Capítulo 20

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  Ela já estava no quinto ou sexto chocolate enquanto andava pelos corredores do Shopping quando finalmente se lembrou do motivo de estar lá.

  -Tom e o filme?

  -Que filme?

  -Nós viemos para ir ao cinema esqueceu?

  -Você já tinha escolhido?

  -Não, não é isso. Mas se quer me deixar escolher quero um desenho, ou aventura.... Podemos ver Harry Potter?

  -Harry Potter não está mais em cartaz!

  -Não?- A pergunta foi seguida de um olhar de Ana para Tom, ela estava fazendo bico.

  -Já faz alguns anos, tipo muitos.

-Ahhh, que pena, o cinema deveria ter reprise.

  -Sai filmes novos toda semana.

  -E daí? Clássico é clássico, deveria ser apreciado.

  -Temos conceitos diferentes de clássicos.

-Ah qual é ? Você quer ver Romeu e Julieta em pleno domingo ensolarado do século XXl?

  -Não, William Shakespeare é genial, mas ainda sou muito mais a obra Cyrano de Bergerac.

  -Tem filme?

  -Claro!

  -To falando de filme atualizado, tipo desse ano.

  -Não...As pessoas não apreciam histórias tão... Dramáticas?

    -Entendo...- Ana olhava para longe.

    -O que foi?

    -To pensando, se não tem um clássico deviamos voltar para casa para ver o clássico sentado no sofá com muita pipoca nas mãos, o que acha?

    -Que casa?

  -A minha Tom! Você mora no escritório que até confunde casa com trabalho.

  -Não é verdade...

  -Vamos. -Ana não esperou Tom falar, pegou sua mão e foi arrastando ele para a saida do shopping.

  Ana chegou no apartamento, com algumas sacolas, e um Tom em sua cola.

  Enquanto conversavam no shopping sobre filmes, sim era uma conversa, ela notou em como seus mundos pareciam distantes, ela quase se sentia uma ignorante, e por um momento se esqueceu que ele estava ao seu lado e deixou um suspiro cansado sair.

  -O que foi?

  -Nada.- Disse balançando a cabeça tanto para a pergunta, quanto para afastar os pensamentos.

  Ela trocou de roupa colocando um vestido florido, prendeu os cabelos em um coque alto e foi até a cozinhar estourar pipoca (ou tentar).

  Sua tentativa de parecer uma doce anfitriã foi por espaço quando ela reparou que não sabia o que fazer com a pipoca e o cheiro de queimado invadia o comodo, internamente ela rezou para que não chamassem os bombeiros.

  -Ai meu protetor de pobres e indefesas desastradas me diz que ninguém chamou os bombeiros. Nem a policia! Eu não to botando fogo em nada, só nas pipocas mas isso não é crime.

  -Com quem você ta falando?

  -Com o além.

  -Menina ta botando fogo no apartamento?

  -Não... Eu tava fazendo pipoca... Não deu...

  Tom tirou a panela do fogo, abriu as janelas e abanava a fumaça. Ok, pensou Ana, podia ser pior.

  -Pior que isso? Só se os bombeiros baterem na porta evacoando o prédio.

  -Ok Tom, já entendi, nunca vou ser promovida a padeira.

  -Nunca diga nunca, vamos apenas dizer que talvez, daqui uns anos, muitos anos talvez, você consiga.

  -Posso interpretar os "muitos anos" como mês que vem?

  -Não!

  -E como um "você tem potencial Ana"?.

  -Não posso afirmar isso levando se em conta seu bolo de farinha, as batatas chamuscadas e a pipoca "em chamas", vamos apenas dizer que um dia, você consiga fazer algo.

  -Tipo hoje?

  -Tipo daqui um tempo, um relativo e longo tempo. Um tempo consideravelmente mais adiante.

  -Ah, mas eu me esforço. Eu juro!

 -Eu não duvido, só não confio em seus dons "anti-incêndio" na minha padaria.

  -Com "anti-incêndio", devo considerar a possibilidade de fazer curso de bombeiros? Isso é útil na padaria? Achei que não precisasse, talvez seria melhor um curso de segurança, que tal?

 -Melhor não, queremos a padaria segura, e não uma tocha humana saindo dela.

  -Então curso de confeiteiro?

  -Talvez seja melhor você aprender o básico antes de encarar um curso assim. Que tal apenas se esforçar para entrar em algo que verdadeiramente goste.

  -Como o que?

  -Me diga você, tem muito tempo para pensar no que quer ser.

  -E se eu não souber?

  -Apenas acredite que vai encontrar sua vocação, talvez não hoje, mas amanhã ou depois. Só confie.

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