ENTRELAÇADOS

FINAL

Ana sentiu um arrepio percorrer sua espinha ao ver aquele rosto. Por um momento o tempo parou, tudo parou, eram apenas eles.

Ele se aproximou em passos rápidos e a envolveu em seus braços, ela queria o afastar, gritar com ele, fazer qualquer coisa menos enterrar seu rosto no ombro dele em um sinal de derrota.

-Você não pode me deixar, não antes de eu dizer tudo o que quero e nada que você me diga me impedirá de dizer...-Ele disse com a voz abafada.

-Tom...Eu...

-Não, eu não vou deixar você entrar naquele avião, não antes que entenda todas as lacunas. Há alguns meses você entrou na minha vida da forma mais inocente possível, eu achei que quando estava te estendendo a mão era para te ajudar, mas quem recebeu fui eu. Eu me tornei novamente quem eu era antes disso tudo acontecer, antes do acidente, antes de uma parte minha morrer. Eu perdi meus melhores amigos naquele dia. Eu perdi também pessoas que eu amava, e eu tentei de todas as formas possíveis e inimagináveis ser alguém melhor nessa minha medíocre vida. Eu tentei porque me sentia vazio, me sentia miserável, eu preferia ter morrido no lugar deles, preferia que eles estivessem bem e felizes e que fosse eu a enfrentar o fim da linha. Eu preferia não sobreviver a cada dia com uma lacuna em meu coração. Não era só a Mel que eu amava, Jhon era como um irmão e eu o perdi. Mas de todas as minhas perdas a mais difícil é você, se eu estendesse minha mão poderia te tocar, porém eu a afastei, de algum modo você ficou a um precipício de mim. Você é como a luz que invade a manhã, serena, com seus olhos brilhantes consegue derreter um coração machucado e o remendar, você é como uma melodia gostosa de se ouvir, é como minha trilha sonora, é tudo o que preciso. Apenas isso que precisa saber, você é meu tudo.- Tom despejou todas as palavras sem respirar.- Então, apenas não se vá.

Ana o encarou, por longo minutos foi silêncio. Cada palavra martelava em sua cabeça, cada dúvida estava sendo dissolvida pelo ar, cada angústia estava indo embora.

E agora?

-Eu não vou a lugar nenhum.

Tom a abraçou mais forte contra seu corpo.

-Sabe Tomas, para um homem tão inteligente como você, deveria saber que o voo para Tóquio partiu já faz algum tempo, e que eu só estava me despedindo de Dan quando vim para o aeroporto.- Ana estava com um sorriso enquanto uma lágrima de emoção ameaçava cair.

Tom levantou os olhos confusos, quando ele chegou no portão de embarque não raciocinou direito, apenas correu como um louco para encontrar a loira.

-Então, você não vai...?

-Não, quero dizer eu queria muito, mas eu sinto que o cordão deve ser cortado, e os caminhos devem ser seguidos. Não é como se eu nunca mais fosse o ver, certo?- Ana fungou enquanto Tom assentia. –Na verdade, muitas coisas precisavam ser resolvidas aqui dentro antes de te encontrar.- Ela apontou para seu coração.

-E foram resolvidos?

-Bem, em partes sim, você me disse para ir atrás dos meus sonhos, e eu lutei para ser forte, foi um caminho difícil, tortuoso e muito complicado, mas rodei em círculos para entender, doeu sabe? Cada silêncio doeu, cada dúvida, porém se não fosse por você eu não teria ido tão longe. Não creio que sei a resposta certa, nem mesmo sei se existe destino ou coincidência, não sei de muitas coisas mas, sei que te amo. E amar não é suficiente para resolver tudo, não no mundo real.

-E o que é o mundo real?

-Um mundo onde o roteirista da minha vida claramente é muito ruim, um lugar em que as pessoas podem não torcer por nós, um mundo onde não será apenas Dan que não irá nos shippar, um mundo em que não existe final feliz, e em que terão dias dificeis e alguns dias que nos fará ser felizes. Não serão apenas dias de vitória, nem apenas dias de derrota, será apenas uma luta para permanecer vivo mesmo quando sentimos que estamos caindo. Você está preparado?

-Está me pedindo em casamento?

-Não, estou perguntando se realmente quer me ter na sua vida, se realmente quer se desapegar do passado, se está pronto.

Tom riu, se ajoelhou aos pés de Ana e com um gesto teatral tirou uma caixa de veludo do bolso do casaco. Abriu lentamente a caixinha enquanto dava seu melhor sorriso.

-Por você estou pronto para qualquer coisa.

Ana riu e chorou ao mesmo tempo, dessa vez era só de felicidade.

-Então Ana Júlia Ghellar, aceita ser minha namorada para sempre?

Dentro da caixinha estava a gargantilha que Ana viu Tom escondendo a uns meses atrás.

-Para mim?

-Eu hesitei em te dar isso porque fiquei pensando que ia ser estranho.-Tom deu de ombros.

Ela se jogou nos braços dele feliz. Um beijo selou um recomeço. Dessa vez seria da forma certa, dessa vez Ana se sentia preenchida, dessa vez ela estava pronta.

Ele apontou o dedo indicador para o coração dela.

-Alohomora.

-O que?

-Eu vi os sete filmes de Harry Potter para encontrar o feitiço perfeito para te conquistar, depois de chegar a conclusão que no primeiro filme já tinha o feitiço perfeito e de eu querer me jogar. Finalmente, posso tentar abrir seu coração.

Ana riu.