Capítulo 48

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                                                                              TOM

Era para ter sido uma tarde agradável, mas as coisas saíram do controle, não sei exatamente quando tudo saiu do lugar e se tornou tão bagunçado. Mas algo aconteceu. Não só naquele dia mas antes disso...

Era uma tarde que deveria ser normal, Tom estava em seu escritório quando Ana entrou, ela estava inquieta, queria lhe dizer algo, mas antes que a frase terminasse os pais de Tom invadiram seu escritório no melhor modo "querido, cheguei".

Os acontecimentos que se seguiram após isso se tornaram confusos na cabeça de Tom, em um minuto Ana estava sentada no sofá, em outro olhava atentamente cada porta retrato espalhado por todos os cantos da sala, e no segundo seguinte ela estava debruçada no chão tentando recolher os cacos de vidro da moldura, enquanto chorava. O desespero tomou conta do corpo do homem, o primeiro e único pensamento que lhe veio na cabeça foi que ela tinha se machucado. Mas a situação piorou quando ele a viu sangrar, ficou sem reação, tinha medo tomando todo o seu ser.

Ele não sabia o que fazer, não sabia o que estava acontecendo. Ele estava perdido, e se sentiu ainda mais impotente quando ela atravessou a porta da sala chorando.

-ANA- Ele gritou mas ela continuou indo para longe.

Ele deixou o casal confuso na sala e saiu correndo atrás de Ana, não demorou para encontra-la, porém demorou longos minutos tentando entender o que era esse sentimento agoniante que o tomava por inteiro, ela virou para trás e o encarou. Ela sabia.

Ela despejou as palavras como faca sobre Tom. Ele não sabia o que dizer, não sabia nada naquele momento. Se sentia como uma criança sendo repreendida, se limitava covardemente a encarar seus próprios pés para não encarar o par de olhos verdes que o atacavam.

-Ana não é isso.- Tom tentou dizer mas sem conseguir formar uma frase coerente em sua cabeça.

-Você culpava meus pais pela morte deles?

-Não Ana, eu ME culpava pela morte deles. Por todos. Ainda hoje.- Ele sentiu dor ao proferir cada palavra, uma ferida estava sendo reaberta.

-Por que você me ajudou? Sempre foi culpa? Você só estava tentando se sentir menos culpado pela morte DELA?

-Eu não sabia quem você era, pelo menos não antes de você gritar que era orfã.

-E então colocou toda a culpa em suas costas e tentou ser legal comigo. -Tom ainda encarava os próprios pés. - Sabe Tom, eu me culpava pela morte dos meus pais, e por anos evitei pensar neles, falar deles, e até vendi a casa que moravamos para evitar qualquer sentimento, sabe por que? Porque eu odiava o fato de ter sido a única a sobreviver, odiava o fato de meus terem me deixado sozinha no mundo, e eu me odiava por achar que sempre foi culpa minha, que se eu não tivesse tirado uma nota boa, que se meu pai não quisesse comemorar ,eles estariam vivos. E hoje eu fui sincera comigo e admiti que não era culpa de ninguém. Mas você não percebe isso, você ainda ama ela, mesmo depois de tantos anos, e tentou compensar a morte dela, a sua culpa, sendo legal comigo. No fundo você sabe que não tem culpa. E pior que isso. Você deveria saber que eu me apaixonaria por você, e que você não retribuiria.

-Ana não é isso. Eu...- Ele tinha vontade de gritar que não era o que ela pensava, que nunca foi pena, que ele se sentia bem ao lado dela, que ele conseguiu ser melhor por ela. Que ele ama ela.

-Eu não quero ouvir, eu fui hoje no seu escritório com um motivo, e agora mais do que nunca vou me agarrar a minha decisão.

Em um impulso Tom a beija, o seu medo de perder mais alguém que ele ama fala mais alto do que sua razão, ele tinha medo de nunca poder mostrar que também sentia o mesmo por ela. Temia ser tarde demais.

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