Capítulo 18

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  Ana não esqueceu, fez uma nota mental sobre procurar quem é o ditacujo, olhava as vezes de soslaio para Tom imaginando o que ele estava pensando, difarçar não era uma das habilidades de Ana Júlia. Tom olhava para o gato deitado em seu colo, alisava calmamente o pelo dele.

  -Acho que está ficando tarde...

  -Talvez, mas ainda não sei quase nada de você.

  -Vai me manter em cárcere privado até saber tudo sobre mim Senhorita Ana Júlia?

  -Não! Lógico que não... eu te alimento e deixo dormir com Hope no chão.

  Tom riu, estava se levantando do sofá, o cuidado que estava tendo com o gato era até fofo, senão fosse Hope acordar e reclamar.

  Ana claramente de longe era uma pessoa nem um pouco sutil, sua língua solta á fazia falar e fazer antes de pensar realmente o que estava acontecendo, mas ninguém podia duvidar de sua sinceridade.

  Seus olhos percorreram o apartamento novamente vazio, e então lembrou-se de seu próprio vazio.Foi até o quarto e deitou-se na cama, pegou o livro em cima do criado-mudo e o fitou por longos minutos. Naquele dia em especial Ana desejou muito não ser uma ignorante, para assim poder escrever sobre o que se passa em seu coração.

  Lembrou-se então de Dan falando que se ela quisesse podia fazer o que quisesse, pensou um pouco sobre isso e levantou para pegar um papel e caneta.

  "Uma folha em branco...Talvez ficar sentada por horas diante de uma folha em branco não signifique necessariamente que se tem o que escrever.

   Mesmo que toda a dor que se passa um frágil coração pudesse singelamente ser colocado nesse papel em forma de poesia, que poesia conseguiria fielmente colocar cada batida desse coração em um papel?

  As vezes no silêncio da noite, quando o silêncio parece não sufocar a dor, as vezes nessas noites, penso em como é viver sendo outro alguém. Mas ai me lembro, que se eu não fosse eu, também não existiria você, e o nós se perderia na imensidão da qual as palavras fazem parte.

 Então em meio a devaneios, me sinto perdida, porque de tudo o que se passou, e todas as vezes que foi preciso ouvir a frase "seguir em frente", realmente seguir quer dizer deixar pessoas e sentimentos para trás.

  Se estou pronta? Longe disso, mas por você, digo adeus para uma etapa da minha vida, e sigo sozinha para um futuro incerto no qual não sei se me encaixo."

  Ana olhava bem para o papel á sua frente, e resolveu deixar o tempo passar, resolveu deixar o destino mostrar o caminho correto.

  Ela adormeceu ainda segurando a folha, Hope ao seu lado estava aconchegado em seu braço esquerdo, e ela o apertava como um bicho de pelúcia.

  Acordou relativamente cedo no domingo, seus olhos percorreram o quarto silencioso se detendo na folha meio amassada ao seu lado. Respirou fundo e guardou o papel na gaveta do criado-mudo. Pensou por um momento na semana longa que passou e resolveu que a solução para aquietar sua mente barulhenta era se arrumar e ir ver Tom.

  Ela desconhecia o motivo de se sentir tão segura ao lado dele, ou até mesmo protegida, apenas sabia que se estivesse ao lado dele, tudo e qualquer pensamento triste evapoaria, e essa certeza era a única coisa que importava naquele momento.

  A porta da padaria estava apenas encostada, quando Ana virou a maçaneta a porta se abriu. Ainda em dúvida se devia entrar ou não, deu um passo dentro da padaria hesitante. Soltou a respiração, que até aquele instante não sabia que estava prendendo, quando viu Tom surgir sorridente de dentro.

  -Oi chefinho.

  -Oi Anaju. Você realmente veio né?- Não se parecia exatamente com uma pergunta, talvez uma afirmação ou constatação.

  -Como sabia?

  -Achei que ia querer conversar então deixei a porta aberta.

  Ana assentiu, estava com uma sensação quente percorrendo seu corpo, e por um minuto imaginou como ele sabia que ela ia ver ele. Ficou uns minutos fitando o rosto bonito do homem á sua frente, mas depois de chegar a conclusão que ela era uma mulher previsivel se deixou sorrir e rir.

  -Acertou. E aquele cafézinho maroto que só meu chefinho querido faz?

  -Sente-se.- Tom apontou um banco no balcão e Ana sentou fixando seus olhos em cada movimento do homem.

  Tom estendeu uma xícara junto com alguns biscoitos, e se acomodou ao lado dela.

  -Você é incrivel Tom. - Ana bebericava seu café, Tom se limitou a dar de ombros e um sorriso.

  -Eu sei.

  Eles riram. A manhã deles foi estendida com conversas e risos.

  -Nossa já é meio-dia !- Exclamou Ana olhando o relógio na parede.

  -Partiu almoçar?

  -Sinto que eu deveria me oferecer para cozinhar para você para retribuir o jantar, mas vou ignorar isso e aceito que cozinhe para mim. Vai lá chefe.

  -E eu lá sou pokemon para me jogar em algum lugar?

  -Quase chefinho, se fosse pequeno, colorido e um pouco mais fofo seria um.

  -Só você mesmo criatura.

  -Sim, só eu, e sou eu. Prazer Ana Júlia.-Ela estendeu a mão para Tom com um sorriso divertido.

  Os dois se levantaram aos risos em direção á cozinha.

  -Hoje você será minha ajudante Anaju.

  -Eu não sei fritar nem ovo!

  -Não se preocupe, você vai fritar outra coisa!

  -O que? Meu cerebro?

  -Isso também, e batatas.

  -Tem manual de instrução?

  -Tem eu, serve?

  -Dá para o gasto. -Ana estava prendendo os cabelos loiros em um coque, enquanto Tom vestia um avental. 

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