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Por Arin

Istambul, 2017

O vento soprava forte enquanto eu subia os degraus da estação de metrô e o sol reluzia, apesar de estar um tanto escondido entre as nuvens. Consegui algumas horas de paz e atravessei a cidade, já que minha mãe parecia estar ocupada com alguma visita que iria chegar, nos próximos dias. Essa tradição de fazer as visitas serem importantes, ela cumpre especialmente bem, ainda que não seja turca e sim, inglesa. Apesar disso, foi ela quem me deu esse nome diferente. Arin.

Desde que eu voltei do meu curso intensivo de Pedagogia na Inglaterra, tudo o que eu desejava era ver Mehmet. Eu não o tinha visto desde o último feriado, há, pelo menos, duas semanas e não existia nada mais que me fizesse querer voltar à Turquia, do que ele. É verão, finalmente. Vê-lo usar aquela camisa regata coberta de manchas, quando está na funilaria, me faz suspirar. Ele limpou as mãos, pediu um descanso para o seu patrão e veio até mim, sorrindo como um ator de cinema ou qualquer coisa assim e eu só pude pensar em como meu namorado é lindo.

Namorado... Eu o chamava assim na minha cabeça, mas não era como se fôssemos um casal. Nossa rotina era conversar um pouco, nos beijar escondido e cada um ir para o seu lado. Eu não sei como é a sua casa, nem ele sabe sobre a minha, porque ele sequer pretende colocar os pés lá. Minha mãe diz que Mehmet nunca pagaria um dote, mas, alô? Em que década estamos? Isso é a Turquia moderna. Ninguém precisa pagar por mim!

Estava distraída com um garoto andando em sua bicicleta, coisa que não vejo próximo à minha casa, quando Mehmet levanta a cabeça do meu colo e se vira para mim, com um sorriso luminoso e aqueles olhos verdes escuros tão espertos que eu adoro.

— E se fugíssemos, Arin? — Apoiou as mãos nas minhas coxas, me puxando para si. Eu fiquei nervosa com o movimento e proximidade. Minha mandíbula tremeu um pouco.

— Para onde? — Fiz uma cara desentendida e encolhi os ombros.

— Grécia. — Balançou as mãos rapidamente, em negativa. — Ou Bulgária! A princípio...

— Com que dinheiro? — Ele tem a mente muito criativa, às vezes e eu não acompanho. — Eu não tenho!

— Mas pode conseguir, não pode? Seu pai é rico. Te dá o que quiser! — Exclamou.

Não respondi, mantendo o olhar no gramado que nos cercava. O dia trazia um clima confuso e algumas gotículas se evidenciavam entre o verde chamativo. Respirei profundamente e me lembrei sobre a conversa do dote. Será que ele quer se aproveitar de mim? Ele quer fugir comigo e sabe que se eu for, é sem herança. Não sei por que meus pais pensaram isso, muito menos por qual razão eu estou pensando algo assim dele. 

O dono do cabelo negro e liso à minha frente tocou meu braço e me deu uma leve sacudida, chamando meu nome. Eu retribui o olhar e confirmei com a cabeça, gentilmente. Vamos fazer isso. Vou fugir com ele.  Vamos lá, Arin, você passou os últimos quatro anos dando bola para esse cara e quando ele finalmente te quer, você pensa em fraquejar? Jamais!

— E quanto eu peço? De quanto vamos precisar? — Olhei em seus olhos, fixamente. Precisava me lembrar de cada palavra.

— Pede em euros. Dez, pelo menos. — Ele parecia estar calculando algo.

— É claro, meu pai vai me dar isso do nada! — Bufei.

— Traga as suas jóias para mim ou melhor... As da sua mãe, devem valer mais! — Sua voz estava animada e isso é a última coisa que eu estou, agora.

Vendida para casarOnde histórias criam vida. Descubra agora