Dan a abraçou, tentou passar em um simples abraço que nada terminaria ali, que tudo se mantinha mesmo com a distância.
No fundo Ana sabia que ele precisava ir, precisava estar livre de sua obrigação para com ela, precisava se afastar da mãe maldosa e de Eliza, e precisava se descobrir, assim como ela fez, ele precisa enfrentar o mundo por si só.
Mesmo que sua covardia fosse maior do que ela gostava de admitir, entendeu que ele precisava encontrar sua própria jornada.
-Me promete uma coisa Dan?
-O que?
-Que vai dar a oportunidade das pessoas te conhecerem de verdade, você sempre deixou seu melhor para mim e Eliza sofreu por conta disso, promete que vai se abrir para as pessoas?
-Prometo qualquer coisa para você desinchar essa cara vermelha.
Ele apertou as bochechas dela e ela deu um leve tapa na mão dele.
-Idiota.- Ana disse rindo.
-Mas sou um idiota que nunca vem de mãos vazias.- Ele disse levantando a mão e mostrando dois potes de macarrão instantâneo em uma sacola.
-Você com certeza já foi melhor que isso.
Dan riu, não disse mais nada, se limitou a colocar um canecão no fogo com água.
Sabe aqueles momentos em que nenhuma palavra é suficiente para preencher o vazio e só o silêncio traça seu próprio diálogo?
Esse era um desses momentos, aquele momento em que Ana e Dan entravam em um mundo mágico e paralelo, um mundo em que ambos se entendiam mesmo quando não falavam nada, esse era o mundo.
Ana tinha medo de perder isso, tinha medo também de não dar uma chance para seus sentimentos, e as vozes da subconsciência gritavam coisas aleatórias que a confundiam mais ainda.
Deixaria para tomar essa decisão da forma mais irresponsável possível, ou seja no fatídico dia em que ela teria que acompanhar Dan ao aeroporto.
A verdade era que ela queria que esses dias que antecipavam a partida dele passasse da forma mais lenta possível. Isso não aconteceu.
Ela passou todos os dias depois que Dan foi embora de seu apartamento pensando sobre seu futuro, sobre Tomas, sobre ela mesma, e sobre qual seria seu sonho. Com certeza era muito mais dificil descobrir seu sonho agora, ela já estava no auge de seus vinte e quatro anos, logo seria seu aniversário, logo seria a partida de seu melhor amigo, logo ela teria que arrumar coragem para atravessar a porta da padaria novamente e entregar a caixa que estava ao lado de sua cama em cima do criado-mudo.
Havia muito dela mesmo naquela caixa, muito de seus medos e sentimentos, e ela estava se expondo de alma naquela caixa ridiculamente pequena para sua importância.
Perdeu as contas de quantas vezes ela tentou entregar aquela caixa para Tomas, ela sempre chegava até o outro lado da rua, mas se limitava a encarar a padaria a alguns metros consideráveis do lugar. Uma parte de seu coração estava ali, grande parte do seu medo também.
Então assim foram se passando os dias... semanas...
Já havia se passado pouco mais de um mês desde que Dan anunciou sua partida para o Japão, Ana ainda estava se acostumando com a ideia, relutante, mas tentando.
Era por volta das três horas da tarde de uma quinta feira quando a campainha tocou, Ana que estava jogada no sofá pensou em deixar a pessoa tocar a campainha até desistir, mas se lembrou de Dan e levantou mesmo a contragosto.
Não se surpreendeu quando viu Dan ao abrir a porta. Mas se surpreendeu ao vê-lo vestido daquela forma. Ele estava muito bem vestido com um terno de linho, e gravata roxa, por um momento Ana lembrou dele no aeroporto com a placa e se perguntou se ele tinha guardado aquele pedaço de papelão escrito com batom, ela sentiria muita falta dele, e queria guardar todas as coisas possíveis que lembrassem ele. Isso incluia aquela placa que com certeza era a maior prova sobre como os dois tinham sintonia, e como ele sempre sabia quando ela precisava dele. E saber que ele sabia era seu consolo naquele processo de corte do cordão umbilical.
Ela queria guardar tudo de bom que ele deu á ela, ao mesmo tempo queria guardar a certeza de que ele sempre estaria com ela.
Ele a abraçou, e ela apenas afundou sua cabeça no ombro dele com a certeza de que tudo ficaria bem, sem saber exatamente o que esse tudo significava.
-Aninha, está chegando minha hora.
-Eu sei.
-A passagem foi comprada para hoje a noite.
-Por que hoje?
-Não quero te dar tempo o suficiente para me fazer desistir. Você tem que ir atrás do que quer, e nesse momento o que mais quero e provar a mim e a qualquer pessoa desse mundo que sou capaz. Faça isso também pequena.
Ana balançou a cabeça segurando para não chorar.
-Eu só passei aqui para te avisar sobre o voo, to indo para arrumar minhas coisas, te vejo mais tarde.
Ana ficou parada encarando o rosto bonito e jovem de Dan ainda sem saber o que pensar. Ele se virou para sair pela porta ainda entreaberta mas voltou o olhar para ela.
-Eu já estava quase me esquecendo, o voo é as onze da noite, não se atrase.- Dizendo isso Dan atravessou a porta sumindo do campo de visão de Ana.
Ela estava virando a chave para trancar a porta quando a campainha tocou novamente. Ela abriu a porta pensando se Dan tinha esquecido de algo, mas tal qual não foi sua surpresa ao se deparar com aquele rosto conhecido e que ela não via já fazia uns meses...
-*****
E o fim está chegando, ainda estou me acostumando com a despedida. É como mandar um filho pra faculdade (oi?)
É isso, daqui a pouco é hora de dizer adeus :)
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ENTRELAÇADOS
RomanceAna Júlia, Aninha ou apenas Anaju,uma mesma mulher em muitas formas. Aos 17 anos sua vida mudou drasticamente com o acidente que matou seus pais. E sua esperança. Aos vinte quatro anos sua vida caminhava da forma mais confusa possível, sua camin...