Capítulo 28

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Percebi que Miguel esteve tenso durante toda a noite. Ele se virou na cama muitas vezes e olhou o celular. Ele estava preocupado com o Pedro Henrique e confesso que eu também. Percebi que ele foi dormi com o dia para nascer e arrisco em dizer que eu cochilei e levantei as sete. Estávamos em minha casa, então comecei a arrumar todos os cantos que não incluísse o quarto. Eram oito e meia quando liguei para uma pessoa conhecida da comunidade e que era vizinha do Pedro Henrique. Ela me disse que os pais não teriam aparecido em casa e então o garoto estava em sua casa. Informei que a assistente chegaria lá por volta das dez, mesmo sendo sábado.

Preparei o café, coloquei torradas e geleia na mesa. Miguel gostava de preparar seu próprio sanduiche cheio de incrementarão e então deixei as coisas a vista dele. Preparei suco de laranja e quando me sentava, ele apareceu com a cara amassada, vestido apenas um short do pijama caindo em seu quadril. Seu cabelo estava maior e bagunçado. Ele beijou minha cabeça e se sentou ao meu lado, colocando uma xícara de café.

- Dormi nada essa noite. - Admitiu após um gole.

- Eu vi, também não dormi nada. - Disse e bebi meu suco, ele me olhava.

- Sabe de algo? - Indagou e sabia do que se referia.

- Ele está na casa de uma vizinha que me informou que os pais não apareceram. - Eu respondi.

- Será que eles sabem da visita? - Perguntou.

- Creio que não, são irresponsáveis e essa não deve ser a primeira vez que o deixa sozinho. - Miguel assentiu.

- Eu vou lá ver como estão as coisas. - Ele disse pensativo.

- Vou com você. - Ele sorrio para mim.

Acabamos café e tomamos banho junto, que segundo Miguel, era para economizar tempo e água. Porem durou quase uma hora aquele banho. Saímos da minha casa, após eu arrumar minha bolsa para ficar com ele em sua casa e deixar tudo trancado. O caminho até a ONG foi em silêncio, assim que chegamos, direcionamos para a vizinha do Pedro Henrique e ele estava conversando com a assistente. Esperamos e quando acabou a conversa, Miguel foi falar com ela e eu com o menino.

- Como foi sua noite? - Perguntei após abraça-lo.

- Foi boa, a tia me deu nescal quente e eu gosto muito. - Ele disse tranquilo.

- Sua mãe não faz? - Perguntei querendo saber mais dele.

- Ela manda eu beber o leite da geladeira e muitas vezes está ruim. - Faz uma careta.

- Você conversou com aquela moça? - Perguntei apontando para a assistente social e ele olhou, depois voltou a mim.

- Sim, ela é calma e eu contei o que acontece na minha casa. - Ele disse com uma voz fraca. - Eu amo minha mãe e meu pai, mas eles não gostam de mim. - Sua voz era triste. - O pai diz que a mãe deveria ter me matado quando soube que eu viria. - Meus olhos encheram de lágrimas ao imaginar o sofrimento desse menino. E, sem perceber, eu queria cuidar dele. Queria poder dá-lo o que tive com meu pai, queria dar o carinho que ele não teve e sempre quis.

- Tudo bem? - Miguel se sentou ao meu lado na escadinha enfrente a cadeira do Pedro. O garoto estava entretido num jogo de montagem no cubo e não reparou-o.

- Sim, e as notícias? - Perguntei esperançosa.

- Ela irá leva-los a um abrigo até conseguir contato com algum familiar dele. - Ele disse e olhei para Pedrinho que ainda brincava. - Primeiro ele será levado para fazer exames e depois ela levará. Seus pais estão com um mandato para depor. - Olhei para o Miguel e ele percebeu meu olhar triste e cheio de lágrimas. - Vai dar tudo certo linda. - Ele abraçou meu ombro e beijou minha cabeça.

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