Capítulo 19- Ela

23.4K 1.7K 122
                                    

Estava com um vestido colado preto e um salto da mesma cor. Meus cabelos estavam amarrados em um rabo de cavalo e eu fiz uma maquiagem básica. Passei meu batom vermelho e então segui para a sala, Allan estava com meu celular em mãos mexendo nele.
–– Alguém me ligou? –– perguntei, parecendo ser o único motivo que explicava 
–– Não...–– ele disse –– estava vendo as horas. Você demorou 
–– Vamos para uma balada, tenho que estar linda.
–– Você está linda. Podemos ir? –– ele riu
–– Tá...–– peguei meu celular e o joguei na bolsa.

A balada estava agitada, como de costume. Allan já tinha começado a se mexer no ritmo da dança. Eu seguia seu exemplo, atraindo olhares masculinos para cima de mim. Allan me puxou pela cintura e começamos a dançar, os homens foram recuando nos olhares e eu quis rir. Allan era meu melhor amigo, e não parecia que éramos namorados. Né?
–– Quer beber algo? –– ele perguntou 
–– Não! –– falei sobre a música
–– Eu quero –– ele segurou minha mão –– vamos até o bar.

Seguimos entre a multidão sendo empurrados por corpos que tentavam rebolar o máximo possível. Allan pediu sua bebida e eu continuei a dançar.
–– Que festa mais agitada! –– Allan ergueu seu copo
–– Como sempre –– eu ri 
–– Essa está mais.. acho que vou ficar bêbado 
–– Então eu levo seu carro
–– Urght! Melhor eu ficar sóbrio –– ele disse me fazendo empurra-lo

Continuamos à dançar, pular, beber e rir feito dois loucos. 
–– Cara! Eu adoro ser jovem! ––Allan surtou

Meu sorriso se foi ao lembrar de Nicholas. Neste momento ele devia estar em casa trabalhando; ou olhando para o seu chafariz.
Sorri com a lembrança de nossa conversa.
–– Ei...–– Allan me trouxe para a realidade 
–– Eu quero beber um! –– pedi
–– Uhul, agora sim –– ele foi pedi

Meu celular começou a vibrar e eu vi o nome de Samuel na tela.
–– Oi mano! –– gritei atendendo 
–– Ei! –– Samuel gritou do outro lado –– onde você está?
–– Numa festa –– eu disse
–– Ah, claro! –– ele riu–– Papai queria saber como você foi nas provas. Mas eu ligo depois.
–– Tá bem! –– respondi –– Amanhã é melhor.
–– Tá. Não beba muito, maninha –– Samuel desligou

Allan voltou com nossas bebidas 
–– Quem era? –– Allan perguntou 
–– Meu irmão. –– respondi 
–– Ah, tá...–– ele me deu o copo 
–– Saúde! –– brindamos
–– Vamos dançar, baby...–– ele me puxou

Eram 01h23 quando chegamos em casa. Eu não estava bêbada, mas me sentia agitada. Meus sapatos estavam na mão, e meu cabelo já tinha saído do estado arrumado.
–– Adorei essa festa –– sorri
–– Foi demais –– Allan falou quando paramos na frente de nossos apartamentos 
–– Boa noite...–– falei 
–– Boa noite, Safira. –– ele beijou minha testa

Entrei em casa e peguei meu celular para checar se havia perdido alguma ligação, porém, meu histórico estava vazio a não ser pela ligação de Samuel que era a única. Não lembro de ter apagado meu histórico, mas não me importei. Tomei um banho quente e depois me joguei na cama, pronta para hibernar.

Ele sorria. Ele me olhava. E eu me sentia transparente para ele; em passos ele se aproximou, suas mãos vieram para meu rosto e eu fechei meus olhos
–– Eu quero você, Safira. –– ele sussurrou
–– Não quer... –– não consegui acreditar 
–– Quero, sim. Por que você não consegue ver? Olhe pra mim –– ele pediu –– abra seus olhos.

Abri meus olhos dando de contra com a claridade que havia no quarto. Meu relógio mostrava que eram 12h33 e meu corpo afirmava que ainda não queria levantar. Abracei meu travesseiro e tentei voltar para meu sonho, mas claro que não consegui.
Fui tomar meu banho; e como hoje era sábado, estava pensando em passar o dia com meu pai e meu irmão, talvez pudéssemos sair. Porém, eu queria ligar para Nicholas e ver se ele queria sair e curtir um dia de folga, mas ele iria estranhar uma ligação repentina minha, então descartei essa ideia.
Vesti uma roupa de sábado leve, pronta para curtir o dia lá fora.

Ao som da banda He Is we, eu preparava um café para mim sem fazer nenhuma bagunça. Meu corpo dançava, e eu não me sentia cansada mais.
TOC TOC
–– Quem é? –– Perguntei 
–– Eu! –– Allan respondeu

Corri para a porta e abri ela de uma vez. Allan estava parecendo disposto, as roupas limpas, cabelo molhado e sorriso doce
–– Oi... –– sorri –– quer tomar café?
–– Aceito. –– ele entrou
–– O quê veio fazer aqui? ––perguntei 
–– Queria te falar uma coisa –– ele suspirou 
–– Então fale –– dei de ombros 
–– Olha, tem um tempo que eu estou imaginando uma coisa –– ele disse 
–– O quê? –– olhei para ele 
–– Nós somos amigos a muito tempo –– ele começou de um jeito que me assustou –– eu confio em você e você em mim. E eu já sinto isso a mais tempo do que alguém aguentaria 
–– Allan... ––tentei
–– Eu gosto de você, Safira –– ele disse me assustando mais –– Você é a pessoa mais importante para mim.
–– Oh. Allan...–– desliguei o fogo das panelas –– Eu...eu gosto de você. Mas você sabe que não desse jeito.
–– Como pode dizer isso se nem tentou? –– ele perguntou vindo até mim
–– Porque eu te vejo como meu irmão. 
–– Não! Samuel é seu irmão, eu não sou!
–– Allan....
–– Me beija, Safira. –– ele se aproximou –– você vai ver que também gosta de mim.
–– Não! –– me afastei –– eu não gosto de você.
–– Qual é? Tenho que ser milionário pra chamar sua atenção?!

Minha mão voou atingindo a cara dele. Ele virou o rosto com a força do tapa que eu o dei.
–– Vai embora...–– rosnei –– agora!

Ele me olhou surpreso e eu estava quase chorando.
–– Vai embora! –– berrei

Ele assentiu e saiu batendo a porta com força. Fui caindo no chão sentindo uma raiva e um medo terrível; as lágrimas caíram sentindo a força das palavras dele me atingirem como um soco.

Dispensei meu café da manhã e fui para a casa do meu pai o mais rápido possível; no ônibus eu tentava parar de pensar nas palavras de Allan para mim. Eu nunca notei que ele me via dessa forma, eu confiava nele como um irmão, me sentia segura, e agora, eu sentia raiva dele. Como se tudo que eu houvesse conhecido dele fossem mentiras contadas por alguém. 
Cheguei na casa do meu pai e da janela o vejo arrumando a mesa para o café da manhã, Samuel está rindo com ele e eu me sinto em casa. Corro para a porta e não demora para ela se abrir com Samuel do outro lado.
–– Ei! –– ele sorriu –– Que houve?

Ele notou meus olhos; neste instante eu voltei a chorar. Abracei meu irmão sentindo que era aqui que eu devia estar.
Ele me levou para dentro e meu pai veio depressa.
–– O quê houve? –– Papai perguntou preocupado 
–– Não sei... –– Samuel disse 
–– Filha... ––papai me puxou dos braços de Samuel –– Que houve, meu amor?
–– Eu... eu estou cansada –– solucei

Nós fomos tomar café, e eles me obrigaram a comer algo. Contei para eles o que houve, sobre Allan no caso, e eu nunca vi Samuel tão irritado.
–– Vou matar aquele pirralho! –– Samuel disse
–– Samuel. –– papai repreendeu 
–– Eu não acredito que ele disse isso pra mim –– funguei
–– Eu sei... –– papai disse –– mas não pode culpá-lo por gostar de você.
–– Ele não devia ter falado aquilo para ela. –– Samuel disse –– esse imbecil a conhece o suficiente para saber que Safira não é caça dote.
–– As pessoas dizem coisas ruins quando estão irritadas –– papai defendeu 
–– Não vou perdoar ele nunca. –– afirmei –– eu não acredito que ele disse isso para mim.
–– Tudo bem, maninha –– Samuel segurou minha mão –– não ligue pra ele, e deixa ele pra lá.
–– Tá bem. ––sorri forçadamente.
–– Que tal irmos passear na praça? –– papai sugeriu –– estou afim de sair de casa nesse belo dia.
–– Eu topo –– falei agora animada
–– Eu também –– Samuel olhou para mim
–– Então, lavem a louça que eu vou me vestir –– papai foi para o quarto

Samuel e eu cuidamos da cozinha, parecendo duas crianças pequenas de novo.
–– Por que Allan disse aquilo pra você? –– Samuel perguntou –– tem algum motivo para ele achar que você gosta de caras ricos?

Virei o rosto para o lado pensando em Nicholas; claro que dinheiro não tinha nada relacionado aos meus sentimentos. Mas eu sabia que Allan estava se referindo a ele.
–– Não...–– sussurrei –– não tinha motivo.

O Chefe e a EstagiáriaOnde histórias criam vida. Descubra agora