cheguei na editora decidida, Joseane me lançou seu olhar 43:
_ Sem sermão hoje?
_ Quem sou eu para lhe dar sermões._ digo dando meu melhor sorriso.
_ Nossa, o que você tem? Essas olheiras são de matar_ disse ela exasperada.
Ri seco:
_ O Sr. Alcântara já chegou?
_ Sim esta em sua sala.
_ Obrigada_ digo enquanto entro na sala deste que falava por telefone, ao me ver fica mudo.
Eu estava séria, seus olhos quase saiam de orbita:
_ E-eu vou ligar mais tarde. Sim. Até mais_ ele desliga.
_ Alice..._ ele gaguejou e eu sorri cruel estendendo o papel que trazia em mãos em sua mesa.
_ Essa é minha carta de demissão.
_ O que? _ cruzo os braços encarando-o_ Alice não faça isso, juro que não sabia o que elas fariam contigo.
_ Eu não quero ouvir senhor Alcântara, eu o respeitava e admirava como empresário e pai de família, nunca imaginei que veria aquilo. Estou decepcionada. Sua esposa sabe? _ minha voz saia dura e grave.
Ele mexe a cabeça em negativa, seu olhar sempre baixo.
_ É um estilo de vida diferente, eu admito, mas isso não nos torna anormais_ diz este_ minha esposa nunca aceitaria.
Engoli seco, e olhei para a parede, a imagem que eu tinha daquele homem caiu no chão.
_ Apenas cumprirei os quinze dias de pré-aviso do meu contrato senhor.
Ele se levanta exasperado:
_ Por favor, Alice, eu a promovo a editora chefa, você é a melhor funcionaria que já tive não nos abandone.
Respiro fundo antes de encara-lo novamente:
_ Sr. Alcântara, respeite minha decisão e não torne isto mais difícil do já está sendo.
Seus olhos cravaram no chão e ele apenas assentiu. Posso resumir meus dias, com a expansão do buraco em meu peito, eu o sentia crescendo dia após dia, a dor latente, era difícil de ignorar. Assim cada dia convidei Joseane para me acompanhar a um bar e conversar besteiras, com ela era fácil passar as horas, era só colocar um tema para a conversa que ela tagarelava por horas. Cata se preocupava todas as noites aparecia para me buscar, deixei claro a ela que meu objetivo não era beber até cair. Eu apenas queria preencher meu tempo, não queria pensar porque se eu parasse, as lembranças viriam por isso essa semana me afundei em trabalho.
Sexta-feira, Cata estava deitada no sofá assistindo o jornal e eu saio frenética como sempre do meu quarto indo à cozinha:
_ Vamos sair?_ digo batendo o pé e eu sabia que isso a irritava.
Ela revira os olhos:
_ Pare com isso._ ela senta_, podemos ir na boate Real._ disse esta casualmente.
_ Não!_ solto um quase grito_, aquele que não pode ser mencionado pode estar lá.
_ Ah sim, eu tinha esquecido isso, desculpa_ ela pensa por um instante_, a Mariana me contou de uma boate ótima na moca.
_ Vamos lá_ e corro para meu quarto, Cata apareceu na minha porta oferecendo-me seu vestido azul tomara que caia, aceitei sua oferta dizendo_, quero pegar alguém hoje.
Ela me olhou incrédula:
_ Ali, você ainda não está bem.
_ Eu estou bem. Aquilo não foi nada_ ela abaixou o olhar apenas assentindo, enquanto eu me vestia.
A boate não era tão agradável como a Real, havia muita fumaça e luzes exageradas, Me aproximei do bar, e o barman servia uma mulher com uma bebida azul:
_ Qual o nome dessa?
_ Blue Lagoon quer uma?
Mexo a cabeça em positivo e este me passa, era doce e mal senti o álcool. Cata já dançava ao meu lado, eu apenas ri, bebendo todo o meu blue lagoon.
_ Aquele cara não tirou os olhos de você_ disse ela me mostrando um rapaz de camiseta polo branca em um canto, ele era musculoso o típico cara desesperado que se encontra em festas. Olhei torto para minha amiga_, ah eu só disse já que você disse que o que aconteceu não foi nada_ ela estava tentando me provocar.
Sorri de lado para ela:
_ Claro que não foi_ entrego meu copo a ela e vou até o homem convidando-o para dançar, ele não hesitou e fomos a pista.
Suas mãos logo se prenderam em minha cintura, eu tentei tira-las, mas ele era forte:
_ Nossa como você é gostosa_ disse este em meu ouvido.
Arregalei meus olhos. Ele começou a me apertar. Droga. Eu só me meto em confusão.
_ Para eu não quero._ minha voz saiu sem força.
_ Ah vai dizer que não quer agora, foi você quem me tirou para dançar._ ele tentou me beijar e eu me afastei, porém este continuou a me apertar.
Nesse instante meu estomago revirou, ai não, era o blue lagoon, não consegui segurar e uma onda azul saiu de minha boca em cima dele.
_ Mas que merda é essa.
Arregalei meus olhos assustada. Cata correu até mim.
_ Amiga, o que aconteceu.
Eu ainda olhava a camisa do cara toda azul pelo meu vomito:
_ A doida da sua amiga vomitou em mim.
_ Ei não chama ela assim!_  vi ela empurrar o cara._ vamos embora Ali, este lugar é chato.
De ida para casa apenas rimos:
_ Você vomitou um smurf naquele cara.
_ Pelo tamanho da coisa eu diria que foi um avatar_ Ambas caímos na gargalhada.
Quando chegamos em nosso apartamento sentei no sofá abraçando meus joelhos. Droga eu devia parar de fazer isso. Mas, era inevitável, eu era uma boba, tentei ser forte, tentei fingir que estava bem ocupando meu tempo, mas nada estava bem, a cada dia o buraco em meu peito aumentava. Tudo o que sei tudo o que vi ainda me afetava. Olhei para minha amiga, ela mudou essa semana, agora Cata era a amiga responsável enquanto eu fazia bobagens como vomitar em pessoas e beber de mais. Não adianta eu fingir que nada aconteceu isso não mudaria nada, os problemas ainda estariam ali no outro dia. Às vezes é necessário juntar os pedaços e admitir que tudo aquilo foi um erro e que eu estava sofrendo. Eu não podia fechar os olhos não mais. Aquele que não deve ser mencionado passou pela minha vida deixando-me uma ferida, que não consigo curar. Então eu faria do jeito certo, do jeito que Catarina faria.
_ Eu estou pronta._ sussurrei quando ela sentou ao meu lado no sofá.
_ O que?
_ Eu estou na foça amiga.
Ela me fitou ternamente, abraçando-me.
_ Eu sei, você acha mesmo que eu acreditei que você queria pegar alguém hoje?_ Apenas sorri de leve_, vou pegar o sorvete da geladeira, enquanto você pega os filmes_ disse ela correndo.
Passamos a noite tomando sorvete e assistindo todos os filmes românticos que podíamos entre “O amor não tira férias”, ”Ironias do amor”, “Titanic”, “Mensagem instantânea”, e em todos choramos como duas crianças. Esse sábado ela não foi trabalhar, ficamos em mais uma fase da foça. Apenas saímos para ir a locadora pegar mais filmes e comemos todas as besteiras que queríamos. Cata dizia que comer era um santo remédio.
Nessa noite estávamos deitadas em minha cama e ela começou a falar:
_ Ele veio atrás de você.
A olhei sem entender:
_ O que não deve ser mencionado_ completou ela_, ele parecia estar mal, mas fui dura e direta, disse para ele nunca mais botar os pés aqui.
Meu coração afundou e o buraco se abriu mais, abracei meu travesseiro, lembrando-me daqueles olhos e aquela máscara, meu corpo se arrepia com a lembrança.
_ Ele disse alguma coisa.
Ela arrumou meu cabelo atrás da orelha, sorrindo ternamente:
_ Sim, mas nada de importante, ele queria te ver, estava desesperado, eu acho que ele estava chorando.
Endureci meu rosto, e creio que o buraco em meu coração se fechou um pouco:
_ Eu quero que ele sofra.
_ Pelo o que vi, ele já está.
Os pesadelos começaram logo após o que Cata me disse, eu nunca lembrava do que se tratava apenas que sentia medo, muito medo, todas as vezes minha amiga me acordava, eu começava a me sentir como uma criança problemática.
Minha semana se arrastou novamente, era como se não houvesse mais vida em mim. Tudo que eu olhava, tudo o que diziam me lembravam ele, em vez de meu coração se curar ele apenas se machucava mais.
Era meu último dia na editora, Joseane até me deu um muffin de chocolate de despedida. Faltava pouco para terminar o expediente quando ela me avisou de que alguém me chamava pelo telefone, fui até esta calmamente:
_ Quem é?
_ Eu não sei, disse que era importante_ ela virou-se para seu computador.
Peguei o telefone:
_ Boa tarde, fala Alice Almeida.
_ Alice..._ aquela voz. Meu coração acelerou, era ele. O telefone caiu no chão.
_ Ei!_ gritou Joseane_ Sei que é seu último dia, mas não precisa quebrar tudo.
_ Me desculpe_ peguei o aparelho, com a queda a chamada foi cortada e passo a Joseane.
Apertei minha mão esquerda em meu peito, a ferida abria e suas extremidades sangravam. Tentei estabilizar minha respiração defeituosa. Eu estava bem, porque ele tinha que fazer isso. Já fazia quase um mês. Ele devia continuar quieto em seu canto e nunca mais dar sinal de vida.
De volta para casa. Catarina não estava, sentei no sofá cansada e liguei a tv, era o horário da novela da minha amiga e ela ainda não chegara. O telefone tocou, me assustando. Atendi com receio, mas me surpreendi com a voz que ouvi:
_ E aí Alice_ era o Eduardo.
_ Eduardo. Como conseguiu meu número.
_ Pedi pra Amanda, você acredita que ela deu em cima de mim_ ele riu seu riso familiar e calmo.
_ Acredito, ela anda danada ultimamente.
_ Bem, eu só liguei para confirmar se você virá amanhã.
_Amanhã.
_ Sim, a exposição da minha mãe, ela está ansiosa para te ver, e eu também_ ele completa.
Droga. Eu tinha esquecido completamente:
_ Eu vou sim.
_ Eu estive pensando se você quer jantar comigo depois da exposição.
O que.
_ Ah pode ser._ minha língua criando vida novamente.
_ Que bom, a exposição começa as seis e meia estarei te esperando.
Sentei pensando no que ele disse, ele parecia animado, mas eu não sentia nada, eu estaca oca e com um buraco no coração.
E assim foram meus últimos três meses. Eu me olhava no espelho verificando a mudança em meu rosto e corpo, a foça não pegou leve comigo, emagreci uns três quilos. Cata entrou em meu quarto sentando na cama:
_ Que roupa você vai levar?
_ Acho que aquele vestido roxo é bonito e casual, e as botas serão confortáveis, caso eu queira fugir._ vejo que ela mexe a cabeça para mim rindo.
_ Tenho novidades_ ela cantarola_, o Eric me convidou para jantar.
Paro na porta do banheiro encarando-a:
_ Porque não me contou antes.
_ Ah eu esqueci, e depois que você contou sobre a ligação do Eduardo me animei, olha eu sei que ele tem amizade com aquele que não deve ser mencionado, mas eu gosto dele e ir devagar é bom, estou conhecendo ele melhor e sem pressão.
Apenas sorrio a ela. Cata sabia se cuidar. E apesar do que vi e vivi não poderia influenciar em sua vida. Sentei ao seu lado arrumando meu cabelo em um coque desajeitado:
_ Arrase esta noite e deixe- o de boca aberta.
_ O mesmo digo para você, já que está na cara que o Eduardo ainda tem uma queda por ti.
Foi inevitável sorrir:
_ Eu não estou muito animada para essas coisas, mas quem sabe, né.
_ É assim que se fala garota.
Ela me empurrou e acabei deitando na cama, mas logo meu sorriso se borrou, eu precisava contar a minha amiga o que aconteceu, sei que ela era capaz de fazer uma loucura, mas eu precisava contar a alguém ou eu explodiria:
_ Cata…_ Ela me fitou ainda com seu belo sorriso estampado em seu rosto_, aquele dia…
Na hora ela percebeu ao que me referia. Contei tudo, como toda a coisa foi, até o momento da simulação de estupro que planejavam. A boca dela ficou aberta e seus olhos estavam duros sem expressão.
_ Fale alguma coisa._ disse ao vê-la daquele jeito, ela respirava com dificuldade e parecia que iria chorar.
_ Agora entendo seus pesadelos e como você chorou aquele dia_ ela não sabia se me olhava ou encarava o chão_, e me sinto tão culpada por ter te incentivado a ficar com aquele que não deve ser mencionado.
_ Não foi sua culpa_ abracei meus joelhos, lembrando_, eu me senti atraída a ele, e não pensei direito.
_ Mas, o que fizeram com você foi algo muito sério.
_ Eu sei, acho que eles formam um tipo de sociedade secreta. E o que não deve ser mencionado é o mestre deles segundo a Greta e a Silvia.
_ Você nunca suspeitou que ele fosse um dominador?
Olhei torto para minha amiga:
_ Eu sempre soube que ele era um, mas não nesse sentido.
_ Ele nunca te ditou regras sobre uma relação bdsm?
_ Cata, isto não é a baboseira do 50 tons de cinza, essa é a vida real é muito mais complexa, você não percebe o que há por trás de tudo isso, eles estão interligados de certa forma, há uma rede de poder por trás de tudo isso.
_ E o que você pretende fazer.
_ Nada_ confesso em derrota_, só quero manter distância de tudo que tenha relação a esse grupo sinistro._ respiro fundo tentando afastar as lembranças_ e agora mesmo quero me arrumar porque meu ex me espera e eu tenho que estar decente e ao mesmo tempo linda.
_ Ah deixa isso comigo_ diz ela levantando da cama e pegando meu vestido roxo.
Depois de me arrumar peguei o ônibus das quatro para Guarulhos, Cata me abraçou forte, ela estava preocupada, mas agora tudo o que passou ficaria no passado, eu estava decidida. Eu curaria a ferida em meu peito sozinha. O ônibus partiu pontual, fechei meus olhos tentando descansar, mas cada vez que o fazia aquela mascara aparecia para me atormentar, deu uma vontade de voltar no tempo, para aquele dia no shopping quando Eduardo apareceu se eu tivesse deixado me levar pelo o que senti naquele momento talvez eu nunca estaria tão ferida como estou hoje. Talvez apenas me sentiria mal por mais uma vez ter sido traída ou talvez estivesse tendo uma vida diferente ao lado de Eduardo, o buraco em meu peito parecia diminuir nesse instante, talvez eu deva apenas parar de pensar e seguir um rumo diferente, esse rumo que a vida está me dando agora.
Cheguei as seis e pouco na rodoviária. Peguei um taxi, indo para a galeria que já estava lotada, me surpreendi ao ver um grande cartaz escrito "Flores e Borrões. Sejam bem-vindos a exposição de Isabella Siqueira", sai do veículo fascinada pelas luzes coloridas na frente da galeria dando um ar extravagante e ao mesmo tempo elegante a entrada.
Na porta havia uma foto de dona Isa como eu a chamava, pintando um de seus quadros, adentrei o local, os quadros estavam expostos e as pessoas passeavam admirando-as.
_ Alice!_ ouvi alguém gritar_ Alice!_ quando me virei para ver quem era, ele me pega erguendo-me alguns palmos do chão e girando, era o Eduardo_ como é bom te ver.
_ Nossa que exagero hein_ digo livrando-me de seus braços.
_ Para mim não é exagero_ ele me segura pela mão_ venha ver os quadros, tem um em especial que eu quero que veja._ ele pegou duas taças de vinho branco do garçom que passava e deu um destes para mim.
_ Ei mãe, olha só quem está aqui!_ gritou.
E dentre um grupo de pessoas, vejo a mulher que antes ouvira meus lamentos sobre seu filho, ela mudara nesses últimos anos, seu cabelo estava mais branco e seu rosto angelical era tranquilizador, meu coração se sentia em casa, o buraco estava se fechando:
_ Dona Isa._ ela me deu um forte abraço.
_ Menina! Como você está linda! Nem faz jus ao que o Edu disse.
_ Mãe_ disse ele entre dentes e eu ri.
Olhei o quadro a minha frente e o reconheci, era uma garota de perfil em um balanço e estranhamente senti que ela se parecia a mim:
_ O nome é Alice no balanço_ disse dona Isa_, eu sempre te via sentada, pensando e essa imagem nunca saiu da minha cabeça.
_ É muito lindo, me sinto lisonjeada._ realmente a pintura era fascinante e me fez lembrar uma época feliz.
Conversamos sobre mais eventos como o do balanço e eu sempre olhava com aquele olhar de agradecimento, ela secou minhas lágrimas quando chorei pelo seu filho, ela sorriu para mim, como se soubesse no que estava pensando.
Eduardo me segurou pelo cotovelo, sussurrando em meu ouvido: _ Vamos dar umas voltas.
Apenas assenti acompanhando-o:
_ Como tem estado sua vida em São Paulo.
Uma Merda.
_ Bem e a sua como contador._ pergunto casualmente.
_ Cheia. Tenho meu próprio estúdio e já tenho uns 50 clientes..._ nisso ele para de falar_, pelo visto sua sombra também veio.
_ O que? _ pergunto sem entender.
Ele aponta para frente e meus olhos não estavam preparados para o que veriam, era ele, vestindo seu terno cinza e segurando uma taça de vinho branco na mão, ele estava com barba? E um meio sorriso sombreava seu rosto. Eu gelei na hora, minha respiração começou a falhar, o medo me invadiu e eu não sabia o que fazer. Ouvi que alguém chamava Eduardo:
_ Já volto _ disse este se afastando.
Eu queria gritar, por favor, não me deixe aqui sozinha. Mas, já era tarde, Eu olhei para todos os lados procurando uma rota de fuga, meu coração a mil e o medo aumentou ao ver que este se aproximava com seu andar felino, eu não tinha escolha a não ser ficar.
_ Srta. Almeida_ soltou este casualmente, sua voz amena.
Vaguei meus olhos para todos os lados menos para ele:
_ Sr. Readen._ minha voz saiu afetada.
Ele se aproximou quase se encostando a mim, a eletricidade passou por mim e eu pulei esbarrando em uma mesa quase derrubando um jarro de flores que este segurou:
_ Acalme-se Alice. Eu não vou te machucar.
Nesse instante não evitei, estava com raiva, e olhei para ele que ao me encarar de perto se assustou:
_ Minta para outra pessoa_ desvio dele tentando ir onde Eduardo estava_ o que está fazendo aqui?_ soltei acusadoramente.
_ Fui convidado_ responde este seguindo-me_ precisamos conversar Alice.
_ Não há nada para conversar._ soltei seca.
Apenas senti seu toque em minhas costas nuas, a eletricidade passou por meu corpo e aquela sensação entorpecente me consumiu, por mais errado que minha mente dissesse que aquilo fosse eu queria sentir. E este sussurrou próximo ao meu ouvido:
_ Me ouça, Alice, eu te peço, por favor.
Fechei meus olhos, respirando fundo e afastei-me de seu toque:
_ Tudo bem, mas em um lugar público.
Este afirma, eu ainda evitava olha-lo diretamente, tinha medo daqueles olhos:
_ Há um restaurante na outra esquina e pelo o que vejo você precisa se alimentar mais.
Desta vez o encaro, se olhar matasse com certeza James Readen estaria morto, ele notou isso pois recuou.
_ Quem você pensa que é para dizer o que devo ou não fazer, só de olhar para você lembro de couro, látex e aquele cheiro horrendo e isso revira meu estomago, então eu não vou comer.
Readen apertou os lábios em uma linha reta, e seus olhos caíram ao chão:
_ Está bem, vamos apenas conversar._ este me indica o caminho.
Passo por ele, quando ouço alguém me chamar:
_ Ei aonde você vai_ era Eduardo.
_ Nós estamos de saída_ sua voz soou firme e imponente, com certeza tentava bancar o macho alfa, dominador.
_ Mas, e o nosso jantar..._ A voz de Eduardo era suplicante. Os olhos de Readen vagaram de mim a Eduardo.
Sorrio automaticamente:
_ São apenas negócios, volto logo para irmos, sim.
Este sorriu, olhei para Readen e seguimos adiante. Seguimos pela calçada, eu apressada na frente dele, enquanto este tentava acompanhar meus passos.
_ Então você e o Eduardo estão...
_ Não é da sua conta_  solto furiosa. Eu estava nervosa, com frio, não tinha bebido o suficiente para uma conversa com Readen, não sei mais o que ele iria querer dizer, eu só queria sair correndo, mas eu não sou esse tipo de pessoa, ficarei e enfrentarei meus problemas.
Entramos em um restaurante tradicional, este fala com o garçom, enquanto observo as pessoas ali presentes, logo este nos encaminha para um outro lado do restaurante que estava vazio, havendo apenas uma mesa com velas nesta. Meu coração gelou:
_ Eu não vou sentar ali com você.
_ O que vamos conversar é muito importante, envolve muitas pessoas por isso precisamos de privacidade.
Assinto resignada. Sentamo-nos e o garçom pergunta:
_ Posso anotar seu pedido?
_ Por enquanto nada_ diz Readem gentilmente.
E eu solto acelerada como sempre:
_ Um vinho do porto suave, por favor_ e olho para Readen_ Você vai pagar.
Ele apenas sorriu. Quando o garçom saiu, ele começou:
_ Eu não sabia que a Greta e a Silvia armaram uma armadilha para você.
_ Você espera mesmo que eu acredite nisso?
_ Sim, especialmente quando te contar tudo.
O garçom voltou servindo-nos do vinho. Para logo se retirar deixando a garrafa. Readen me olhou, ele parecia ofegante e sua boca estava meio aberta. Minha expressão dura em nenhum momento amenizou, eu apenas queria a verdade.
_ Eu conheci a Greta há uns dez anos quando terminava minha faculdade em Londres, como já trabalhava com Augustus meu nome estava cada vez mais sendo reconhecido na área empresarial. Passamos uma noite juntos foi ela quem me apresentou a este mundo, eles pegam pessoas em ascensão e as fazem alavancar. Eu não pedi isso a ela, eu apenas estava curioso e queria novas emoções e me deixei levar pela situação, eu era jovem, Alice, todo homem gosta de se aventurar, aproveitei não vou negar eu gostava de ser o dominador.
_ Então eu estava certa, você é um dominador.
_ Gosto de ter controle sobre as coisas, mas não, eu não sou._ o encaro incrédula_, a Greta é uma dominadora, passamos algumas situações juntos tanto que me fez as cicatrizes que um dia você me perguntou, eu não a queria, disse que nunca me deixaria dominar por seus caprichos, mas ela parecia não entender. Diversas vezes fui para a cama com ela sem saber, pois, devido as máscaras nunca a via. Há uns dois anos Silvia me nomeou como o terceiro no comando_ isso queria dizer que a Silvia era a primeira e a Greta a segunda..._, elas não queriam que eu saísse, uma vez dentro ninguém sai, eu fui o primeiro a pedir.
_ E porque você queria sair?_ minhas perguntas pareciam a de uma entrevistadora nesse momento.
Ele riu um riso seco e triste:
_ Eu cansei, como disse não faço parte daquele mundo, eu apenas estava ali para me divertir, você acha que eu gosto de bater nas minhas mulheres? Ou machuca-las para obter prazer? Não sou assim, não sou como o Jorge, ele é masoquista, e está nesse grupo há anos, não consigo me ver casado e mantendo uma vida dupla.  Por isso eu mantinha minha vida sexual a parte, tanto que as vezes os tabloides ficavam sabendo. Greta me dava sermão cada vez que uma notícia aparecia. As pessoas que frequentam aquele lugar, vão para expor seus maiores desejos, você viu alguns naquele dia e deve ter sido um choque, lá eles se sentem livres e fazem o que querem.
_ E porque estou ouvindo isso exatamente.
_ Porque você foi meu momento decisivo_ meu corpo se arrepia com suas palavras_, eu já vinha querendo sair, mas nunca aceitaram meu pedido, e você apareceu, me decifrando logo de cara. Eu sou louco por você, e quando viram que eu estava realmente decidido e que você era o motivo, armaram para cima de mim, lembra que eu disse que resolveria meus problemas_ assinto com a cabeça_, eu estava fazendo isso, aquele dia era para ser minha última aparição e logo eu estaria livre daquilo tudo, livre para você.
Bebi meu vinho tentando evitar seu olhar sob mim:
_ A Greta está obcecada por mim e convenceu a irmã a fazer o que fez contigo. Ela é perigosa e é capaz de qualquer coisa para obter o que quer.
_ Mas, ela quer você.
Ele mexe a cabeça:
_ E isso nunca será possível, porque eu sou seu.
Droga. Porque ele tinha que dizer essas coisas, minha cabeça ainda estava girando com tudo o que acabou de me confessar, levantei da mesa, e quando eu ia correr, seus braços me envolveram, abraçando-me por trás. Meu coração parou com seu toque e aquela familiar eletricidade, parecia tão errada e ao mesmo tempo tão certa.
_ Por favor, Alice, me dê mais uma chance, eu não me importo com aquelas pessoas, ou com a Greta, eu só comecei a viver quando te conheci, do que adianta ter todo o dinheiro do mundo quando não posso te ter.
Sua voz próxima a meu ouvido era um sussurro, e seu hálito doce roçava em minha pele, fazendo os músculos de minha barriga se contraírem.
_ Me solta._ minha voz saiu estrangulada e seus braços me liberaram.
_ Eu não quero te perder._ seus olhos estavam vacilando do castanho ao verde, ele estava receoso.
Ri ironicamente:
_ Você nunca me teve.
Corri o mais rápido que pude, consegui ver ao sair seus olhos vagos no chão em derrota. Meus pulmões já não me sustentavam, parei na frente da galeria, cansada em busca de ar, meu coração batia forte, não pela corrida, mas por sua presença, aquele sentimento era tão errado e por um instante pude sentir que a ferida já não doía tanto. Eduardo apareceu encarando-me:
_ Alice, você está bem.
Apenas o abracei forte:
_ Ei calma, aconteceu alguma coisa._ pergunta este cuidadosamente.
_ Não_ sussurrei, eu estava mentindo, eu queria chorar, espernear, cair no chão e ficar em posição fetal. Eu só queria um tempo para pensar.
Eduardo me abraçou carinhosamente, mas meu corpo não queria esses braços, apenas deixei uma lagrima rolar, eu não queria sentir isso, vim com o objetivo de juntar os pedaços da minha vida e agora ele tinha aparecido e me deixado em dúvida novamente. "Eu sou seu" ecoava pela minha mente e o buraco estava cicatrizando, porém ainda doía e muito...

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Espero ansiosa pelos comentários, critiquem, pisoteem, façam o que quiserem kkkk... Amanhã tem mais capítulo, beijinhos Black hearts!!!!

With Eyes Wide Open (De Olhos Bem Abertos)Onde histórias criam vida. Descubra agora