O Chefe e a Estagiária

Capítulo 13- Ela

Estava minha mesa sentada, o buquê estava no centro da mesa e eu recebia olhares irritados das solteiras do salão. Cláudia veio sorrindo até mim e eu sorri de volta.
–– Você pegou! –– ela comemorou 
–– E quase fui atingida na cabeça –– eu ri
–– Acho que é um sinal.
–– É. Tenho que ficar mais para trás em casamentos.
––Safira! –– Ela repreendeu –– por que não está com Nicholas?
–– Já disse por quê –– suspirei 
–– E eu disse para você tomar suas próprias conclusões.
–– Ele é meu Chefe –– lembrei 
–– E daí? –– ela cruzou os braços 
–– Não sei...–– revirei os olhos –– não quero ter de misturar coisas. Eu só quero me manter longe de confusão.
–– Se eu me mantivesse longe, não teria casado –– ela disse

Eu olhei para ela vendo que eu estava errada. Tomar conclusões precipitadas era uma burrice, mas tudo apontava para que ele fosse um galinha.
–– Vai até ele ––Cláudia mandou –– eu vi a troca de olhares quando você pegou o buquê 
–– Foi impulso. Só isso
–– Vai logo...–– Cláudia foi para centro do salão dançar com o seu pai.

Paulo dançou com sua mãe e eu peguei o buquê passando os dedos nas pétalas das rosas brancas. Olhei para Nicholas que observava todos, mesmo que sua mente não estivesse ali. Caminhei até ele sendo notada no mesmo instante.
–– Não consegue ficar longe de mim? –– ele ri
–– Algumas ordens não podem ser cumpridas –– eu dei de ombros 
–– Não acredito que disse isso –– ele riu
–– Eu disse –– afirmei 
–– Me desculpe –– ele pediu
–– Pelo o quê? –– perguntei 
–– Por ter te beijado –– ele disse me deixando decepcionada

Claro que ele não gostou! Ele te beijou por beijar, mas não quer nada com você, afinal, ele tentaria se quisesse.
–– Tudo bem...–– murmurei 
–– Não vou ultrapassar o limite –– ele prometeu 
–– Deixa isso pra lá –– falei já triste 
–– Mas você disse...
–– Estamos em um casamento –– repeti o que ele havia dito –– e aqui sou apenas uma amiga sua. Tá bem?
–– Amiga? Somos amigos? –– ele riu
–– Somos, eu acho –– dei de ombros rindo
–– Então tá –– ele passou a mão no cabelo

Diga que quer ser mais...
Do que ele tem medo?
–– Quer dançar mais uma? –– Ele convidou 
–– Seria um prazer –– sorri

A festa durou até tarde, quando passou dás 02h da manhã, eu me despedi de todos ali.
–– Já vai mesmo? –– Cláudia disse
–– Já –– sorri –– tenho que ver meu pai amanhã
–– Então tá. Pense no que eu te disse.
–– Vou pensar. Boa lua de mel –– sorri para ela

Dei tchau para Paulo e não avistei Nicholas para me despedir. Fui para o lado de fora e ele estava lá; parecia um príncipe encostado no seu carro de forma elegante.
–– Quer uma carona? –– ele perguntou –– eu já estou indo
–– Eu vou aceitar... –– sorri. –– não quero esperar um táxi.

Fomos o caminho todo falando sobre coisas do casamento; ele mencionou Alfredo e eu me senti culpada por rir das besteiras que Nicholas falou dele. Eu falei sobre como conheci Cláudia, e ele falou que cresceu com Paulo. 
Não era uma conversa estranha, era um papo bem comum.
Ele parou o carro na frente da minha casa e eu hesitei na hora de sair.
–– Obrigada. –– olhei para ele
–– Quando precisar –– ele sorriu
–– E se eu estiver em casa e precisar? Devo chamá -lo? –– brinquei

Ele riu.
–– Sim, deve...–– ele disse me deixando surpresa 
–– Boa Noite, Nicholas –– sussurrei –– até Segunda.
––Até segunda, Safira –– ele olhou para meus lábios e então desviou o olhar

Eu saí do carro e acenei da porta para ele. Ele ligou o carro e foi embora.

No vazio do meu apartamento, eu joguei meus sapatos em um canto. Allan tinha deixado a chave embaixo do tapete para mim, devia saber que eu não voltaria cedo. Me sentei no sofá sentindo algo no meu estômago, uma agonia na minha cabeça, uma vontade de chorar e gritar. O quê eu estava fazendo? Quem eu queria enganar? Eu já estava envolvida!
Fui para o quarto querendo dormir até toda essa confusão passar.

Acordei 10h45 no domingo, cheguei na casa do papai e vi Samuel chegando em casa.
–– Ei...–– sorri 
–– Olha, você veio –– ele sorriu ao me ver
–– Todo domingo. Onde o papai tá?
–– Ele saiu, Safira –– Samuel falou feliz 
–– Saiu?! ––meu coração se encheu de alegria
–– Sim, ele quis ir na praça. Estou voltando de lá –– Samuel falou 
–– Ele tá melhor? Mesmo?
––Sim! Ele disse que vai viver por ele e pela mamãe –– Samuel riu
–– Deus! –– me joguei no abraço de Samuel derramando lágrimas de alegria

Finalmente ele superou.

Samuel me contou como papai saiu do seu sofrimento e eu não tirava o sorriso do meu rosto. 
–– Cheguei! –– a voz de papai ecoou
–– Pai! ––fui abraça-lo
–– Minha menina –– ele sorriu –– Como você está?
–– Estou bem. E o senhor? ––perguntei 
–– Estou ótimo –– ele disse –– Fui a praça, e está tão linda.
–– Está, sim –– sorri
–– Vou fazer o seu almoço favorito –– Ele disse
–– Bolo de carne?! –– me animei
–– Exato! –– ele riu
–– Aaah. Obrigado! –– beijei a bochecha dele
–– E eu? –– Samuel se anunciou 
––Você lava a louça –– papai disse me fazendo rir
––Bem feito ––mostrei língua 
–– Sai daí, tampinha! –– ele disse

Ajudamos o papai no almoço e eu estava mais feliz que o normal. Sentamos na mesa e começamos a almoçar; eu me atualizei sobre as atividades de Samuel, sobre a saúde de papai e eles se atualizaram sobre mim.
–– Na The Planet? –– Papai parecia orgulhoso ––Que incrível meu bem.
–– É sim... ––sorri
–– E como é seu chefe? –– Papai perguntou

Oh!
–– Legal...––murmurei –– ele é gentil, educado e calmo.
–– Não esqueceu nada mais? –– Samuel zoou 
–– Ele não contrata cabeças de vento como você –– joguei migalhas nele 
–– Parem, crianças –– papai riu –– Fico feliz por seu emprego, filha 
–– Eu também –– sussurrei 
–– E a faculdade? ––Samuel perguntou mordendo seu almoço 
–– Está legal, vou ter uma palestra nada interessante na terça feira –– suspirei 
–– Eu não vou para essas coisas ––Samuel disse 
–– Porque seu curso é de Engenharia ––revirei meus olhos 
–– E daí?–– ele deu de ombros 
–– Meus dois filhos na faculdade –– Papai riu
–– Eu entrei primeiro! –– Samuel se gabou–– e sou o mais novo.
–– Vai dormir! –– joguei mais migalhas nele
–– Sua irmã entrou. É o que importa! –– papai disse rindo
–– Enfim, talvez eu não vá –– dei de ombros 
–– Está quebrando as regras–– Samuel disse –– que rebelde.
––Pai! –– reclamei como uma criança –– olha o Samuel.
–– Samuel! –– papai repreendeu

Em seguida, estávamos todos rindo.

Estava na parada de ônibus esperando meu transporte para voltar para casa, papai disse que ia jantar com Samuel e eu tinha coisa da faculdade para fazer, então, não pude ir. Ouvi passos ali perto e virei para olhar. Um garoto moreno de olhos mel se aproximava, e três anos não foram tempo o suficiente pra ele se tornar um estranho para mim.
–– Safira? –– ele me reconheceu
–– Igor –– sorri sem vontade –– quanto tempo.
–– E não é? Você está linda, amor –– ele veio até mim
–– Amor? ––ergui minha sobrancelhas 
–– Ah, desculpe. Velhos hábitos 
–– Então deixe eles de lado.
–– Por que está com raiva de mim? Você que terminou comigo.
–– Não estou com raiva, e sim, eu terminei na esperança de não ver mais a sua cara.
–– Nossa, eu não te fiz nada –– ele lembrou
–– Eu sei...–– afirmei –– só ficou me perseguindo depois que eu terminei com você.
–– Porque eu sei que você ainda gosta de mim. Não pode dizer que não.
–– Viu? –– eu ri  –– Foi por isso que eu terminei com você. Você é tão convencido, tão exibido. Me irrita você se achar tanto!
–– E você queria que eu me diminuísse? –– ele riu
–– Não! Mas já estava cansada de você falando pros seus amigos ' a Safira não vai me deixar porque eu sou o melhor ' acorda, Igor! Existem melhores!
–– E você achou melhor?!–– ele desafiou 
–– Não estou procurando ––afirmei 
–– É porque não existe! ––ele se gabou de novo

Neste momento meu ônibus surgiu e parou ali. Eu entrei no ônibus sem dar tchau para ele. Me sentei irritada sentindo aquela raiva me consumir. Me irritava eu não ter achado ninguém depois dele, me irritava eu estar sozinha!
Por quanto tempo mais?!
Encostei a cabeça na janela do ônibus e deixei meus pensamentos fluírem naturalmente, deixando aquele aperto no peito me entristecer lentamente.