Capítulo 17- Ela

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Sexta-Feira
27 de junho

Estava saindo da faculdade depois de finalmente terminar minha prova. Minha cabeça dava voltas e eu não conseguia pensar direito.
Nesses últimos meses, eu nunca mais tinha visto meu chefe como o simples Nicholas. No fundo eu sabia que isso não iria durar muito; nossos olhares não se cruzavam como antes, e ele conseguiu obedecer os limites, porém, tinha algo diferente nele. Como uma raiva escondida, ou uma agonia presa. Eu não podia dizer que estava diferente, eu sentia raiva por ter me deixado sentir algo por ele, achando que milagrosamente ele iria mudar, tal como nos filmes e novelas, mas eu sou uma estúpida.

Na frente da faculdade, Allan me esperava em seu carro preto antigo, fui até ele e me joguei em seu abraço.
–– E como foi sua prova? –– ele perguntou 
–– Parecia tudo certo –– sorri –– então devo ter me ferrado
–– Palhaça –– ele riu –– Deve ter se dado bem.
–– Vamos tomar um café? –– convidei 
–– Você não tem trabalho? –– ele perguntou
–– Só daqui uma hora –– chequei o relógio vendo que ainda eram 11h30
–– Então vamos, baby.

Era uma lanchonete bem fofa. Parecia uma doceria do desenho da Barbie; era da cor rosa goiaba e rosa pink. Tinha um pouco da cor creme no rodapé, umas mesas em formas de coração, e vasos de flores no centro de cada mesa. Tinha janelas de vidro e algumas tinham cortinas; no balcão havia de tudo: Cupcakes, bolos, brigadeiros, casadinhos, Walfes, e etc. E para beber, tinha vitaminas, refrigerante, café, cappuccinos e outros. Era um lugar que cheirava a casa nova e chiclete.
Escolhemos uma mesa perto da janela, e Allan pegou o cardápio e eu virei meu rosto para janela. Não estava bem, emocionalmente. Me sentia estranha, como se não houvesse nada de errado, mas eu sabia que tinha; e parte minha tinha certeza que Nicholas era parte dessa angústia. Foram três beijos, três momentos que eu nunca vou esquecer; como eu acreditei que momentos tão surreais não poderiam me fazer cair se amores por ele?
–– Safira?–– a voz de Allan me fez olhar para ele –– você está bem?
–– Hã, um pouco –– suspirei 
–– Pedi duas vitaminas de morango –– ele falou
–– Obrigado –– sorri sem vontade 
–– Nesses últimos meses você tem estado muito distraída.
–– É. Devo estar mesmo–– olhei para minhas mãos juntas na mesa
–– Quer falar sobre isso? 
–– É o meu chefe –– já estava falando 
–– Ah...–– Allan não pareceu contente 
–– Eu acho que confundi as coisas –– olhei para Allan–– Achei que fosse conseguir deixar pra lá, achei que fosse apenas uma atração carnal por um cara bonito, como já tive diversas vezes. Mas depois do nosso beijo e daquele dia...
–– Eu sabia que você tinha saído com ele –– Allan bufou
–– Eu sei... –– franzi o cenho –– você estava me espiando, certo?
–– Você sabia?
–– Claro. Você me ligou, lembra?
–– E por que não falou sobre isso antes? –– Allan perguntou 
–– Porque eu não tinha nada o quê falar –– revirei meus olhos –– Mas agora tenho, já que meses atrás ele disse que íamos ser apenas profissionais.
–– Ah, claro, conseguiu o que queria e largou. –– Allan disse como se soubesse das coisas 
–– Por que diz isso? ––sussurrei 
–– Porque é isso que chefões ricos e jovens como ele fazem ––Allan olhou para mim irritado –– avisei para você, não foi?
–– Acha que a culpa é minha? –– Queria chorar de raiva
–– Não, Safira –– ele olhou fundo em meus olhos –– mas talvez você devesse parar de procurar o cara certo em homens errados. Por que é tão difícil você enxergar quem realmente quer você?
–– Não estou entendendo, Allan –– estava mais perdida que cego em multidão

Ele ia falar, mas a garçonete chegou com nossas vitaminas.
–– Quero um Cupcake, por favor –– pedi para ela
–– Um momento –– ela sorriu e saiu

Allan bebia sua vitamina parecendo irritado, e eu não entendia o motivo. Não tinha nada com ele, eu só precisava falar com ele, afinal, Cláudia voltou um mês atrás de sua lua de mel e ainda está arrumando sua casa nova, não quero fazê-la vir até mim só para pedir um conselho. E Allan é meu melhor amigo, por que não posso pedir para ele?
–– Às vezes acho que você gosta de caras errados –– Allan murmurou 
–– O quê deu em você? –– quase gritei –– Achei que pudesse contar com você quando precisasse 
–– E pode. –– ele afirmou –– mas, você não me ouve. Do que adianta?
–– O quê quer que eu faça?
–– Saia desse emprego antes que essa sua paixão fique maior –– ele disse –– de quantas provas mais precisa para ver que ele não tá nem aí pra você?

O Chefe e a EstagiáriaOnde histórias criam vida. Descubra agora