Era em torno de três horas da manhã quando a campainha de Ana tocou, sonolenta foi até a porta esbarrando nos móveis e xingando até a quinta geração do individuo á sua porta.
-Acorda muie.
-Mas que diabos você está fazendo aqui Daniel?
-Que mal humorada.- Dan balançou a cabeça negativamente e entrou no apartamento com Ana o amaldiçoando logo atrás.
-Isso é hora de me visitar?- Ana tacou uma almofada na direção do homem, mas ele se desviou e por pouco a almofada não acerta seu gato.
Ana pensou em ir buscar uma vassoura e o mandar embora com uma velha e boa vassourada, mas ao olhar bem para o rosto de Dan pode perceber as enormes olheiras que se formavam em torno de seus olhos cor de mel. Suspirou.
-Desembucha.
-Aninha?
-Hum?
-O que eu estou fazendo com a minha vida?
Não era uma pergunta que ela soubesse responder, e mesmo que quisesse dizer para ele largar tudo e embarcar com ela em um futuro incerto, ela não lhe diria. Se levantou, e o abraçou.
Dan estava muito quieto, o que a incomodava muito, por fim Ana deixou ele dormir no sofá com medo dele sair e fazer besteira.
Quando seu despertador tocou ela se levantou quase se arrastando. Passou pela sala e viu que Dan já não estava mais ali, a manta dobrada no encosto e um papel com um recado.
"Aninha fui embora antes que acordasse, preferi evitar ter que lhe explicar minha atitude estranha. E principalmente olhar para você com a cara amassada logo de manhã não é muito inspirador.
Beijos baixinha.
Dan."
Ok, pensou ela, então está quase tudo voltando ao normal, se Dan teve tempo de tirar uma com sua cara, então estava tudo normal. E foi com esse pensamento em mente que ela foi se trocar para enfrentar mais um dia de trabalho.
Bateu na porta da padaria três vezes, depois uma quarta, quinta, sexta vez, na sétima viu um Tom sonolento de pijama e descabelado vir ao seu encontro.
-Bom dia chefinho.
-Bom dia. -Ele estava com uma cara estilo "qual é o seu problema e por que não volta a dormir ?". Mas não disse nada disso.
-Não trabalha não chefinho? T á parecendo que um caminhão passou na sua cabeça.
-Quase isso.
-E quem te deu permissão de se atrasar no trabalho?
-Não sei. Talvez eu mesmo.
-Não não. Não pode faltar.- O dedo indicador de ana estava apontando para ele e se mexia de um lado para o outro negativamente.
-Jurava que o chefe era eu.
-Era sim, mas já que ta dormindo em pé assumi a função então volte ao trabalho mocinho.-Ana usou seu tom autoritario e apontou a porta pela qual Tom tinha saído, ele nada disse, apenas ria.
Ana sempre foi uma mulher confiante, sabia que tinha atenção de todos por onde passava, no entanto se sentia mais aliviada por todos na padaria a tratarem como igual. Tom e Ana tinham uma relação de cumplicidade tão grande que as vezes ela achava que o conhecia á anos e não a poucas semanas.
Ana finalmente sentia que estava entrando em um caminho no qual seus pais sentiriam orgulho, mas pensar em seus pais e não pensar no sentimento de abandono era dificil. Ela tinha passado a maior parte dos últimos anos bloqueando qualquer pensamento em relação aos seus pais, e dessa vez sentiu que o buraco em seu peito estava menor.
-Anaju?-Tom estava chamando seu nome balançando a mão freneticamente.
-Sim chefinho?
-Você já foi melhor que isso.-Eles riram. Ana estava tão longe com seus pensamentos que nem se deu conta que já fazia um tempo que Tom a chamava.
-Talvez.
-Vamos trabalhar muie.
-Sim senhor.-Ela fez sinal de continência e uma careta mostrando a língua.
O dia passou rápido.
Quando deu 18 horas, Ana estava saindo da padaria e deu de cara com Dan, ele estava sorridente e em nada se parecia com o homem que tinha ido em seu apartamento paranoico.
-Vamos muie.
-Vamos para onde homi?
-Isso é segredo.-Dan pegou ela pela mão e saiu arrastando ela.
Ana não ficou um minuto sequer sem tagarelar, ela contava animadamente sobre seu dia e como todos gostavam do seu café. Dan assentia concordando.
-Fecha os olhos.
-Pra que?
-Fecha logo muie curiosa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
ENTRELAÇADOS
RomanceAna Júlia, Aninha ou apenas Anaju,uma mesma mulher em muitas formas. Aos 17 anos sua vida mudou drasticamente com o acidente que matou seus pais. E sua esperança. Aos vinte quatro anos sua vida caminhava da forma mais confusa possível, sua camin...