Será Única

Capítulo 10

- Como não me contou antes, Roni? – Indaguei assim que me joguei na cadeira que ficava de frente a sua mesa. Havia chegado bem cedo na ONG para uma conversa com o meu amigo. Sabia que ele madrugava e precisava tirar aquele assunto a limpo. Ele me olhava assustado e amuado.

Havia chegado à minha casa na noite anterior e me jogado, literalmente, em minha cama pensativa. Como fui me envolver com um cara que tem envolvimento na politica. Eu que sempre repudiei o governo estava agora saindo com um filho de senador. Pior, como eu nunca soube disso? Como eu não li, vi, ouvi algo sobre. Por que dele nunca ter me falado? Claro, era só mais uma para sua lista. Assim que enjoasse, se jogaria fora. Peguei meu notebook e o pesquisei, encontrando varias matérias em tabloides, como também, na politica, falando sobre a família Borges, aonde continha poucas fotos da família toda reunida. O Senhor Mathias Borges, sempre bem vestido e aparência jovial, sempre ao lado de sua esposa. Larissa lembrava muito ela, já Miguel seu pai. Li algumas manchetes sobre supostas brigas entre pai e filho. Sobre Miguel, ele sempre em festa badalada, também com algumas mulheres conhecidas: modelos, apresentadora, atrizes e cantoras. Sempre tão mulherengo. Não se achava muito dele, mas em sites de relacionamentos, havia fotos dele em fanpages especificas. Eu fiquei abismada com tamanho conhecimento que ele poderia ter e eu não fazia a menor ideia. Sentia-me enganada nessa bagunça. Decidi que começaria a semana desmascarando e o afastando de mim.

- Eu pensei que você sabia Aline. – Disse cauteloso e rolei os olhos. – Sério linda. Eu não sabia que você estava no escuro nessa relação. – Eu sabia que estava sendo sincero, mas eu estava com muita raiva.

- Não houve, não há e não haverá relação entre mim e o Miguel. – Disse firme e o Roni fez uma careta. – Nunca te pedi nada nessa ONG, mas hoje eu te imploro para que o tire de minha equipe. – Ele ia argumentar algo, mas fui mais rápido. – Ou eu sairei. – Disse saindo da sala.

Tinha a manhã livre, então comecei a avaliar as fichas dos meus pacientes. Estava lendo uma por uma, assim tirava da cabeça toda aquela confusão que o Miguel fez em minha mente. Estava vendo o relatório de uma mulher que era agredida pelo marido há quinze anos e na ultima consulta, me relatou que o denunciou e agora morava com seu irmão e cunhada quando a minha porta foi escancarada e um Miguel furioso adentrava com a recepcionista logo atrás desesperada.

- Me desculpa Aline. Mas ele nem perguntou nada, veio direto. – A voz da nova recepcionista estava chorosa e eu suspirei, assentindo e indicando para ela sair.

- Que porra é essa que está fazendo com a gente, Aline? – Perguntou furioso e eu o olhava. Não queria dar para trás, não agora. Acho que o pouco de tempo que convivemos eu criei um vinculo, querendo ou não, ele me deu tudo o que eu precisava e negava a ter: Carinho e atenção. Mas ele não passava de um mentiroso... De um lindo, um Lindo Mentiroso. – Já falei, eu não tenho ligação nenhuma com o meu pai, sou independente, tenho meu trabalho. Não vivo da sombra dele. – Seu desespero era eminente, mas não cederia.

- Você mentiu me enganou. Deve ter rido demais de uma reles plebeia que caiu nos seus encantos. – Soei irônica e ele me olhava pasmo.

- Está louca? Nunca falamos de nossas famílias, você mesma nunca comentou. – Ele disse uma verdade. – Éramos só nós: eu e você. – Sua voz estava mais calma, mas seus olhos transbordavam desespero.

- Miguel, não! – Exclamei quando ele se aproximava. – Que se iniciou já acabou eu não quero mais. – Disse firme, mas estranhamente, meu interior me chamava de burra e hipócrita, mandava eu me silenciar.