Será Única

Capítulo 03

Estranho seria se eu não me apaixonasse por você. Respira fundo, Aline. Isso é para detonar seu sábado logo pelas oito da manhã de um dia lindo de sol. Respirei, respirei e respirei mais. Sai do aplicativo whatsapp para não acabar com a vida do Miguel. Primeiro, de onde esse dito cujo conseguiu meu numero? Mas não precisa ser um gênio. Roni abobado com sua amizade de infância ressurgindo das cinzas quer dar uma de camarada e com certeza concedeu meu precioso numero, que nem os caras da balada consegue porque dou sempre errado, para esse problema em pessoa. Não sei se paro de ser amiga do Roni, dou uma dura nele, ou coloco detergente em seu café. Estou tentada com as três ideias, mas vou relevar. Minha alma está tranquila e em paz. Vou ao mercado, fazer uma comprinha básica, sei que minha amiga vai se mandar para minha casa após ter seu sono dos justos e dizer com foi sua madrugada com traíra.

Itens de limpeza e higiene pessoal estão tudo certo. Mantimentos essenciais para a sobrevivência, tudo certo. Fruta e legumes, tranquilo e favorável. Sucos e frios, na mais correta certeza. Frangos e carnes se posicionam no carrinho. Sorrio ao ver minha organização no carrinho de mercado e caminho feliz para sessão de doces. Meu sorriso é tão grande que tenho medo de congelar. Vejo meu biscoito preferido, piraque de chocolate e pego logo uns dez com toda alegria no seu canto reservado, quando viro para procura minhas batatinhas, dou de cara com algo que parece concreto e solto um gemido de insatisfação misturado com uma dorzinha filha da mãe na testa. Algo a machucou. Respiro algo que venho fazendo ultimamente em grande escala, e levanto o rosto e lá está o maldito sorriso com dentes enfileirados bem brancos e olhos penetrantes azuis como o céu lá fora. Prendo o ar, seu cheiro é uma perdição. Tento raciocinar e voltar meu foco. O brutamonte sorri com satisfação, que tal eu dar um murro nele? Não, acho que perderia meus dedos. Tento desviar, ignorando, porem ele segura meus ombros e me encara.

- É feio não cumprimentar os conhecidos. – Ele se fingiu de ofendido e eu rolei os olhos.

- Bom dia, Miguel. O meu foi bom até uns minutos atrás, agora me deixa terminar minha compras? – Disse com um sorriso falso no rosto e ele negou com a cabeça.

- Ironia infantil não combina com você, morena. – Ele pontuou e mordi os lábios. Realmente eu estava sendo bem infantil em relação a ele. Era involuntário, mas não queria dar espaço para ele se achar mais do que já fazia. – Foi ótimo eu te encontrar aqui, tem duvida de qual tipo de carne você gosta. – Sua seriedade me espantou.

- Não sou fã de carne, prefiro frango ou peixe. Mas carne só ser for um bife bem passado e acebolado. – Tagarelei e ele sorri, só então me dei conta do que fazia.

- Ótimo frango xadrez com legumes. – Afirmou contente com sua descoberta e me soltou.

- Oi? – Confusa e ele olhou para mim enquanto caminhava.

- Te pego às sete e meia para um jantar comigo. – Piscou.

- Não sabe meu endereço, mesmo. – Resmunguei enquanto ele se afastava.

- Sei sim, morena. Sei de muita coisa. – Virei par o olhar e ele ainda andava. Bufei claro que ele saberia. Com um amigo como o Roni, quem precisaria de inimigo?

...

Eu não teria para aonde correr, certo? Ou eu não queria e estava inventando isso? Sentei na cama perdida. Estava com uma saia preta estampada que tinha babado na ponta e uma camisa branca de alça fina de seda e cabelos soltos, um make bem básico refletindo sobre a burrada que estava preste a fazer. Miguel me convocou para um jantar, qual eu não tive oportunidade para opinar e daqui a dez minutos estaria tocando a companhia. Para não gerar problemas, pensando eu, me arrumei e o espero. Mas isso é o certo? Não estou sendo irracional. Deixá-lo levar essa historia? Eu que sempre fui dona da situação, agora estou aqui a mercê de um cara bonitão, gato, sarado e com olhos hipnotizantes. Opa acho que estou ficando meio louca. Eu vou nesse jantar, mas não vou entregar o jogo. O poder ainda é meu e é minha chance saber onde estou entrando.