Capítulo 5

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Na manhã seguinte ela determinada fez um currículo, e tentou a sorte em vários lugares, e em todos estes ela foi recusada. Soava rídiculo para muitos uma mulher de 24 anos, sem curso, sem histórico, sem experiência em nada, sem referências. Até ousaram debochar peguntando se ela existia mesmo, ou se morava em uma caverna.

Seus cabelos loiros despenteados, seu rosto vermelho e inchado, a cada não, sua esperança ruía, e suas lágrimas caiam.

A angústia aumentava, e ela se via cada vez mais desanimada. Mudar de vida é impossivel para alguém como ela?

Cogitou em responder a mensagem do cliente, mas apagou o que estava escrevendo. Tentaria até o final do dia. Tentaria até todas essas pessoas destruirem de vez o pouco de esperança que aquele homem sem nome trouxe.

O por-do-sol manchava o céu com suas cores, e anunciava a entrada da noite.

Ana Júlia andou tanto que não sabia mais qual caminho tomar, seus pés doiam com o sapato de salto que usava, seu último curriculo tinha uma gota de lagrima manchando uma letra, e a fome tornava as coisas piores.

A solução para seu problema mais urgente (leia-se fome), estava na esquina da quadra. Uma padaria.

Entrou cabisbaixa no lugar, o cheiro de pão quente fez seu estomâgo roncar. Parou em frente ao balconista, um senhor de aparentemente 65 anos, sorridente. Olhou em dúvida para tudo o que via. Sua melhor opção foi pedir um salgado, um sonho e um copo de capuccino.

-Ótima escolha menina.- O senhor lhe deu a nota e foi pegar o pedido dela.-Aqui está.-Lhe estendeu o embrulho e o copo de capuccino, ela sorriu e olhou para os lados procurando um lugar para sentar.

Sentou na mesa perto da janela. Tirou de dentro da bolsa uma agenda, tinha várias anotaçoes, mas a página aberta em questão tinha os lugares em que tentou entrevista e foi rejeitada. Um longo suspiro, pegou a caneta e riscou mais um item.

Seu dia iria terminar comendo coxinha, e chorando. Faltava apenas um chocolate para que se tornasse mais digna de pena.

Chegou no apartamento exausta. Ana Julia olhou o relógio, mais de 12 horas na rua para não conseguir nada.

Tomou um longo banho e se sentou com as pernas cruzadas no sofá. Hope se aconchegou nas pernas e ficou olhando. Encostou a cabeça no encosto do sofá e fitou o teto por um bom tempo.

-Será que aquele homem vai estar hoje na praça?- Olhou para seu gato, esperando um sinal.

Miau foi a resposta do gato. A mulher ficou olhando para a televisão desligada, se levantasse e fosse atrás de encontrar aquele homem estaria depositando o pouco de dignidade que ainda restara, nele, se continuasse sentada nada mudaria. A parte mais sem sentido em seu raciocinio lógico estava em confiar naquele homem, mas a parte emocional de Ana lhe dizia que ele poderia mudar sua vida.

Depositou cuidadosamente seu gato no sofá, e saiu correndo para trocar de roupa.

Sentou-se debaixo da mesma árvore do dia anterior, olhou em volta mas não via nada. Ficou ali sentada esperando algum sinal divino que lhe mostrasse a luz.

Quando estava levantando para ir embora, sentiu alguém sentando ao seu lado.

-Ainda está triste?

-Não, estou pior, estou depositando o pouco de esperança que tenho num milagre.

-Então vai dar tudo certo.

Ela o olhou de soslaio, ele sorria, um sorriso simples e radiante.

-Acho que não. Nada vai mudar.- A voz de Ana Julia saiu falhada, tão baixa que quase não se podia escutar.

-E o que não vai mudar?

-Minha profissão.

-Conheço um lugar que está contratando. Sabe cozinhar?

-Não.

-Sabe lavar louça?

-Não.

-Já lavou o chão de algum lugar?

-Não.

-Sabe sorrir e dizer " Sim senhor"?

-Talvez, não sei.

-Então sabe acender um fósforo?

-Sei.

-Ótimo, está contratada- Ele estendeu a mão, mas ela o deixou esperando, o olhava desconfiada.

-Você pode me contratar?

-Claro. Aparece amanhã na padaria "Plenus", eles vão te ensinar o que precisa saber.

-E o que eu preciso saber?

-Nada demais, somente tudo.- O sorriso ainda estava no rosto daquele homem.- Quado chegar lá diz que o Thomas falou com você.

-Obrigado.- Foi a única coisa que ela disse antes de começar a chorar.

Ele se levantou, deu um tapa leve nas costas dela, e sumiu noite adentro.

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