Ana estava com um frio na barriga andando pelo aeroporto, Dan tinha arrumado suas coisas enquanto ela estava dormindo e providenciou passaporte e outras coisas mais rápido do que se pode imagina, dois dias após o episodio ela estava esperando para entrar em um avião e encarar uma jornada que nem mesmo ela tinha agora tanta certeza sobre o que ela buscava.
É tão clichê alguém que entra em uma jornada de auto conhecimento depois de um coração partido, mas o quê da questão era que a decisão foi tomada antes do coração partido, e depois desses dois dias chorando e tentando ser forte, tentando repetir que nada estava totalmente perdido, e que tudo ia dar certo, finalmente, ela estava esperando para entrar no avião. Ela não apareceu na padaria, nem deu satisfação, não tinha coragem de encarar Tom, nem mesmo se sentia confiante para olha-lo novamente. Seu coração vacilaria e ela não sabe o que aconteceria depois.
Sentou em um cadeira e colocou os fones de ouvido, seus pensamentos pousaram involuntariamente no rosto de Tom, por um momento desejou vê-lo. Lembrou-se daquele domingo, e ficou imaginando o que ele ia dizer antes dela cortar ele. Ela tinha tanto medo de saber quanto medo de não saber.
A verdade era que ela tinha medo de tudo isso, foram poucas semanas e mesmo assim ele virou tudo de ponta cabeça, foram emoções fortes demais, foram momentos demais para ela esquecer assim tão rápido. E nem mesmo conseguia pensar em esquece-lo, esse simples pensamento era suficiente para ela ter certeza que não o esqueceria tão cedo, ou talvez não esqueceria. Simples assim.
Uma voz começou a anunciar o vôo dela. Ela hesitou olhando para trás, e quando se levantou foi preenchida com esperança.
Adentrou o avião, sentou-se em uma poltrona perto da janela, o lugar ao seu lado estava vazio. Dan queria que ela fosse de primeira classe, mas Ana foi categórica ao dizer que preferia classe econômica, nada lhe dava mais pânico do que novamente sentir que estava exigindo muito de seu amigo.
Encostou a cabeça e fechou os olhos, não tinha medo de voar, não tinha medo de morrer, uma pessoa que chegou tão perto da morte como ela, não tem mais o que temer.
Colocou um filme qualquer para assistir durante o voo.
Seriam longas horas, e pior do que o tempo, era sua mente sabotando e direcionando tudo e qualquer pensamento para Tomas. Olhou frustrada para o filme ao perceber que não conseguiria chegar nem na metade sem chorar de saudades daquele homem.
Tirou da bolsa de mão um papel e uma caneta.
" Estou indo para longe de casa, para longe de minha terra, para longe de você, a escolha foi minha, e quem me deixou sem opção foi você. Em um papel a sinceridade pode ser dita, a verdade que não digo em voz alta é tão simples que não me atreveria a dizer. Posso ir para qualquer lugar do mundo, posso estar com qualquer pessoa, posso estar rodeada, e mesmo assim não estarei onde quero estar, não estarei com quem quero estar e nem mesmo me sentirei de fato rodeada. Há coisas que fogem da compreensão humana, coisas estas que ainda sou ignorante, mas uma verdade tem que ser dita, é amor. E por ser amor eu não o odeio, não tenho mais raiva, e nem mesmo me digno a dizer coisas ruins. Mágoa um dia passa, nada dura para sempre, nem minha raiva, nem minha mágoa, mas a mesma afirmação tem um tom perverso se dita para o amor, porque sempre existirá aquela pessoa que irá carimbar sua vida.
Estou indo para quilômetros de distância e ainda não creio ser o suficiente para distanciar tantos pensamentos meus de você.
Estou a mais de 10 passos do chão e mesmo assim você continua sendo minha terra firme.
Uma viagem de auto conhecimento, uma viagem de esquecimento, uma viagem de auto perdão. Tanto faz.
Ainda te amo.
Com amor.
Anaju."
Uma lágrima cai. Um pensamento idiota a fez rir. Essas cartas são sua destruição. De que adianta parar de ver um filme que lembra ele, se ela escreve uma carta para ele?
Limpou seu rosto, foi até o banheiro e ficou um tempo encarando sua imagem.
-Quem é você Ana Júlia Ghellar?
Essa pergunta ainda ecoava em sua mente quando voltou para seu assento.
Virou para o lado e dormiu, mas Tomas ainda estava em seus sonhos.
Acordou e já estava no país de destino escolhido.
Um frio na barriga antes de pegar suas coisas e descer do avião. Uma viagem inteira de avião de dez horas e nesse tempo todo Ana conseguiu apenas pensar em Tomas, e ao mesmo tempo não pensar nele.
O desembarque foi tranquilo. Ana estava na NIGÉRIA. Uma aventura que nunca passaria em sua cabeça se não fosse por aquele homem, pela sua incrível capacidade de ajudar as pessoas, e por seu dom de mesmo magoar corações inocentes como o dela, salvar uma vida que até ele entrar estava sem rumo.
Como ele podia ter tanta influência sobre ela mesmo longe?
Enquanto ela buscava um lugar para conhecer, sem querer ela procurou por voluntariado, uma pesquisa quase involuntária já que isso a levaria a lembrar dele. Mas em nenhum momento desde que ela preencheu o formulário para se candidatar houve arrependimento, seus olhos se encheram de brilho com uma cultura diferente, e de horror com a miséria. Tudo que ela trazia na mala nem era para ela, a maior parte de suas roupas, perfumes e maquiagem estavam no seu apartamento. Com ela apenas o essencial. Ela queria se entregar de alma para aquela cultura, queria renovar as energias, e queria ver sorrisos.
Ao pisar o pé no país sabia que era um caminho que traria muito aprendizado, e que acima de tudo a faria ser alguém melhor, seus olhos percorreram o aeroporto, e nada lhe pareceu mais incrível do que a felicidade que a tomava aos poucos, junto com a vontade de chorar de saudade de seu gato Hope, de saudades de Dan, e principalmente dele.
Caiu ajoelhada no meio do aeroporto. O que aconteceria de agora em diante estava nas mãos do destino.
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ENTRELAÇADOS
RomansaAna Júlia, Aninha ou apenas Anaju,uma mesma mulher em muitas formas. Aos 17 anos sua vida mudou drasticamente com o acidente que matou seus pais. E sua esperança. Aos vinte quatro anos sua vida caminhava da forma mais confusa possível, sua camin...