Capítulo 8- Ele

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Amor é a busca da sua outra metade. Amar a pessoa errada é normal. Só assim para darmos valor quando o verdadeiro amor vier.

Eu não tirava a voz dela da minha cabeça. Estava deitado na cama olhando para o teto, o relógio piscava em 02h07 da manhã, e eu não conseguia fechar os olhos. Nunca procurei saber como era o amor dos meus pais, e tenho certeza que minha tia sabe sobre essas coisas.
Poderia ir vê -la amanhã, já que é domingo. Nunca senti vontade de perguntar sobre isso, mas Safira me despertou uma curiosidade sobre o assunto.
Vamos dormir, Nicholas...

Fechei meus olhos e me deixei levar.

Ela estava com aquele vestido deslumbrante, do mesmo jeito que eu a tinha visto, seu perfume estava em todo o lugar, e eu ficava zonzo com sua fragrância. Ela veio para meus braços e começamos a dançar.
–– Você está linda...–– falei 
–– Obrigado, Nicholas..–– ela veio para me beijar

Acordei no instante mais interessante do meu sonho, e isso já me fez acordar irritado. O relógio apitava em 10h15 da manhã, e eu queria voltar para meu sonho só por alguns minutos à mais.
Me levantei sabendo que não iria conseguir nada.

Depois de um banho, eu fui tomar meu café. A mesa já estava posta, e eu me sentei sozinho de novo. 
–– Bom dia, Senhor–– Joana serviu as frutas 
–– Bom dia...––falei –– Onde está Margô?
–– Ela saiu para fazer compras –– Joana informou 
–– Obrigado. 
–– Com licença –– ela se retirou

Depois do café, me vesti casualmente - uma calça jeans, um tênis preto, uma blusa vermelha e minha jaqueta de couro. Peguei a chaves do meu carro e decidi fazer uma visita para minha tia. Tinha algumas perguntas.
Minha mãe mora em Los Angeles, e eu mandei ela ficar longe de mim para sempre. Não perdoava ela pelo fato de feito meu pai se matar, e tenho certeza que depois de ouvir minha tia, vou criar mais ódio dela, mas isso não importava. Eu queria mesmo saber.

Minha tia morava no subúrbio de Dallas, e eu não vinha aqui a muito tempo. Saí do carro me sentindo deslocado ali.
A campainha tocou assim que eu a apertei. Ouvi passos e quando a porta se abriu me senti uma criança órfão de novo, sendo trago para viver com os tios.
–– Nicholas! –– ela me abraçou ––Meu amor, você por aqui? 
–– Tia, estou sem ar...––falei sobre seu aperto
–– Que saudade...–– ela tocou meu rosto –– Entre.

Entrei na casa vendo que nada mudou. Ainda tinha fotos minhas com eles e meus amigos. Fui para a sala e me sentei no sofá tenso.
Ela veio da cozinha com uma bandeja cheia de biscoitos e limonada.
–– Tia, eu já tenho 23 anos...–– falei
–– Todo mundo gosta de biscoitos ––ela ralhou

Eu comi um para não fazer desfeita. Eram meus cookies favoritos, nos quais eu vivia pedindo para ela fazer.
–– Qual o motivo da visita? –– ela perguntou 
–– Queria fazer umas perguntas –– falei
–– Sobre o quê?
–– Como meus pais eram? Eles se amavam?

Ela ficou triste. Deu um longo suspiro e então olhou para mim.
–– Querido...nunca contei isso para você, afinal você era uma criança.
–– O quê?
–– Seu pai, ele era doente meu bem –– ela disse me deixando pasmo
–– Espera. O quê?
–– Seu pai tinha um problema mental –– ela contou –– sua mãe conheceu ele, e sem querer ele ficou obcecado por ela. Ela se casou para que ele não piorasse, pois ele vivia ameaçando se matar. Mas ela cansou. Ela aguentou muito.

Meu coração estava tão rápido quando as asas de um beija-flor, sentia que ia sofrer um infarto ali mesmo.
–– Eles não se amavam? –– sussurrei 
–– Não, meu bem...–– ela disse em tom de lamento –– mas ela te amava, porém você não queria viver com ela, então...
–– Não, não pode ser...––Fechei meus olhos
–– Posso mostrar os exames de seu pai –– ela ofereceu ––eu devia ter contado, mas aconteceu tanta coisa. Seu tio morreu, você assumiu a empresa e sumiu, essa história fugiu da cabeça.
–– Então não foi por amor...–– sussurrei –– meu pai não se matou por amor.
–– O quê? –– ela perguntou –– claro que não. Ele nem sabia o que era amor, ele tinha obsessão por tudo que ele achava pertencer a ele.
–– Você amava o titio –– olhei para ela
–– E ainda amo...–– ela sorriu–– a saudade machuca, mas um dia eu verei ele de novo. Sou feliz por tudo que vivemos juntos.
–– Saudade...–– murmurei

Fechei meus olhos analisamos meus julgamentos precoces. 
–– Você está bem, querido? ––ela perguntou
––Estou... eu só...estou absorvendo.
–– Ah. Bem, sua mãe não tem culpa que...
–– Melhor eu ir –– interrompi –– eu preciso pensar. 
–– Tá bem.
–– A senhora precisa de algo, Tia?
–– Não, amor. Só me ligue para dar notícias –– ela sorriu
–– Tá bem ––beijei a testa dela e fui para meu carro

Eu cantei pneu querendo sumir dali.

Estava no meu escritório, Margô tinha me visto e ficado preocupada, mas eu afirmei estar bem. Minha mente dava voltas sobre tudo que eu descobri, sobre tudo que agora eu sabia.
Havia magoado diversas mulheres por nada. Para vingar um doente. 
Sou um idiota! Isso que eu sou!
Respirei fundo certo da minha mudança.
Eu não podia continuar com isso, e então eu iria acabar com isso agora.
Eu iria parar com o meu jogo, e me isolar, eu não precisava iludir as mulheres, mas também não merecia achar minha metade depois de tudo que fiz.
OK.. chega de melancolia.
Liguei meu notebook e comecei a trabalhar.

Estava correndo ao redor da minha casa, os fones de ouvido às alturas me deixavam submerso do mundo. O jardineiro olhava para mim cada vez que eu passava por ele. Eu não fazia exercício a não ser que eu estivesse irritado ou pensativo. Passo pelo jardineiro mais uma vez e então ele acena para mim. Tiro os fones e vou até ele.
–– Senhor, uma mulher acabou de chegar. Margô mandou chamá -lo
–– Mulher? –– perguntei 
–– Sim. Se chama Natasha.

Oh, não...
Agradeci e entrei. Natasha estava na sala; ela vestia um vestido curto azul e estava com o cabelo amarrado.
–– Natasha?–– Chamei confuso 
–– Olá, senhor –– ela sorriu
––Olá...–– cruzei os braços –– o quê faz aqui?
–– Tive que lhe trazer as cópias dos novos programas –– ela me deu as folhas de papel 
–– Podia ter deixado para amanhã –– falei 
–– Não foi nada –– ela corou ––podíamos ir almoçar...
–– Natasha...––interrompi–– Você é minha funcionária. Apenas isso...

Seus olhos ganharam um brilho decepcionado e triste.
–– Ah. Claro, eu só...
–– Desculpe se te dei esperanças –– falei sinceramente 
–– Tudo bem–– ela pegou sua bolsa–– Bom domingo

Ela saiu apressada.
Merda!
Tomei um banho longo e fui para a minha sala de eletrônicos, coloquei em um filme qualquer e me deixei distrair.

O Chefe e a EstagiáriaOnde histórias criam vida. Descubra agora