Ana estava sentindo o sangue correr por suas veias, e seu coração estava acelerado, metade era medo a outra metade excitação, uma euforia sem tamanho. Mas a euforia logo levaria um balde d'agua assim que sentisse seu coração ser esmagado pela expressão indecifrável no rosto de Dan.
A verdade é que ela estava pulando etapas na sua busca de auto conhecimento, ainda existia muitos assuntos pendentes, não só com ela mesma, com Dan também... e principalmente com seus pais.
Havia marcas de sua dor espalhada no seu apartamento, ou melhor, não espalhados. Alguém que foge de sua dor não está pronto, ainda não, para o que vem depois daquele ponto final.
Não dá para começar outra folha se ainda existe uma página pela metade. Como ela se tornará alguém melhor se ainda continua a mesma covarde de hoje e de ontem e de antes disso.
Poderia adiar o conflito, no entanto a bola de neve se tornara cada vez maior até ser atropelada por sua confusão de sentimentos e mágoas.
Olhou para Tom, a mão estava na maçaneta pronta para sair correndo do carro e ir na direção da qual viera minutos atrás. Mas hesitou, se a decisão de uma escolha é preenchida por uma fração de tempo considerável é porque talvez não seja aquilo o certo a se fazer. Talvez ela esteja tentando fazer o moralmente certo, sem saber de certo a distinção de certo e errado.
Ela sabia que estava em uma encruzilhada, seu subconsciente gritava alerta com sinais vermelhos e alarde, no entanto, o que fazer?
A verdade é que as coisas estão fora do controle, uma vida inteira pode estar fora do controle das mãos das pessoas, até pessoas muito organizadas não conseguem planejar sua vida. Um dos maiores medos quando se é adolescente é a pergunta pertinente "o que vai ser quando crescer?" ou algo do tipo, não é de fato necessário escolher aos dezessete anos sua profissão de vida, no entanto, adultos pensam diferente. Vivem meticulosamente diferente de outras pessoas, e perguntas igualmente pertinentes vem sendo feitas ao longo da vida. Para quê? Para coagir. Para te fazer pensar que tudo tem que seguir um roteiro, assim como os filmes, a grande diferença é que nem tudo sai como o esperado.
Ana estava em uma fase de sua vida que tudo e qualquer coisa estava fora do controle, principalmente o fato de os caminhos serem tentadores, mas ela não se iludia muito, os sonhos morreram há sete anos. Morreram junto com seus pais. Morreram junto com sua adolescência roubada e com sua alegria enterrada. Não esperava um final feliz de comédia romântica, não esperava um príncipe, mas as vezes, sozinha em seu quarto, só com ela e os pensamentos, assim, nesses dias ela se deixava sonhar e se iludir com um final melhor.
Olhou para sua mão pousada na maçaneta, é claro que não sabia o que escolher, ela nem mesmo conseguia se confrontar em voz alta, agora então nesse silencio, não seria a resposta a preencher o táxi.
Talvez Tom novamente fosse cavalheiro e escolhesse por ela o que julgava ser melhor, no entanto, é humilhante ter decisões tomadas por outra pessoa, a que ponto uma pessoa tem que chegar para não saber nem tomar uma decisão coerente sozinha?
Quase podia ouvir os sons da engrenagem no seu cérebro funcionando, Ana estava se remoendo por dentro, e por fora também porque a mão estava na boca em uma mania que ela já devia ter parado há anos. A frase "pode seguir com o táxi" soou confiante, pelo menos era o que ela achava.
Hesitar é tão típico de ser humano que ela se sentia abestadamente frágil. Sua insegurança começava pela presença de Tom, e passava remotamente pela reação de Dan, o que ele estava pensando nesse momento... O que ele pensou quando Ana saiu correndo em disparada ao táxi e o deixou parado sem entender nada?
Perguntas e mais perguntas, e mais perguntas que ela deixaria para tentar responder quando estivesse preparada. Se é que a vida lhe daria a oportunidade de pensar melhor sobre tudo isso.
Se... A vida tem tanto "e se " que muitas vezes as coisas acontecem sem nem mesmo a pessoa conseguir processar as informações no mesmo ritmo em que acontecem, foi assim no acidente, é assim hoje, e será assim para muitas outras pessoas. Depender de outra pessoa para seu próprio futuro é um erro, um grande e enorme erro que todos cometem. Um erro que todos cometem e ainda irão cometer, Ana sabia, acreditou veementemente que seus pais estariam para sempre ao seu lado, ironicamente o sempre, sempre acaba.
Então é com essa certeza que deveria repensar sobre o papel desses dois homens em sua vida, nada era tão fácil quanto aparentava, e se ela dependesse muito deles, por fim ela se perderia novamente.
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ENTRELAÇADOS
RomanceAna Júlia, Aninha ou apenas Anaju,uma mesma mulher em muitas formas. Aos 17 anos sua vida mudou drasticamente com o acidente que matou seus pais. E sua esperança. Aos vinte quatro anos sua vida caminhava da forma mais confusa possível, sua camin...