Capítulo 10- Ele

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Qual era o meu problema? Por que diabos eu fiz isso?!
Minha cabeça estava cheia da imagem do nosso beijo, meus lábios ainda com rastros da força investida de ambos os lados. Eu não queria fazer meu jogo com Safira, e nem quero arranjar uma namorada agora, porém, eu não consegui me controlar. Ela estava me olhando daquele jeito, falando...tão...sexy.
Chega, Nicholas!

No fim do expediente eu saí da sala pronto para ir para casa, Safira já tinha ido, e eu podia compreender, ela não gosta de mim, não sente atração, nem nada do tipo, esse beijo foi como um abuso para ela. É compreensível que ela esteja com raiva.
Peguei meu carro e segui para casa disposto a por a cabeça no lugar.

Estava no meu quintal fazendo exercício; os fones estavam a altura e eu vestia apenas uma calça de malha fria. Eu me sentia um estúpido. Por que diabos eu puxei aquela garota para cima de mim? E depois fui pra cima dela? Será que eu nasci pra ser um idiota?
Não! Eu tenho escolha e não quero sair por aí iludindo mulheres. Faço isso desde os 19 anos e agora que descobri que isso é horrível e não tem fundamento, eu posso muito bem parar com isso.
Vejo a porta se abrir e então Margô surge no quintal; eu tiro os fones e paro meu exercício.
-- O seu amigo Paulo está na sala esperando o senhor --ela anunciou
-- Obrigado..-- caminhei
--Vista uma camisa, menino -- ela repreendeu- isso não são trajes.
-- Sim, senhora -- eu ri

Pus minha camiseta e fui até a sala. Paulo estava sentado e ligou o som em uma música agitada.
-- Olá...-- Falei
-- Olha, você parece jovem -- Paulo riu
-- Você podia ligar -- me sentei no sofá
-- É. Mas não...-- ele veio para meu lado -- Você não parece bem.
-- Não estou...-- suspirei

Contei a história dos meus pais para ele e por sua expressão, ele também não estava crendo.
-- Que barra...-- ele disse -- isso parece filme.
-- Sim. Parece... -- suspirei -- e hoje, eu acabei beijando minha assistente
-- Ah, cara, já começou?
-- Não! --rosnei -- você ouviu o que eu te contei? Não quero mais jogar esse jogo!
-- Aaah... -- ele parecia surpreso -- isso é ótimo.
-- Mas alguém falou para ela -- eu disse
-- Eu nem conheço a garota -- Paulo se defendeu -- e eu não contaria
-- Eu sei... -- suspirei -- só que... acho que eu quero ela.
-- Mas você não disse que..
-- Disse que não quero iludir ela. Mas eu sinto um desejo... principalmente quando ela me olha daquele jeito
-- Então, porquê você não pede a ela para ser sua? -- ele sugeriu
-- Porque eu não quero namorar -- Falei -- eu fiz mal para diversas mulheres, e isso tem um preço. Vou me foder!
-- Nicholas, para de ser tão precavido Paulo ralhou -- você tem que se arriscar.
-- Ela nem gosta de mim -- bufei -- ela ficou irritada porquê eu a beijei. Mandou eu ficar longe.
-- Uau...--Paulo riu -- essa é nova.
-- Eu só me sinto um estúpido. Ela é uma ótima assistente
-- Então trate ela como tal. Você vai conseguir -- Paulo disse
-- Eu sei. Eu tenho que conseguir --suspirei
-- Se precisar de ajuda -- ele estendeu sua mão
-- Valeu..--agradeci -- e como vai o casamento?
-- Ah, tudo ótimo! -- Paulo se animou -- No sábado, estarei casado com a garota perfeita.
-- Por que você gosta da Cláudia?-- perguntei

Vamos ver como é uma pessoa apaixonada.
-- Por quê?-- ele riu--Não sei. Eu só sinto, como se tudo melhorasse quando ela está perto. E quando brigamos, eu não me importo em pedir desculpas, mesmo que ela esteja errada, eu só quero saber que estamos bem. Ela é...sei lá.. acho que não tô explicando bem.
-- Não, você está explicando bem-- eu ri
-- Eu amo ela -- Paulo disse -- não sei porquê, mas eu amo.
-- É, dá pra ver -- sorri
-- Por que a pergunta?
--Só queria ver como é...
-- Olha, quando uma pessoa ama, ela não sabe o por quê -- Paulo disse-- ela não sabe, ela simplesmente ama.
-- Já ouvi isso... -- sussurrei
-- Um dia você vai perguntar para alguém por quê ela te ama--Paulo disse -- e ela não vai saber te responder. E isso vai deixar ela desesperada, porque a pessoa que está amando quer explicar pra todo mundo os motivos por amar aquela pessoa. Mas não consegue...
-- Deve ser frustrante -- comentei
-- É como não saber falar -- Paulo riu
-- Bom, então, você já sabe. Tô fora do jogo da ilusão.
-- E eu estou feliz por isso -- Paulo sorriu
-- Você quer jantar? -- convidei
-- Não...-- Paulo lamentou -- Cláudia e eu vamos escolher o restante das flores.
-- Ata...--Assenti
-- Vim aqui por quê queria pedir uma coisa -- ele me olhou
-- O quê?
-- Você quer ser meu padrinho de casamento?

Arregalei meus olhos.
-- Eu? -- quase engasguei
-- Sim. Você é meu melhor amigo.
-- Cara, seria um prazer, de verdade -- sorri surpreso
-- Sabe que o padrinho não pode faltar, né? --ele riu
-- Eu não vou faltar -- revirei meus olhos
-- Então você aceita?
-- Claro!
-- Ótimo... -- ele agradeceu -- Cláudia vai convidar a amiga dela para ser a madrinha, apresentamos você para ela no dia.
-- Tá bem... -- concordei
-- Bom, já que aceitou, é melhor eu ir -- Paulo se levantou
-- Te acompanho -- segui ele

Paulo foi embora e eu sorri ao ver que não estava tão esquecido quanto eu me sentia.

Fui para o meu escritório depois de um longo banho e decidi trabalhar mais, eu conseguia me distrair por alguns minutos, mas logo minha mente trocava de canal e me levava para outro tempo. Estava cansado, eram muitas mudanças; desde que meu pai morreu eu venho culpado minha mãe, quando na verdade ela foi uma guerreira. Eu não conseguiria fazer o que ela fez; e então lembro das mulheres que eu iludi, o sorriso no rosto delas quando eu as elogiava, e depois a tristeza quando eu começava a trata-las mal. Soltei um longo suspiro pousando o rosto em minhas mãos. A imagem de Safira veio na minha mente, seus olhos no meu corpo, seu sorriso espontâneo, meu nome saindo de seus lábios, sua boca ávida contra a minha. Posso estar me martirizando por isso, mas não consigo me arrepender, não consigo deixar de gostar.

Larguei o meu trabalho e fui para a cama, coloquei minha roupa de pijamas e deixei o cansaço e a frustração me levar dali.

Ela dançava. Ela ria. Ela passava as mãos nos seus longos cabelos. Ela mordia os lábios. Ela revirava os olhos. Ela estava linda. Ela me olhava. Ela me beijava.
-- Não... -- tentei me afastar -- Não posso fazer isso.
-- Eu quero, Nicholas -- a voz dela parecia real -- me beije.
-- Safira...-- suspirei
-- Nicholas...-- ela mordeu minha orelha

Abri meus olhos ao som do rádio-relógio. A claridade estava invadindo meu quarto indicado que um novo dia havia começado.
Segui para o banheiro deixando a água quente escorrer por meus cabelos e meu corpo.
Depois, escolhi um dos meus ternos tendo dificuldades para por aquela maldita gravata.
Segui para a mesa depois de pronto, meu café já estava posto e não tinha ninguém por perto. Olhei para meu reflexo na janela da sala de jantar.
-- Bom dia, Nicholas -- sussurrei

Tomei meu café rapidamente e então segui caminho para o trabalho, ciente de que só veria Safira depois do almoço, e esperando que ela não tenha pedido demissão por minha atitude estúpida. Dei meu carro para o manobrista e segui para minha sala.
-- Sr. Magnus -- uma voz leve chegou aos meus ouvidos

Me virei vendo uma mulher loira vestida em trajes de secretária.
-- Sou sua nova secretária -- ela sorriu
-- Ah...-- apertei a mão dela

Eu tinha um gerente de cargos, e ele cuidava da contratação de novos funcionários quando eu pedia. E claro que solicitei uma nova secretária para mim.
-- Me chamo Dalila Costa -- Ela piscou
-- Bom. Espero que já tenha sido instruída --falei
-- Sim, Senhor -- ela disse -- e o senhor tem duas reuniões hoje.
-- Ótimo...-- agradeci -- me avise quando estiver tudo pronto.
-- Sim, Senhor -- ela girou em seus saltos

Entrei na minha sala e me joguei na minha cadeira.
-- Me ajude a não perder a cabeça -- pedi para mim.

O dia correu rápido, cheio de reuniões, pedidos e bajulações. Estava na minha sala quando ouço vozes do lado de fora. Decido ignorar e volto para meu notebook.
TOC TOC
-- Pode entrar -- falei sem tirar o olhar da tela
-- Boa tarde, Senhor Magnus --a voz de Safira me causa arrepios

Olho para ela vendo seu olhar neutro. Ela estava tão linda quanto no meu sonho.
-- Boa tarde, Srt. Allen -- desviei meus olhos dela
--O Senhor está bem?-- ela perguntou

Olhei para ela vendo que ela estava mesmo interessada.
-- Hã, sim...-- sussurrei -- só cansado.
-- Posso oferecer um café? -- ela sorriu
-- Capuccino, por favor
-- Claro. Três minutos- ela riu e saiu

Sorri e olhei para meu relógio.
Achei que ela estava com raiva de mim, mas aqui está ela, brincando e toda sorridente.
Três minutos exatos ela entra na minha sala com o Capuccino em mãos.
--impressionante -- elogiei
-- Obrigado... -- ela disse
-- Eu que agradeço -- bebi o Capuccino
-- Qualquer coisa me chame. Com licença -- ela saiu me fazendo olhar sua saída sedutora da sala

Suspirei e voltei para meu trabalho.
Nicholas Magnus, você vai ficar longe dela. É uma ordem!

O Chefe e a EstagiáriaOnde histórias criam vida. Descubra agora