Capítulo 32

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  As vezes as coisas simplesmente não fazem sentido, e outras vezes apenas se limitam a se complementarem da forma mais sutil possível. Dentre as palavras que Ana ainda não disse há muitas coisas guardadas, inclusive, as vezes ela mesmo duvida da capacidade que tem de ser tão covarde.

  Não precisava de uma definição ao pé da letra da palavra covarde, não precisa de uma explicação explícita do que para ela é a definição de seu espirito.

  Estava de pé, vermelha que nem o pimentão, com seu corpo colado ao de Dan em um final teatral da coreografia, mas seus olhos estavam presos nos olhos escuros de Tom. Parecia indecifrável, talvez até frágil, mas acima de tudo, ela estava dividida sobre qual atitude tomar, não a melhor, mas a menos pior.

  Se considerasse melhor seu dilema não teria fim, portanto a escolha que ela tomaria seria pior do que a menos pior.

  Pigarreou sem graça. Se desvencilhou dos braços de Dan da forma mais delicada que conseguiu, tentando da melhor maneira possível não agir de forma rude, por fim não sabia qual era o próximo passo.

  -Bem, acho que se seu amigo veio aqui é porque tem algo importante para falar com você...-Tom disse as palavras lentamente, hesitante.

  -Claro, Ana Júlia, você já adiou demais aquela conversa.- Dan disse olhando diretamente para Ana, mas ela por sua vez olhava para Tom.

  Depois de um longo suspiro Ana soltou apenas um "eu sei''. Dizer apenas essas duas palavras não significava que ela admitia que tinha que tomar uma decisão, sua vida que antes era um filme de qualidade duvidosa e roteiro ruim, agora estava caminhando para um triângulo amoroso, que Ana nem mesmo sabia quem estava no meio do triângulo.

  Dizer que alguém pode estar envolvido em um "triângulo amoroso" é equivocado, um relacionamento é entre duas pessoas apenas, e se existe uma terceira pessoa é porque alguém não está sendo suficientemente claro sobre seus sentimentos, nem sobre seu amor.

  Mas na teoria tudo é mais fácil, porém quando esse triangulo parece um novelo de lã emaranhado sem começo e fim, fica difícil para os protagonistas desse filme ruim se encontrarem.

  Quem de fato ela era, e o que de fato queria, ainda era uma pergunta jogada ao vento.

  Lentamente Ana foi pegando sua bolsa, e arrumando discretamente seu cabelo e roupa. Tom por outro lado entrou no escritório e voltou com aquela mochila enorme que levava para dar aula.

  Os três sairam em silêncio da padaria. Ana sabia para onde Tom ia, e sabia para onde Dan queria leva-la. O que não sabia era para qual lado ela ia.

  -Bem eu vou indo. Obrigado Anaju, tenho certeza que vão amar o bolo.

  Ana seguia mecanicamente Dan, seus passos acompanhavam seu amigo, seus pensamentos não. Andou quase um quarteirão e meio até parar bruscamente e seguir a direção oposta correndo. Ela gostava de quem ela era quando estava com Dan, ela era apenas a Ana Júlia de sempre, porém ao lado de Tom ela ganhava novas facetas, lados interessantes surgiam em sua vida, lados que ela não conhecia até aquele homem entrar em sua vida.

  A decisão não tinha nada a ver com eles, mas com ela mesma. 

  A mulher só queria ser mais do que ela era até aquele instante, e a única pessoa capaz de dar asas para ela voar estava a poucos passos dela entrando em um táxi.

  Ela precisava dele.

  È como revelar a si mesmo seus próprios anseios, há no ser humano algo de misterioso e as pessoas preferem continuar vagando no que poderia ter sido e apenas deixar de lado quem de fato se tornou.

  Mistério é o que querem, mas a algo de obvio que não é ocultado naquele sorriso escancarado e sem emoção, uma singela expressão de arrependimento, aquele hesitar do "e se" que muitas vezes assolam as cabeças, corações e poetas. Oh sim, poetas e suas poesias, com tantas palavras bonitas e tantos arrependimentos em rimas, cada amor é uma estrofe, cada dor uma melodia, é triste, mas há de se convir que mesmo na faceta mais dolorosa o amor continua sendo bonito.

  Ana se enfiou no táxi e encarou o rosto estupefato de Dan ao longe, e sentiu ao mesmo tempo os olhos escuros de Tom a encarar.

 

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