Capítulo 44

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Dan convenceu Ana a ficar mais um tempo na Nigéria para dar uma chance para os dois. Um lugar diferente. Uma sensação diferente. Pessoas diferentes. Tudo diferente. Era isso que ele tentava mostrar para ela todos os dias, mas parte dela ainda estava em outro lugar. Um lugar longe. Um lugar com um homem de cabelos escuros e olhos negros.

Não importava como ele se esforçava cada dia. A verdade era que ela não se esforçava, havia uma parte dela relutante que insistia em mandar seu coração para aquele homem que estava longe.

Duas semanas já haviam se passado.

Ana estava encostada na grade da sacado do quarto de Dan, ela olhava distraida para longe. Seus olhos se perdiam na paisagem e seus pensamentos estavam perambulando por suas memórias.

Dan entrou no quarto silenciosamente, e se postrou atrás de Ana a observando em silêncio.

-Você fica linda com a luz do por do sol sobre seus cabelos.

Ana se virou para trás surpresa.

-Não te ouvi chegar.

Ele soltou uma risada, e diferente dos últimos dias ele estava mais feliz naquele diz em especial.

-Eu sei.

Ana levantou uma sobrancelha. Uma pergunta morreu na garganta. Não era como se ele estivesse aprontando, certo?

-Você está bem?

-Sim. Na verdade me sinto muito vivo hoje.

Ana o encarou em dúvida. Depois desviou seus olhos para a sacola nas mãos de Dan. Ela sempre soube da capacidade dele de persuasão com comida.

-O que tem aí?

- Seu preferido. Gorame Ndiaye. Tá quentinho.

Ana pulou feliz, e saltitante pegou a sacola das mãos de Dan levando para uma mesa improvisada. Ela abriu a sacola e sentiu o cheiro invadir o quarto, sua barriga roncou como se exigisse saborear a comida.

-Você sabe como comprar minha felicidade.

-Sei mesmo. -Dan riu-Vamos arrumar as malas. Está na hora de voltar para casa.

-Já?

-Sim. Precisamos encarar o fato de que uma boa experiência é aquela que nos fornece boas memórias, memórias formadas, está na hora de encarar a vida real.

-Que vida real?- Ana levantou seus olhos do prato que se servia fartamente, para perguntar para ele.

-Aquela que você finge não estar fugindo.

Ela deu um sorriso constrangido mas fingiu não entender do que ele estava falando e continuou concentrando toda sua energia no prato.

A verdade era que desde aquele beijo Dan tentava conquista-la, mas sem sucesso. Ela continuava longe. E naquele dia em especial finalmente ela sentiu que seu velho amigo estava ali novamente. Ela sentiu falta desse cara, o homem que sorria bastante, que fazia piadas ruins e que comprava comida para ela. Principalmente sentia falta de poder conversar com ele confortavelmente sem medo da confusão de sentimentos. Sentia também falta da comida.

Depois de muito tempo sentada em sua cama encarando a mala na sua frente. Depois de muito tempo pensando no que fazer. Depois de muito tempo ignorando o tic tac do relógio. Depois de muito pensar, finalmente ela começou a organizar suas coisas que estavam espalhadas pelo quarto.

Foi um longo tempo até ela se resolver sobre o que fazer dali em diante. A verdade era que ela sentia falta da padaria, sentia falta de acordar cedo e tentar aprender algo diferente, sentia falta de ver Tomas dando aula daquela maneira maravilhosa, sentia falta dele.

Foram longos minutos se convencendo que ela ficaria bem. Que ela teria coragem de voltar e encara-lo para dizer o que ainda precisava ser dito. E havia muitas coisas a serem ditas, a principal era obrigado , sem ele nada teria mudado, e ela mantinha esse pensamento bem ciente no meio de suas confusões. Assim como ela sabia que ela não seria quem é hoje, se não fosse por ele. E que não teria conhecido pessoas maravilhosas senão fosse por ele.

Quando aquela manhã de terça feira amanheceu ela acordou já juntando toda sua coragem.

Ela seria forte, custe o que custar ela seria forte.

Atravessou de novo a porta do aeroporto, dessa vez não tinha ninguém segurando uma placa com seu nome escrito em batom vermelho. Era isso. Ela estava indo para casa.

Entrou no avião e se acomodou na poltrona perto da janela. Dan já dormia profundamente ao seu lado. Ela pegou um papel e uma caneta.

"Oi Tomas,

Eu não sabia até hoje o que deveria ser dito, naquele dia havia tanto silêncio entre nós que carreguei esse silêncio ate hoje, até o dia que entrava novamente em um avião para voltar para casa.

Tenho medo de te dizer o que precisa ser dito, mais medo ainda tenho dos meus sentimentos. Há um certo vazio toda vez que penso em mim mesma, e mais vazio ainda quando penso em você.

Fazem exatamente seis semanas desde aquele dia.

Eu queria dizer que te esqueci. Que a viagem de auto conhecimento foi esclarecedora o bastante. Que estou bem. Mas seria mentira. Então vamos para a verdade. Tive dias incríveis e em alguns momentos eu podia apenas me desligar de você e sentir tudo de verdade, mas as noites vinham como uma tortura, e nesses dias, ah nesses dias eu achava que ia morrer de amor, mesmo que eu repita para mim mesma que vai ficar tudo bem as vezes eu mesmo duvido disso. E se vai ficar tudo bem? Não sei, só o tempo me dirá.

Eu te amo com cada parte do meu corpo, acima de tudo amo a vida. E não será de amor que morrerei. Não será de tristeza que definharei. Não será sendo fraca. Eu prometi a mim mesma que enfrentaria o que fosse preciso, não estou pronta para te enfrentar pessoalmente, mas fazendo jus a minha promessa algumas coisas precisam ser ditas. Adiar não significa que posso ignorar para o resto da minha vida.

Em primeiro lugar queria dizer obrigado, sem você eu não teria chegado tão longe. Nem mesmo teria me permitido voar tão alto. Em segundo me desculpa por não ter visto sua dor. Em terceiro eu ainda te amo mesmo que não goste de admitir isso. Em quarto estou pronta para seguir.

Com amor.

Anaju."

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